Esporte
Pesquisa aponta escala de produção de conteúdo sobre o futebol americano jogado no Brasil
O pesquisador de scouting Filipi Junio realizou um levantamento sobre a produção de conteúdo sobre os jogos disputados no Brasil de 2009 até 2019 pelos canais de comunicação, sejam blogs e sites nicho especializado ou o main stream, mais conteúdos produzidos pelos próprios programas de futebol americano. O documento Painel do FABR é dedicado ao agrupamento de dados histórico dos pontuadores de cada um dos eventos realizados no País e tomou oito meses para ficar pronto.
Saiba como foi a temporada 2019 do BFA
De acordo com Junio, a pesquisa tomou como ponto de partida os dados coletados por Haim Ferreira, do FABR Network, e a equipe do Salão Oval, onde foi possível desenvolver uma planilha com os jogos oficiais desde 2009. A metodologia do trabalho partiu por duas buscas: conteúdos audiovisuais completos e textos que dessem um uma visão detalhada das partidas.
— Realizar pesquisas complexas é o que faço de melhor. Sou bibliotecário jurídico e estou a uma década auxiliando advogados em pesquisas de doutrinas e jurisprudências, o que me fez desenvolver um método de pesquisa bem eficaz. Mas a experiência não tornou minha tarefa mais simples. Pela primeira vez sabemos que tipo de informação existe sobre cada jogo realizado no país. É o pontapé inicial para um projeto que visa preservar a história do esporte no País — contou Junio.
Para tratar do assunto de forma embasada, o bibliotecário definiu critérios específicos para organizar os dados.
— O foco da pesquisa era encontrar imagens e textos que pudessem dar uma noção de como foi determinada partida, mas não era qualquer vídeo ou texto que levei em consideração. O critério dos vídeos é mais fácil de explicar: peguei todos os compactos, jogos completos e melhores momentos disponíveis no YouTube e Facebook. Os compactos não eram comuns antes de 2012, quando passou a ser obrigatório na edição daquele ano do Campeonato Brasileiro de Futebol Americano organizado pela extinta AFAB. As transmissões ao vivo também não eram comuns, já que precisavam de infraestruturas muito mais complexas que as atuais. Highligths de atletas, vídeos promocionais e trechos desconexos foram desconsiderados. O critério para selecionar textos é mais subjetivo, mas vou dar um exemplo para explicar meu ponto de vista. João Pessoa Espectros e Bulls Potiguares jogaram no dia 15 de setembro de 2019. O Espectros venceu por 65 a 7 e algumas matérias foram escritas sobre, sendo que separei duas. A primeira foi publicada pelo Globo Esporte, veículo não especializado, e a segunda pelo Salão Oval, veículo especializado. A primeira conta com 799 caracteres e não detalha bem como foram as pontuações e que as fez. A segunda conta com 2.525 caracteres e detalha cada pontuação da partida. O padrão que adotei é bem próximo ao do Salão Oval, mas como nem todos dominam o assunto, aceitei textos que descrevem a partida com menos detalhes, mas não ao ponto de ser superficial como o primeiro exemplo. Foi muito comum encontrar play-by-plays ou pequenas notas informando os pontuadores e como eles pontuaram. Considerei essas informações válidas para a pesquisa, já que, mesmo sem muitos detalhes, falam muito sobre a partida e são muito relevantes para futuras estatísticas — explicou.
Ao todo foram catalogados 3671 jogos disputados. Este número poderia ser um pouco maior, uma vez que estão excluídos os 91 eventos decretados como walkovers. Junio utilizou um roteiro apra ranquear a produção. A pesquisa tem como ponto de partida os sites especializados como o Futebol Americano Brasil, que conta com mais de 2.5 mil publicações sobre o tema, depois passa por uma busca pelo Google, site de notícias da região das equipes, páginas dos times e federações no Facebook, perfis no Twitter e vídeo dos jogos no YouTube.
As dificuldades encontradas
Segundo Junio, a falta de continuidade de sites de nicho criou obstáculos para documentação dos registros históricos. Espaços como: 10 Jardas, 11 Jardas, 100 Jardas, Bola Oval, FA Gaúcho, FABR Network, Junior Martins, Portal Punt, Sideline Brasil, Snap, Sportvc, Tackle Box e Touchdown JC tiveram seus conteúdos apagados. Ou até mesmo sites de programas como: Curitiba Brown Spiders, Corinthians Steamrollers, Coritiba Crocodiles, Curitiba Hurricanes, São José Istepôs, Joinville Gladiators, São Paulo Storm e São Paulo Spartans. Da mesma forma como as instituições AFAB, FCFA, FPFA, LAFA, LBFA, LPFA e Torneio Touchdown.
