Saúde
Depressão é subdividida em seis tipos, cada um com um tratamento diferente
Quais são os tipos de depressão?
Num futuro não muito distante, uma avaliação de rastreio da depressão poderá incluir uma rápida tomografia cerebral para identificar o melhor tratamento para cada paciente.
Esta é uma excelente notícia quando se leva em conta as denúncias de que os estudos científicos sobre os antidepressivos têm vieses e até resultados invertidos, sem contar os inúmeros efeitos adversos dos antidepressivos e o fato de já se saber que a depressão tem subtipos que não respondem aos antidepressivos.
Agora, Leonardo Tozzi e colegas da Universidade de Stanford (EUA) usaram técnicas avançadas de imageamento cerebral e inteligência artificial para analisar os dados cerebrais de 801 pacientes com depressão grave, já sendo medicados, e descobriram que a depressão pode ser subdividida em seis tipos diferentes.
Apesar de haver inúmeros antidepressivos aprovados pelas autoridades de saúde, os medicamentos disponíveis não conseguem reverter totalmente os sintomas para níveis saudáveis em até dois terços (66%) dos pacientes com depressão. Além disso, cerca de 30% dos pacientes com depressão têm o que é conhecido como depressão resistente ao tratamento, o que significa que vários tipos de medicamentos ou terapia não conseguiram melhorar os sintomas.
Hoje, os medicamentos são prescritos através de um método de tentativa e erro, o que pode levar meses ou anos para descobrir se algum medicamento vai funcionar para cada paciente – e isso comumente pode nunca acontecer. E passar tanto tempo tentando tratamento após tratamento, apenas para não sentir alívio, pode piorar os sintomas de depressão.
“O objetivo do nosso trabalho é descobrir como podemos acertar na primeira vez,” disse a Dra. Leanne Williams. “É muito frustrante estar no campo da depressão e não ter uma alternativa melhor para esta abordagem ‘um tamanho serve para todos’.”
Sumário das características clínicas que distinguem cada biotipo.
Quais são os seis tipos de depressão
Em seus testes e análises, os pesquisadores primeiro identificaram os circuitos neurais envolvidos na depressão de cada paciente:
- D: Modo padrão
- S: Saliência
- A: Atenção
- NS: Circuito de afeto negativo evocado por estímulos tristes
- NTC: Circuito de afeto negativo evocado por estímulos de ameaça consciente
- NTN: Circuito de afeto negativo evocado por estímulos de ameaça inconscientes
- P: Circuito de afeto positivo
- C: Circuito cognitivo
As análises então permitiram identificar várias categorias, caracterizando seis subtipos, ou “biotipos”, de depressão:
- Biotipo D+S+A: Caracterizado por hiperconectividade de circuito livre de tarefas, respostas comportamentais mais lentas na identificação de rostos tristes, mais erros em uma tarefa de função executiva, menos erros em uma tarefa de controle cognitivo, respostas mais lentas a estímulos alvo em uma tarefa de atenção sustentada.
- Biotipo A: Caracterizado por hipoconectividade do circuito de atenção livre de tarefas, tensão relativamente menos severa, mas também diferenciado por descontrole cognitivo relativamente menor.
- Biotipo NS+P: Caracterizado pela hiperativação do circuito durante o processamento consciente das emoções, anedonia mais grave e meditação ruminativa.
- Biotipo C: Caracterizado por maior atividade dentro do circuito de controle cognitivo, anedonia mais grave do que outros biotipos, maior excitação ansiosa, mais preconceito negativo e mais desregulação ante ameaças.
- Biotipo NTC+C: Caracterizado pela perda de conectividade funcional dentro do circuito de afeto negativo durante o processamento consciente de rostos ameaçadores, bem como pela redução da atividade dentro do circuito de controle cognitivo, menor reflexão ruminativa, bem como tempos de reação mais rápidos a rostos tristes implícitos.
- Biotipo D+S+A+NPC: Este biotipo não foi diferenciado por uma disfunção de circuito proeminente em relação aos outros biotipos ou à norma saudável, mas foi caracterizado por tempos de reação mais lentos às ameaças implícitas.
Frequência de diagnósticos entre biotipos.
Tratamentos diferentes para cada tipo de depressão
A equipe também fez alguns testes com 250 participantes, que foram divididos entre grupos que receberam um dos três antidepressivos mais comumente usados ou psicoterapia comportamental.
Pacientes com um subtipo, caracterizado por hiperatividade nas regiões cognitivas do cérebro, apresentaram a melhor resposta ao antidepressivo venlafaxina (comumente conhecido como Effexor) em comparação com aqueles que têm outros biotipos. Aqueles com outro subtipo, cujos cérebros em repouso apresentavam níveis mais elevados de atividade entre três regiões associadas à depressão e à resolução de problemas, tiveram melhor alívio dos sintomas com a psicoterapia comportamental. E aqueles com um terceiro subtipo, que tinham níveis mais baixos de atividade em repouso no circuito cerebral que controla a atenção, tiveram menos probabilidade de apresentar melhoria dos sintomas com a psicoterapia do que aqueles com outros biotipos.
“Até onde sabemos, esta é a primeira vez que conseguimos demonstrar que a depressão pode ser explicada por diferentes perturbações no funcionamento do cérebro,” disse Williams. “Em essência, é uma demonstração de uma abordagem de medicina personalizada para a saúde mental baseada em medidas objetivas da função cerebral.”