Internacional
Após visita, coordenadora humanitária em Gaza relata sofrimento de mães e crianças
Sigrid Kaag visitou maternidade móvel e hospitais que abrigam crianças em condições severas e crônicas; ela afirmou que nível de destruição no enclave é “incompreensível”; em Nova Iorque, representante da ONU descreveu progressos para facilitar entrada de ajuda e preparação para um aguardado cessar-fogo
A coordenadora sênior de reconstrução e ajuda humanitária da ONU em Gaza disse nesta segunda-feira que seu propósito político é “criar uma perspectiva de esperança, onde a dignidade humana possa ser restaurada”.
Falando da Jordânia, Sigrid Kaag, que acaba de retornar de mais uma visita à Gaza, afirmou que a situação no enclave continua “absolutamente catastrófica”, com inúmeros impactos e traumas nas vidas dos cidadãos palestinos com quem conversou.
Maternidade móvel
Segundo a coordenadora, o nível de destruição que testemunha cada vez que visita o local é praticamente “incompreensível”. Ela citou ameaças atuais como o aumento das temperaturas no verão, a dificuldade causada pela falta de saneamento e manejo do lixo e os riscos de surtos de doenças fatais.
Sigrid Kaag afirmou ter visitado uma maternidade móvel recém-inaugurada pelo Fundo de População da ONU, Unfpa, especializada em partos e cesarianas. Ela descreveu a equipe composta de “mulheres corajosas” que realizam estes serviços sob “circunstâncias horrendas”.
A representante da ONU ressaltou o drama vivenciado pelas mães que estão “profundamente preocupadas com o futuro e com o mundo no qual seus bebês estão chegando”.
Ela disse que as taxas de aborto espontâneo no segundo e no terceiro trimestre estão crescendo e ainda serão realizados estudos para identificar as possíveis causas dessa tendência.
Os palestinos continuam a fugir das áreas mais bombardeadas da Faixa de Gaza
Evacuação médica de crianças
Sigrid Kaag também visitou crianças em condições severas e crônicas, que só podem ser tratadas se tiverem acesso a uma evacuação médica. Ela disse que muitas dessas crianças foram evacuadas de quatro a cinco vezes dentro de Gaza, “sempre em busca de segurança e abrigo médico”.
A coordenadora humanitária relatou ter falado com diversas ONGs sobre como apoiá-las e identificou desafios comuns, como falta de lei e ordem, dificuldade de operar, falta de acesso, limitações de distribuição.
Ela destacou que as ONGs palestinas eram as que atuavam mais próximas da população e que precisam de um apoio especial, tendo em vista que perderam suas sedes, equipamentos e meios de atuação.
Mecanismo humanitário
Sigrid Kaag afirmou que muitos esforços que está realizando são voltados para garantir a prontidão para o momento em que um tão esperado cessar-fogo seja anunciado e formalizado. Isso inclui ampliar os suprimentos e deixá-los preposicionados e assegurar diálogos políticos que viabilizem as operações.
Segundo ela, o mecanismo humanitário que ficou responsável de estabelecer está funcionando, levando para dentro de Gaza itens de ajuda enviados da Jordânia, Chipre, Cisjordânia e em breve do Egito. A representante da ONU disse ainda que monitores já foram recrutados e estão “preparados para entrar em Gaza”.
Ela afirmou que o mecanismo organiza e agiliza, com base na autoridade do Conselho de Segurança, a aprovação da ajuda humanitária, que até então estava sujeita à atuação bilateral de alguns Estados. A iniciativa facilita aprovações e gera mais clareza sobre negativas, ajudando no processo de priorização da assistência.
Vacinação contra a polio
Sobre vacinas para a poliomielite, Sigrid Kaag disse que a OMS está atuando para importar uma grande quantidade de imunizantes, particularmente para crianças abaixo de cinco anos que não foram ainda vacinadas. Ela afirmou que a agência está organizando uma possível campanha de vacinação.
Segundo Sigrid Kaag, a ONU defende o retorno de uma autoridade palestina, escolhida pelos palestinos, que seja capaz de assumir responsabilidades sobre processos de recuperação e reconstrução, definição de prioridades, criação de empregos, titularidade de terras, sistema educacional, dentre outros.
A especialista ressaltou a necessidade de um cessar-fogo imediato, a libertação incondicional de todos os reféns e acesso continuado para a entrada de ajuda para responder às necessidades.