— A discussão sobre a preservação digital é muito ampla, mas para nosso contexto, apagar um site é sumir com um pedaço da história, que em muitos casos nunca será recuperado. Entendo que não é barato manter um site ativo, os custos de hospedagem e domínio não são pequenos, mas existem formas gratuitas de manter um conteúdo disponível na internet. Não quero julgar quem decidiu encerrar seu projeto e abandonar todo seu conteúdo, mas bastavam alguns minutos para baixar um backup e fazer o upload em plataformas como Blogspot e WordPress. Isso seria o suficiente para vários capítulos da história de um esporte não fossem apagados — elucidou.
Outro problema foi a pesquisa pelos conteúdos audiovisuais no YouTube.
— Ao longo da pesquisa descobri que diversas transmissões ao vivo tinham se perdido, na maioria dos casos após a descontinuidade dos serviços de streaming utilizados, vários estão bloqueados no YouTube por infringirem direitos autorais (por música) ou foram excluídas junto com as contas que fizeram seu upload — disse.
Questões de gerenciamento de conteúdo audiovisual também atrapalharam as buscas.
— A FCFA é uma das federações mais antigas do país e sempre foi conhecida pela qualidade da sua cobertura dos jogos, mas seus torneios Catarinense e Copa Sul estão entre os que menos possuem vídeos disponíveis, respectivamente, 32% e 47% dos jogos, que estão concentrados nos canais do Overtime do FA, Logan Ctba, Salão Oval e dos times — contou.
Os resultados obtidos
Com base nos parâmetros estabelecidos na pesquisa, dos 3.671 jogos catalogados, 2.966 ou 81% do total, continham algum tipo de informação disponível. Os produtores de conteúdo concentram a maior parte da atenção em competições de nível nacional, que chegou a marca de 94% dos eventos com algum dado. Estaduais seguem na segunda posição com 71% e regionais com 66%.
— Vale destacar a BFA Elite, Gaúcho, Torneio Touchdown, Liga Nacional, Superliga Nacional, Paranaense, SPFL e Copa Sul, torneios com mais de 100 jogos e com médias superiores a 90%. Da mesma forma, cabe destacar negativamente a Taça 9 de Julho, Super Copa SP e Amazonense, torneios tradicionais e com médias inferiores a 70% — apontou Junio.
Produção por competição | |||
Competição | Jogos | Dados | % |
BFA Feminino | 13 | 13 | 100 |
BFA Norte | 15 | 15 | 100 |
Campeonato Brasileiro Feminino | 15 | 15 | 100 |
Copa do Brasil Feminino | 10 | 10 | 100 |
Copa Integração | 8 | 8 | 100 |
Copa Nordeste | 9 | 9 | 100 |
Copa RS | 27 | 27 | 100 |
Paranaense Feminino | 7 | 7 | 100 |
Pernambucano | 14 | 14 | 100 |
Potiguar | 2 | 2 | 100 |
Taça das Cidades | 2 | 2 | 100 |
Taça Pernambuco | 4 | 4 | 100 |
BFA Elite | 304 | 303 | 99.7 |
BFA Acesso | 80 | 79 | 98.8 |
Gaúcho | 123 | 119 | 96.7 |
Torneio Touchdown | 363 | 350 | 96.4 |
Liga Nacional | 343 | 326 | 95 |
Liga Brasileira | 88 | 83 | 94.3 |
Superliga Nacional | 203 | 190 | 93.6 |
Paranaense | 245 | 229 | 93.5 |
SPFL Diamante | 122 | 114 | 93.4 |
Copa Sul | 118 | 108 | 91.5 |
Copa Minas | 9 | 8 | 88.9 |
Mineiro | 45 | 40 | 88.9 |
Copa Norte | 7 | 6 | 85.7 |
Mato-grossense | 33 | 27 | 81.8 |
Campeonato Brasileiro | 206 | 166 | 80.6 |
Copa Ouro | 25 | 20 | 80 |
Candango | 29 | 23 | 79.3 |
Carioca | 14 | 11 | 78.6 |
SPFL Ouro | 18 | 14 | 77.8 |
Copa Fronteira | 25 | 19 | 76 |
Paraense | 48 | 35 | 72.9 |
Catarinense | 219 | 159 | 72.6 |
Liffa | 45 | 28 | 62.2 |
Copa Mogiana | 34 | 21 | 61.8 |
Taça 9 de Julho | 169 | 104 | 61.5 |
Copa SC | 7 | 4 | 57.1 |
Torneio EndZone | 15 | 8 | 53.3 |
Pick Six Cup | 65 | 33 | 50.8 |
Freedom Four | 20 | 10 | 50 |
Copa SP | 246 | 117 | 47.6 |
Paulista | 76 | 28 | 36.8 |
Liga Nordestina | 17 | 6 | 35.3 |
Amazonense | 105 | 37 | 35.2 |
Copa Anhanguera | 13 | 4 | 30.8 |
Capixaba | 21 | 6 | 28.6 |
Sul-mato-grossense | 7 | 1 | 14.3 |
Taça São Paulo | 1 | 1 | 14.3 |
Torneio Velho Chico | 15 | 2 | 13.3 |
Copa Central | 6 | 0 | 0 |
Taça Rio | 10 | 0 | 0 |
Por outro lado, a produção e cobertura dos eventos no Brasil segue em crescimento desde 2009. No primeiro ano de duelos full pads/tackle, apenas 59% dos jogos tiveram algum tipo de conteúdo. Em 2019, a marca alcançada foi de 95%. O ponto fora da curva é a temporada de 2014 com 67% de produção de conteúdo, sendo que do total de jogos sem cobertura (117), 75% aconteceram somente no estado de São Paulo.
