Internacional
EUA dão 30 dias para Israel ampliar acesso de ajuda a Gaza
Washington sinaliza possíveis restrições ao envio de armamentos ao país aliado se não houver melhora significativa no acesso de ajuda humanitária ao enclave palestino, que foi reduzido à metade nas últimas semanas
A Casa Branca alertou Israel que os Estados Unidos poderão impor restrições ao envio de ajuda militar, se não houver uma melhora significativa na situação humanitária na Faixa de Gaza dentro de um prazo de 30 dias.
Em carta enviada no último domingo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, “deixaram claro ao governo de Israel que há mudanças que precisam ser feitas para garantir que o nível de assistência que chega a Gaza melhore dos níveis muito, muito baixos em que está hoje”, segundo afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
A carta esclarece que a lei americana exige que “os destinatários da assistência militar dos EUA não neguem ou impeçam arbitrariamente o fornecimento de assistência humanitária dos EUA”. “Nossa esperança é que Israel faça as mudanças que solicitamos e recomendamos, e que, como resultado dessas mudanças, haja um aumento dramático na assistência humanitária”, afirmou Miller.
O documento menciona as restrições impostas por Israel ao território, inclusive sobre as importações comerciais, assim como a proibição à maior parte do movimento de ajuda humanitária entre o norte e o sul de Gaza e as “onerosas e excessivas” restrições sobre quais itens podem ou não entrar no enclave.
Trata-se do alerta mais grave dado por Washington a Tel Aviv desde o início da guerra entre Israel e a organização terrorista Hamas, há um ano, que gerou uma grave crise humanitária no enclave palestino.
Exigências ao invés de ameaças
O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, ressaltou que a carta “não tem a intenção de soar como uma ameaça”, mas reiterou a urgência da ampliação do acesso de ajuda á Gaza.
O documento endereçado ao ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, foi revelado nesta terça-feira (15/10) pelo portal de notícias Axios, apesar de o Departamento de Estado afirmar que a missiva era de caráter privado.
Na carta, Blinken e Austin pedem que Israel permita o acesso diário de ao menos 350 caminhões de ajuda, além da abertura de um quinto ponto de travessia para Gaza. Os secretários demandam ainda a rescisão das ordens de evacuação para os palestinos quando não houver necessidade operacional.
O Departamento de Estado disse que a pressão anterior dos EUA permitiu o acesso de 300 a 400 caminhões por dia ao enclave. A ajuda humanitária, porém, acabou sendo reduzida em mais de 50% em relação ao seu ponto máximo.
O prazo de 30 dias significa que qualquer tomada de decisão americana virá somente após as eleições dos EUA, na qual o Partido Democrata, do presidente americano, Joe Biden, enfrenta acusações de não ter feito o suficiente para tentar controlar Israel.
EUA entregam sistema antimísseis
A vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata à Presidência, expressou preocupação neste fim de semana após um informe da ONU relatar que nenhuma entrega de alimentos chegou ao norte de Gaza em quase duas semanas. “Israel deve urgentemente fazer mais para facilitar o fluxo de ajuda para os necessitados”, escreveu Harris em seu perfil no X.
Miller afirmou que a pressão americana já teria dado resultado. Segundo o porta-voz, Israel permitiu nesta segunda-feira a entrada de assistência através da passagem de Erez para Gaza, no dia seguinte ao envio da carta.
Após meses de alertas sobre um possível conflito mais amplo com o Irã, Biden autorizou no fim de semana a entrega para Israel de um sistema de defesa antimísseis THAAD, juntamente com um grupo de soldados que deve operá-lo, o que marcou o primeiro envio de militares americanos em meio ao conflito, mesmo que em caráter temporário.
O Departamento de Estado também comunicou a Israel suas preocupações com os ataques aéreos em Beirute. Washington, no entanto, deixou de pedir um cessar-fogo e apoiou o direito de Israel de atacar o Hezbollah. “Deixamos claro que somos contra a campanha [israelense no Líbano] da maneira como a vimos conduzida nas últimas semanas”, disse Miller.