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F1: Monza vê vitória histórica da Ferrari, rivalidade intensa na McLaren e show de Bortoleto
Cada corrida na F1 cria uma parte importante na história da categoria mundial, mas alguns GPs obviamente entram no seleto hall de provas que virarão marcos do esporte. E a etapa deste domingo em Monza no GP da Itália de 2024 foi um delas. Primeiro, pelo motivo mais evidente: a vitória da Ferrari em casa, algo que no automobilismo é difícil de descrever e igualar em outro País ou autódromo, tamanha a idolatria e loucura dos tifosi pela escuderia italiana.
Depois, pelo momento do Mundial: após a McLaren mostrar que tem o melhor carro, com uma vitória avassaladora de Lando Norris na Holanda, era esperado que Mercedes e, especialmente, a Ferrari lutasse pela vitória, por conta dos tradicionais upgrades que traz para a corrida na Itália justamente pensando em fazer bonito na prova de casa.
E a confirmação da melhora da Ferrari veio com uma corrida conquistada na base da estratégia e uma tocada impecável de Leclerc. Mesmo perdendo a primeira fila para Norris e Oscar Piastri no sábado, o time italiano soube imprimir um ritmo forte com os dois tipos de pneus exigidos para a corrida e, com isso, conseguiu fazer apenas uma parada, algo que os rivais da McLaren sequer cogitaram.
Com a vantagem de uma parada a menos, coube a Leclerc administrar o ritmo no final para impedir uma tentativa de Piastri nas voltas finais. O monegasco soube controlar bem a distância e até admitiu que pensava na torcida e até buscava mais esforço para se concentrar e não ficar apenas prestando atenção no público que já ficava de pé a cada passagem da Ferrari.
Foi a segunda vitória em 2024, e em dois templos do automobilismo mundial: Mônaco e Monza, que, ironicamente, são circuitos completamente opostos, com as menores e maiores velocidades do ano. Perguntei a Leclerc na coletiva de imprensa após a corrida qual o segredo para se dar bem justamente em pistas tão diferentes. “Sim, são distintas, mas igualmente uma sensação muito boa de vencer nas duas. Não seria possível escolher qual destas vitórias é mais especial”, disse.
Com este sucesso nos templos do automobilismo, perguntei também se de repente um dia Leclerc animaria em correr em Indianápolis ou Le Mans. “Indianápolis…. Hmm.. (pensativo). Mas Le Mans com certeza. Não sei quando, mas tomara que em breve”, completou.
A alegria de Leclerc na sala de entrevista contrastava com o pesado clima entre os pilotos da McLaren. Piastri e Norris foram questionados sobre o incidente na primeira volta, em que o australiano “se jogou” para cima do britânico. Norris relativizou num primeiro momento, dizendo que de fato não esperava a manobra, mas que vai agir diferente numa próxima oportunidade. Piastri estava nitidamente constrangido, mas também evitou declarações polêmicas.
Chefe da equipe na McLaren, Andrea Stella prometeu que vai “analisar” se o caso viola as “regras Papaya”, como ele chama a regra de conduta dos pilotos em não colocarem seus companheiros de equipe em risco de colisão.
Mas o sentimento em Monza foi que a McLaren desperdiçou uma boa chance de tirar ainda mais pontos de Max Verstappen no campeonato de pilotos. O de construtores agora está só 8 pontos atrás, mostrando o rápido avanço do time laranja contra a decadência dos atuais campeões. Mas a impressão é que Norris teria ritmo e força para vencer hoje no GP da Itália, mas que a briga dos dois pilotos da McLaren agora só fortalece justamente o lado do holandês. Este sim saiu de Monza chateado com a performance do carro e espera que no circuito de rua de Baku o time volte a pelo menos brigar constantemente pelo pódio.
Se o clima entre os companheiros de equipe na McLaren não é dos melhores, pelo menos na Academia de jovens talentos o final de semana também foi marcante. Gabriel Bortoleto fez história ao se tornar o primeiro piloto da F2 a vencer uma corrida saindo da última colocação, no caso a 22a posição.
A prova do brasileiro foi o grande assunto do domingo antes da corrida e recebeu elogios de gente grande no paddock, incluindo o próprio Zak Brown, CEO da McLaren, e da publicação oficial da F1 nas redes sociais. “Foi a melhor corrida da minha vida e com certeza o momento para ela ter acontecido não poderia ser melhor, para realizar meu sonho de correr na F1. Mas meu foco agora é lutar pelo campeonato da F2”, disse Bortoleto ao F1MANIA.NET em Monza.
De fato, a diferença para o líder agora é de apenas 10,5 pontos (o meio ponto veio de outro feito curioso de Bortoleto, ao chegar empatado na oitava colocação na corrida de sábado), para o francês Isaac Hadjar, que não teve um bom final de semana no GP da Itália. Foi emocionante ouvir o hino brasileiro tocando em Monza, justamente no palco da última vitória do Brasil na F1, com Rubens Barrichello e a Brawn em 2009. Bortoleto também se encontrou com Emerson Fittipaldi, em registro exclusivo do F1MANIA.NET – Emerson venceu o primeiro título mundial do Brasil na F1 em 1972 também em Monza e venceu o primeiro título da McLaren em 1974, há exatos 50 anos.
Em relação ao campeonato da F2, serão mais três rodadas duplas até o final da temporada: Baku, Qatar e Abu Dhabi. E como Bortoleto ganhou o título da F3 em seu primeiro ano, ele pode igualar nomes que estão em destaque na F1 atual, caso inclusive dos dois primeiros colocados no GP de hoje em Monza, Charles Leclerc e Oscar Piastri.
Também ajuda um desempenho tão fenomenal deste em sua negociação com os times para 2025 – a vaga principal em disputa é a da Stake F1 Team, que se tornará Audi em 2026. Valtteri Bottas aparecia como franco favorito, mas houve já conversas na imprensa internacional de que Bortoleto voltou a aparecer como um dos candidatos para o ano que vem.
A renovação do grid, que foi literalmente zero em 2024 (a primeira vez na história de que não houve novos pilotos para o ano seguinte), agora vem com força, com três pilotos da F2 em assentos garantidos para 2025: Kimi Antonelli na Mercedes, Oliver Bearman na Haas, Jack Doohan na Alpine – isso sem contar que Franco Colapinto garantiu um assento para os 9 GPs finais deste ano com a Williams (mas já não tem chance para o próximo ano porque Carlos Sainz irá para o time).
Se Bortoleto fará parte deste grupo, saberemos em breve. Mas, com o desempenho impressionante que ele demonstrou neste domingo em Monza, a sensação é de que será uma questão de tempo de ver seu nome na lista de inscritos da F1.
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