— Como explicado lá no começo, não encontrei apenas matérias completas sobre as partidas, em alguns casos a junção de um compacto com o scoreboards foi considerado o suficiente para construir a história do jogo — disse.
Se a produção de conteúdo foi ampliada ao logo dos anos, a especialização sobre o assunto também foi aumentada. O Futebol Americano Brasil lidera o ranking de canais com informações mais relevantes e matérias mais completas na cobertura dos jogos.
Produção por canais | |
Sites | Informações relevantes |
Futebol Americano Brasil | 812 |
Salão Oval | 422 |
Torneio Touchdown | 269 |
FA Paranaense | 183 |
Touchdown | 164 |
Overtime do FA | 124 |
Primeira Descida | 94 |
LBFA | 54 |
Esporte Sul | 45 |
11 Jardas | 43 |
10 Jardas | 30 |
FPFA | 28 |
Big Hit Consultoria | 27 |
Sideline Brasil | 26 |
FGFA | 24 |
The Playoffs | 23 |
Esporte Jundiaí | 22 |
Para o olhar dos produtores ser maior, a parceria com os programas de futebol americano deve ser fundamental. As equipes necessitam enviar dados ou publicá-los em seus próprios canais para informar os fãs. Junio elencou os 50 times que se destacam neste quesito. O critério utilizado é que o programa tenha ao menos 30 confrontos em sua história, número considerado o ponto de corte do Mapa do FABR.
Produção por programa | ||
Competição | Jogos | % |
Vasco Almirantes | 85 | 100 |
Juventude | 63 | 100 |
Curitiba Guardian Saints | 60 | 100 |
Ceará Caçadores | 44 | 100 |
Ponte Preta Gorilas | 37 | 100 |
Canoas Bulls | 60 | 98 |
Bento Gonçalves Snakes | 32 | 97 |
Rondonópolis Hawks | 31 | 97 |
Paraná HP | 84 | 96 |
Tubarões do Cerrado | 79 | 96 |
Santa Maria Soldiers | 79 | 96 |
Porto Alegre Pumpkins | 79 | 96 |
Galo Futebol Americano | 48 | 96 |
Ufersa Petroleiros | 46 | 96 |
Curitiba Brown Spiders | 130 | 95 |
João Pessoa Espectros | 80 | 95 |
Coritiba Crocodiles | 151 | 95 |
Santa Cruz Chacais | 55 | 94 |
Sinop Coyotes | 54 | 94 |
Cuiabá Arsenal | 93 | 94 |
Santa Cruz Pirates | 59 | 93 |
Maringá Pyros | 44 | 93 |
Recife Mariners | 68 | 93 |
Gaspar Black Hawks | 54 | 93 |
América Locomotiva | 78 | 92 |
Ipatinga Tigres | 35 | 91 |
Foz do Iguaçu Black Sharks | 103 | 91 |
Sorriso Hornets | 45 | 91 |
Flamengo Imperadores | 88 | 91 |
Brasília Leões de Judá | 42 | 90 |
Francisco Beltrão Red Feet | 31 | 90 |
Corupá Buffalos | 83 | 89 |
Ijuí Drones | 46 | 89 |
Vila Velha Tritões | 88 | 89 |
Bulls Potiguares | 58 | 88 |
Brasília V8 | 47 | 87 |
Uberlândia Lobos | 54 | 87 |
Cavalaria 2 de Julho | 46 | 87 |
Belém Vingadores | 38 | 87 |
Campo Grande Predadores | 30 | 87 |
Timbó Rex | 132 | 86 |
Jaraguá Breakers | 94 | 86 |
Criciúma Miners | 50 | 86 |
São Paulo Storm | 129 | 85 |
Portuguesa Futebol Americano | 80 | 85 |
Macaé Oilers | 31 | 84 |
Santos Tsunami | 73 | 84 |
Joinville Gladiators | 102 | 83 |
Corinthians Steamrollers | 142 | 82 |
São José Istepôs | 137 | 81 |
Rio Preto Weilers | 79 | 81 |