Internacional
Cuba está sem suprimentos, enfrenta crise econômica e população passa fome
Com um colapso econômico na ilha e Regime Comunista com desaprovação popular, o regime tenta se aproximar de China e Rússia
Os cubanos costumavam olhar para o “período especial” pós-União Soviética, acreditando que nada poderia ser pior. Hoje, porém, a situação é ainda mais grave. As autoridades falam em uma “economia de guerra”, e a escassez em Havana é considerada pior do que nos anos 1990, de acordo com um artigo publicado pela The Economist no domingo (21/07).
Segundo a publicação, Cuba não produz o suficiente de quase nada: nem açúcar, que antes exportava; nem ovos, recentemente importados da Colômbia; nem leite em pó, obtido da ONU; nem energia, como revelam os apagões cada vez mais frequentes.
A ditadura comunista que controla a ilha não consegue garantir nem a cesta básica para seu povo, gerando crescente desigualdade, agitação e imigração. Nos dois anos até o fim de 2023, um décimo da população de 11,2 milhões de pessoas deixou o país. Em busca de apoio, o governo se aproxima cada vez mais de China e Rússia em busca de socorro para resgatar o regime que segue moribundo.
O compromisso do regime castrista com o planejamento central e o controle estatal é apontado como a principal causa dos problemas. Para um governo comunista, não conseguir prover para seu povo é “doloroso”. “O básico está faltando e, quando chega, é de qualidade duvidosa: ovos sem gemas que são amarelos”, disse uma mulher que pediu anonimato. Graças ao nascente setor privado, produtos como chocolates Lindt e queijo Philadelphia estão disponíveis, mas a preços inacessíveis para a maioria.
A inflação oficial é de 30%, e Cuba está efetivamente dolarizando sua economia, mas com poucos dólares em circulação. Restaurantes em Havana preferem pagamentos em dólares, apesar da escassez da moeda.
Os cubanos estão cada vez mais inquietos. Grandes protestos em 2021 resultaram em duras penas de prisão para mais de 700 pessoas. Manifestações subsequentes foram menores e não pediram explicitamente a queda do regime. Em março, alguns cubanos protestaram contra os cortes de energia e a falta de comida. “O medo está diminuindo”, afirma Carolina Barrera, uma ativista exilada.
A resposta oficial tem sido tímida e sem imaginação. Fidel Castro morreu em 2016, e seu irmão Raúl, com 93 anos e problemas de saúde, deixou a liderança coletiva do Partido Comunista dividida entre reforma e reação. Em 2021, o governo permitiu que empresas privadas se expandissem e empregassem até cem pessoas em atividades limitadas, mas elas enfrentam dificuldades para obter moeda forte. Proprietários de empresas tiveram permissões de viagem negadas e foram alvo de auditorias agressivas, além do aumento dos impostos.
O turismo pode ajudar, mas Cuba enfrenta forte concorrência de destinos como República Dominicana e Cancún, no México. As chegadas de turistas aumentaram recentemente, mas ainda estão abaixo dos 4 milhões registrados em 2019.
O regime comunista cubano espera ser salvo por seus aliados. Há rumores de investimentos russos na produção de açúcar e na indústria farmacêutica. Laços de segurança também estão crescendo, com a visita de navios russos a Havana no mês passado, pela primeira vez desde a invasão da Ucrânia. Cuba busca se tornar membro dos Brics, grupo que inclui o Brasil.
Os laços de Cuba com a Rússia variam, mas as autoridades norte-americanas estão mais preocupadas com a influência chinesa na região. Nenhum dos países oferece muito, e ambos esperam reciprocidade, algo que Cuba não faz bem. Rússia e China parecem frustradas com a inépcia de um regime que se recusa a adotar até mesmo um capitalismo de estado semelhante ao vietnamita.
Muitos cubanos oprimidos pela ditadura sonham com o colapso do regime comunista, mas isso é improvável e traria outros problemas. “A oposição não tem estrutura, programa ou pessoal, dentro ou fora da ilha”, diz Carlos Alzugaray, ex-diplomata cubano. “A melhor chance de mudança vem do governo atual.” No entanto, essa mudança não está acontecendo. “Estamos lidando com um regime sem plano, sem rumo e sem saída”, diz Ricardo Zúñiga, ex-funcionário americano. “Ele está permitindo não apenas o colapso econômico, mas também o colapso social.”
A imigração está em níveis recordes. “Nosso bairro está ficando sem jovens”, diz Juneir, que vive em um subúrbio de Havana. “Se este país tivesse fronteiras terrestres, não sobraria ninguém.”