Saúde
Cientistas querem copiar estratégia que peixe usa para regenerar medula espinhal
Consertando lesões na medula
Humanos que sofrem uma lesão na medula espinhal podem ficar paraplégicos ou tetraplégicos porque os neurônios na área da lesão morrem.
Mas isso não acontece com todos os animais. Os peixes-zebra, por exemplo, são membros de um grupo seleto de vertebrados capazes de curar completamente uma medula espinhal cortada.
Uma compreensão clara de como essa regeneração ocorre pode fornecer pistas para estratégias de cura de lesões da medula espinhal em pessoas, que podem ser devastadoras, causando perda permanente de sensibilidade e movimento.
E, ao mapear em detalhes todas as células envolvidas – e como elas trabalham juntas – na regeneração da medula espinhal do peixe-zebra, cientistas fizeram uma descoberta inesperada: As células-tronco capazes de formar novos neurônios – e tipicamente consideradas centrais para a regeneração – desempenham apenas um papel complementar, não liderando o processo.
Surpreendentemente, a sobrevivência e a adaptabilidade dos próprios neurônios cortados são necessárias para a regeneração completa da medula espinhal.
Outros cientistas já curaram paralisia causada por lesão na medula espinhal em animais de laboratório.
Plasticidade neuronal
Até agora, as pesquisas sobre recuperação de lesão na medula espinhal se concentravam em células-tronco
Diferentemente das lesões na medula espinhal de humanos e outros mamíferos, nas quais neurônios danificados sempre morrem, os neurônios danificados do peixe-zebra alteram dramaticamente suas funções celulares em resposta à lesão, primeiro para sobreviver, e depois para assumir papéis novos e centrais na orquestração dos eventos precisos que governam a cura. As células-tronco só participam marginalmente do processo.
Os cientistas sabiam que os neurônios do peixe-zebra sobrevivem à lesão na medula espinhal, mas este novo estudo também revela como eles fazem isso.
“A observação surpreendente que fizemos é que há fortes mecanismos de proteção e reparo neuronal acontecendo logo após a lesão. Acreditamos que esses mecanismos de proteção permitem que os neurônios sobrevivam à lesão e então adotem um tipo de plasticidade espontânea – ou flexibilidade em suas funções – que dá ao peixe tempo para regenerar novos neurônios para atingir a recuperação total,” contou a pesquisadora Mayssa Mokalled.
Mais importante, a equipe identificou alvos genéticos que poderão ajudar a promover esse tipo de plasticidade neural nas células de outros mamíferos e, quem sabe, nos seres humanos. De fato, já existem algumas pistas, de outros estudos científicos, de que essa capacidade de plasticidade está presente nos neurônios dos mamíferos, só que está adormecida. Então, encontrar um modo de reativá-la é uma rota para novas pesquisas e, quem sabe, futuras terapias que evitem o resultado dramático das lesões medulares.