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OPINIÃO – Fim da escala 6×1: realidade ou mais uma farsa contra o trabalho escravo no Brasil?
Por Roberto Tomé
Parece bonito no papel, não é? O governo quer acabar com a escala 6×1 e diz que isso vai ajudar no combate ao trabalho escravo. Mas será que essa medida, isolada e sem mudanças reais, vai resolver o problema ou é só mais uma fachada para enganar o povo? Porque, sinceramente, a hipocrisia reina. Enquanto muitos setores da sociedade se pintam de paladinos da justiça, no fundo, estão preocupados mesmo é com os bilhões que recebem de verbas públicas e internacionais.
Cafezinho no ar-condicionado não liberta ninguém
É fácil posar de defensor dos direitos humanos enquanto se está sentado em escritórios luxuosos, com o ar-condicionado no máximo e um café importado na mão. Difícil mesmo é enfrentar a realidade no campo ou nas periferias, onde seres humanos ainda são tratados como gado. Homens, mulheres e até crianças vivendo em condições degradantes, explorados por verdadeiros barões do agronegócio e da indústria. Enquanto isso, os “oligárquicos” responsáveis por essas atrocidades estão confortáveis, em suas mansões à beira-mar ou resorts cinco estrelas, planejando a próxima festa.
E, claro, tem o presidente e sua entourage. Falam em justiça social, mas o que se vê é turismo de luxo pelo mundo. Hotéis caríssimos, eventos badalados, e uma primeira-dama esbanjadora que parece mais preocupada em exibir vestidos de grife do que discutir a desigualdade que consome o país. É uma encenação grotesca de quem deveria estar na linha de frente das mudanças, mas prefere o palco.
Populismo à la carte
No Congresso, a situação é ainda mais deprimente. O que deveria ser a casa do povo virou um circo de interesses pessoais. Tem parlamentar cuja ficha criminal é mais longa que o trajeto entre a terra e a lua. E, mesmo assim, essas figuras são as que decidem as leis que, supostamente, deveriam proteger os trabalhadores. Como confiar? É um jogo sujo de favores, acordos escusos e populismo descarado.
Pior ainda são os discursos inflamados, feitos para a câmera, para alimentar um público já esgotado de tantas mentiras. Eles falam em reformas, em combate à corrupção, mas, no fundo, é tudo uma desculpa para desviar o foco dos reais problemas. E o povo, cada vez mais alienado, vai aceitando. Não por ignorância, mas porque quem deveria informar muitas vezes só confunde.
A falácia do combate à corrupção
Um governo que aposta em medidas populistas não tem moral para falar em combater corrupção. Não dá. É como pedir ao ladrão que guarde o cofre. O fim da escala 6×1, sem ações integradas que realmente cheguem aos rincões onde o trabalho escravo é uma chaga aberta, é só mais uma cortina de fumaça. É bonito para a imprensa vender — aquela que, claro, não se vendeu aos interesses políticos, porque sabemos que muitos veículos de comunicação já estão comprometidos com quem paga mais.
E o que fazer?
Se a sociedade quer de fato combater o trabalho escravo, precisa sair dessa bolha de discursos fáceis. Não se combate exploração com palavras bonitas ou promessas vazias. É preciso fiscalizar de verdade, investir em políticas públicas que cheguem às comunidades mais vulneráveis, e, acima de tudo, enfrentar os poderosos que lucram com a miséria alheia.
Mas, para isso, é preciso ter coragem. E coragem, infelizmente, não se vê no ar-condicionado.