Nacional
Primeira-dama rebate ‘Janjapalooza’: festival ou espetáculo pessoal?
A primeira-dama do Brasil, Rosângela da Silva, conhecida nacionalmente como Janja, não escondeu seu incômodo ao ouvir o termo “Janjapalooza” associado ao festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, realizado como parte das atividades que antecedem o G20 no Rio de Janeiro. Com um sorriso amarelo, Janja rebateu: “Não, filha, é Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Vamos ver se consegue entender a mensagem, tá?”. Só que, ironicamente, o que mais se entendeu foi outra coisa.
O apelido, que mistura deboche e crítica, parece ter capturado o espírito do evento: menos sobre combate à fome e mais sobre o brilho pessoal da primeira-dama. Organizado para arrecadar recursos e impulsionar soluções contra a pobreza global, o festival acabou virando palco para discussões sobre o papel — e as ambições — de Janja no governo Lula.
A comparação com o Lollapalooza, famoso festival de música, não é por acaso. Janja tem se esforçado para se firmar como uma figura pública de relevância, mas suas investidas frequentemente geram controvérsia. Em ocasiões anteriores, ela já atraiu mais atenção pelos sapatos que usava em eventos da ONU do que pelo discurso que proferiu. Sua presença em regiões afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul também foi criticada como uma tentativa de “aparecer” em meio à tragédia.
E assim nasceu o apelido. “Janjapalooza” não é apenas uma brincadeira, mas uma crítica ácida à maneira como a primeira-dama parece transformar ações governamentais em vitrines pessoais. O festival, que deveria focar em políticas concretas contra a fome, se viu ofuscado por discussões sobre quem está realmente no centro da narrativa.
Ao contrário de suas antecessoras, Janja adota um estilo que beira o estrelato. Enquanto Marisa Letícia, Michelle Bolsonaro e Marcela Temer mantiveram perfis mais reservados, Janja parece determinada a ser ouvida — e vista. Sua escolha por usar um casaco palestino em uma reunião da ONU é só um exemplo. Foi uma declaração de impacto, mas também alimentou críticas de que a primeira-dama ultrapassa os limites de seu papel institucional.
Essa postura ativa, quase militante, irrita tanto opositores quanto aliados. Afinal, ninguém votou nela, mas suas ações muitas vezes têm peso político, como quando participou de um vídeo polêmico contra o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo. Até agora, suas tentativas de ganhar um espaço de relevância própria têm dividido opiniões.
A irritação de Janja com o apelido talvez também tenha a ver com os números por trás do evento. O festival contou com pelo menos R$ 30 milhões de patrocínio de duas estatais, enquanto outras empresas públicas preferiram manter os valores em segredo. Tudo isso acontece em meio ao anúncio de déficits históricos nas contas dessas mesmas estatais. A pergunta que fica: era essa a melhor forma de gastar o dinheiro público?
A ideia era que o festival simbolizasse o compromisso do Lula com a erradicação da pobreza, uma bandeira que ele tenta fincar após sua volta ao poder. Mas para muitos críticos, o evento acabou virando mais um espetáculo do casal presidencial do que uma ação concreta para enfrentar problemas reais.
Se o objetivo era desviar o foco do nome da primeira-dama, a estratégia falhou. O pedido de Janja para não chamarem o festival de “Janjapalooza” só deu ainda mais força ao apelido. E, no fim das contas, o que deveria ser um marco no combate à fome se tornou uma piada que viralizou.
Enquanto os debates sobre fome e pobreza permanecem em segundo plano, Janja continua no centro das atenções. A mensagem que ficou não foi sobre o impacto social do festival, mas sobre um governo onde o protagonismo pessoal muitas vezes rouba a cena. O “Janjapalooza”, goste Janja ou não, virou o resumo perfeito de como as prioridades políticas podem se misturar ao marketing pessoal.
E aí, como entender essa mensagem, tá?