Saúde
Covid na gravidez afeta bebês mais do que exames mostram
Esta importante descoberta teve participação de cientistas brasileiros
Como SARS-CoV-2 afeta os bebês
Infecções leves e assintomáticas por SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19, podem desencadear respostas imunológicas em mulheres gestantes que podem causar respostas inflamatórias sérias no feto em desenvolvimento.
A descoberta indica que a transmissão vertical do vírus – da gestante para seu bebê – é mais comum do que o estimado anteriormente, e que, mesmo sem essa transmissão, a resposta imunológica da mãe à infecção pode impactar o feto.
Normalmente, os profissionais de saúde testam a infecção por SARS-CoV-2 nos recém-nascidos por meio de um cotonete nasal, logo após o nascimento. Para este estudo, Tamiris Azamor e colegas da Clínica Cleveland (EUA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Brasil) coletaram amostras da placenta e do compartimento fetal (tecidos que circundam o feto ainda no útero) e, em seguida, analisaram-nas quanto à presença de marcadores inflamatórios e vírus.
Os exames mostraram uma quantidade maior dos vírus nesses tecidos do que o que poderia ser encontrado em um cotonete nasal tradicional. E, mesmo na ausência de uma infecção completa, a equipe descobriu que pequenas proteínas do vírus passam pela placenta.
Os pesquisadores esperam que seu estudo ajude a garantir que as gestantes possam receber de forma rápida e confiável os cuidados médicos baseados em evidências necessários durante novos surtos e crises de saúde pública.
Os exames tradicionais usando cotonetes nasais nos bebês não conseguem detectar todas as infecções e nem os efeitos da inflamação nas mães.
Exames ineficazes nos bebês
Quando o teste padrão de covid-19 é usado para detectar o vírus em recém-nascidos (cotonetes nasais no nascimento), eles detectam infecções apenas em cerca de 2% das crianças cujas mães testaram positivo para o vírus durante a gravidez.
No entanto, os exames nos tecidos que cercavam os recém-nascidos quando eles ainda estavam no útero – incluindo o líquido amniótico, o córion e o plasma do cordão umbilical – detectaram altos níveis do vírus em mais de um quarto (26%) dos bebês participantes do estudo, uma diferença alarmante.
A equipe também encontrou respostas imunológicas e inflamatórias elevadas afetando as gestações de cerca de 66% das participantes do estudo. Já se sabia que havia níveis elevados de inflamação fetal em gestantes que apresentam infecções graves por SARS-CoV-2 durante a gravidez, mas infecções assintomáticas eleves não tinham sido estudadas.
“Embora tenhamos visto transmissão vertical da infecção viral completa apenas um quarto das vezes, vimos fortes respostas imunológicas e inflamatórias em mais de dois terços dos casos,” disse a Dra. Suan-Sin Foo, coordenadora do estudo. “Estava claro que, mesmo quando os fetos não estavam tecnicamente infectados, eles ainda estavam sendo impactados pela infecção viral de suas mães. Mas não tínhamos certeza de como.”
Níveis elevados de inflamação durante a gravidez – por covid ou por outras condições – podem ter impactos negativos nos bebês muito depois do nascimento. Mas serão necessárias pesquisas específicas para definir como a inflamação afeta as crianças a longo prazo.