Internacional
Gaza: Ataques em escolas usadas de abrigo reforçam violação de “regras da guerra”
Operação militar israelense no sábado deixou mais de 93 mortos em escola que abrigava deslocados palestinos; segundo a ONU, “ataques sistemáticos e crescentes” ocorrem em momento em que quase 90% do enclave está sob ordens de evacuação e a entrada e distribuição de assistência humanitária segue restringida por Israel
Esta segunda-feira marca o aniversário de 75 anos das Convenções de Genebra, criadas para proteger os civis em tempos de guerra.
O comissário-geral da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, disse que nos últimos 10 meses essas “regras da guerra” foram “flagrantemente violadas, dia após dia, em Gaza”.
“Mais um dia de horror em Gaza”
Em comentário feito nas redes sociais nesta segunda-feira, Philippe Lazzarini afirmou que tanto as forças israelenses como os grupos armados palestinos, incluindo o Hamas, estão desrespeitando o conjunto de regras universais e consensuais criadas para limitar o impacto devastador das guerras.
Por volta das 4h30 do sábado, durante um período de oração, uma mesquita dentro da Escola Al Tabaeen foi atacada pelas Forças de Defesa de Israel “pelo menos três vezes”, segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU no Território Palestino Ocupado.
Em um comunicado, o órgão afirmou que os ataques foram “conduzidos com aparente desrespeito à alta taxa de fatalidades civis”. Um relatório inicial mostrou que os ataques mataram pelo menos 93 palestinos, incluindo 11 crianças e seis mulheres.
Lazzarini descreveu o episódio como “mais um dia de horror em Gaza”, com outra escola atingida e relatos de dezenas de palestinos mortos, entre eles mulheres, crianças e idosos.
Ele, acrescentou que as partes em conflito não devem usar escolas e outras instalações civis para fins militares ou de combate e devem, em todos os momentos, proteger os civis e a infraestrutura civil.
Frequência crescente de ataques em abrigos
O chefe da Unrwa disse que “não podemos deixar o insuportável se tornar uma nova norma”, pois quanto mais recorrente ele se tornar, “mais perdemos nossa humanidade coletiva.”
O Escritório de Direitos Humanos da ONU condenou a frequência crescente de ataques das Forças de Defesa de Israel em escolas, onde milhares de palestinos deslocados à força buscaram abrigo.
A agência disse que esses ataques sistemáticos às escolas ocorreram no contexto em que a maior parte da população de Gaza foi deslocada enquanto o exército israelense continua detonando prédios residenciais e restringindo a entrada e distribuição de assistência humanitária.
Esta é pelo menos o 21° ataque em uma escola registrado desde 4 de julho. Esses episódios resultaram em pelo menos 274 fatalidades.
Quase 90% da Faixa de Gaza sob ordem de evacuação
“Israel, como potência ocupante, é obrigado a fornecer à população que deslocou à força necessidades humanitárias básicas, incluindo abrigo seguro”, disse o escritório de direitos humanos da ONU.
O Coordenador Especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, pediu a todas as partes no conflito em Gaza que priorizem a proteção de civis e concluam um acordo para um cessar-fogo e a libertação de reféns.
“Todos os dias, os civis continuam a suportar o peso deste conflito em meio ao horror, deslocamento e sofrimento sem fim”, afirmou ele.
Quase 90% da Faixa de Gaza foi colocada sob ordens de evacuação ou designada como zonas interditadas pelos militares israelenses.
Desafio para campanha de vacinação
Segundo a Unrwa, isso ocorre no contexto da necessidade de uma campanha de vacinação contra a poliomielite rápida e eficaz. A agência está trabalhando com a Organização Mundial da Saúde e com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para organizar uma campanha nas próximas semanas.
A expectativa das agências da ONU é utilizar as poucas unidades e clínicas móveis de saúde para vacinar mais de 600 mil crianças menores de 10 anos. A porta-voz da Unrwa, Louise Wateridge afirmou que é “incrivelmente difícil” planejar esta intervenção nas condições de deslocamento constante em Gaza.
Ela insistiu em um apelo por um cessar-fogo que possibilite aos agentes humanitários a realização desta ação de emergência.