AGRICULTURA & PECUÁRIA
Soja: MP 1227 desorganizou o mercado e vendas do Brasil, na semana, mal se aproximaram de 500 mil t
Ao mesmo em que a semana foi bastante agitada entre as notícias para os mercados brasileiros de grãos, foi também negativa em termos de preços e negócios, em especial por conta das mudanças trazidas ao PIS/Cofins. A mudança na utilização dos créditos gerados pelo pagamento dos tributos pela Medida Provisória 1.227/24 provocou uma série de incertezas e inseguranças entre as empresas compradoras de grãos, as quais se retriraram do mercado e esfriaram bastante os negócios. As notícias, inclusive, motivaram altas intensas tanto da soja, quanto do milho na Bolsa de Chicago no pregão desta quinta-feira (6), uma vez que colocaram em xeque a competitividade do Brasil enquanto exportador.
Assim, segundo o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, as vendas de soja no mercado brasileiro nesta semana não chegaram a alcançar as 500 mil toneladas, em um período em que seria normal a negociação de algo como 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas da oleaginosa.
“Foram bem poucos negócios registrados. Algumas empresas voltaram ao mercado nesta sexta-feira (depois da paralisação dos últimos dias), mas se avançou pouco”, disse o consultor. E ele ainda explicou que os produtores venderam bem em maio, conseguiram – e aproveitaram – preços melhores e agora optam por se restringir um pouco mais, aguardando para voltar a comercializar mais a frente.
Nesta semana, porém, Brandalizze já havia alertado sobre um cenário de oportunidades mais ecassas de boas vendas, com preços melhores, daqui em diante. “O mercado em Chicago dá sinais de que vai trabalhar mais pressionado”, diz. Somente nesta sexta, os futuros da oleaginosa perderam entre 10,50 e 22,50 pontos, com o julho cotado a US$ 11,77 e o novembro – referência para a safra americana – com US$ 11,56 por bushel.
No acumulado semanal, em relação à última sexta-feira (31), os preços da commodity perderam mais de 2% nas posições mais negociadas, com baixa de 2,32% no julho e de 2,36% no novembro. Ao mesmo tempo, o dólar continua a ser o principal pilar de suporte para as cotações, tendo acumulado uma alta de 1,15% no mesmo período, voltando a orbitar na esfera dos R$ 5,30.
Há suporte também dos prêmios, mas sem grandes novidades. Os próximos meses garantem ainda indicativos positivos, com o junho em 10 cents de dólar da perspectiva do comprador e 30 na do vendedor; julho com, respectivamente, 15 e 45 centavos de dólar e o agosto com 30 e 60.
A demanda que vinha concentrada aqui no Brasil olhou para outras origens também nesta semana, com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) tendo, inclusive, informado uma nova venda de soja 2023/24 para a China nesta sexta. Foram 104 mil toneladas.
Internamente, a demanda também sentiu o impacto das mudanças no PIS/Cofins. Afinal, “para o processamento no Brasil o quadro é mais incerto do que o clima em Curitiba. A MP já está valendo, portanto, as crushers devem tirar do cálculo da margem esse ganho – o valor de 2,5% sobre a receita do farelo e óleo”, afirma o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. “No entanto, com todos com quem conversou, o comentário é parecido, de que a MP não para em pé. Isso quer dizer que o Congresso pode, simplesmente, revogar a MP”.
Ainda assim, Vanin afirma que “em resumo, o Brasil dará mais espaço para a Argentina e os EUA no milho e, na soja, eu diria que vai acabar prejudicando o processamento, sobrando mais grão para a exportação. Eu estava trabalhando com processamento de 54,5 milhões de toneladas e exportação de 93,5 milhões. Se a MP “parar de pé”, eu diriai que podemos ver um esmagamento de 52 milhões e exportação de mais de 95 milhões, o que, no final, será mais um balde de água fria para os futuros”.