AGRICULTURA & PECUÁRIA
Sim! Há demanda para toda a soja que o mundo está produzindo na safra 2024/25
Estimativa do USDA é de um crescimento de quase 5% na demanda pela oleaginosa nesta temporada
A última estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) é de que a produção global de soja nesta safra 2024/25 alcance 427,14 milhões de toneladas. Se confirmado, este número deve representar um salto e tanto na capacidade produtiva global da oleaginosa, com estoques finais – confortáveis até este ponto – que poderão ser de quase 132 milhões de toneladas. Somente do Brasil, deverão partir 170 milhões de toneladas do total desta oferta. Assim, a pergunta que o mercado se faz agora é: há demanda para toda esta soja?
Embora os preços sinalizem algo diferente e uma evidente falta de fôlego, a resposta é: sim! A demanda global por soja deverá registrar um incremento de quase 5% nesta temporada. O número, no entanto, é insuficiente para equilibrar as relações, o que justifica parte desta agressiva pressão que as cotações da oleaginosa apresenta até aqui. Na Bolsa de Chicago, os futuros da commodity testaram suas mínimas em seis anos nos últimos dias.
“Desde o último relatório do USDA, os preços da soja caíram diante das condições favoráveis de clima na América do Sul, mas de olho no desenvolvimento das lavouras”, informaram os especialistas do USDA em seu boletim detalhado sobre o cenário global de oleaginosas.
E os analistas ainda complementaram afirmando que “os preços do farelo seguiram o recuo nos preços da soja com a oferta global superando a demanda, aumentando os estoques globais do derivado”.
Ainda assim, analistas e consultores de mercado reforçam que o atual momento do mercado da soja deprimido não é um problema de demanda. Parte da força desta demanda ainda muito forte e presente é o comportamento do programa de exportação dos Estados Unidos, que está mais forte do que o registrado no mesmo período do ano passado, inclusive com a soja norte-americana apresentando uma competitividade maior do que a soja brasileira neste momento.
A imagem abaixo evidencia o atual quadro. “Há mais soja dos Estados no oceano agora do que no ano passado, mas menos cargas do Brasil.As exportações norte-americanas de novembro deste ano foram 30% maiores do que as de novembro de 2023, enquanto as brasileiras foram 50% menores”, afirma a especialista internacional em commodities, Karen Braun.
A tendência é de que, nos próximos meses, a soja brasileira se torne mais barata, com a chegada de oferta da safra 2024/25 nos próximos meses, e o Brasil vá tomando um espaço maior neste mercado. A maior oferta de soja ‘verde e amarela’ no mercado global tende a pressionar não só os preços na Bolsa de Chicago, como também os prêmios nos portos do país, deixando o produto mais atrativo para os compradores. O dólar ainda bastante é mais um fator que contribui para este cenário.
“As projeções de demanda para 2025 elas são extremamente positivas, quando olhamos para a evolução do consumo de soja no mundo, vemos números muito positivos. Então, não é na demanda o grande problema que vemos para o conteúdo dos preços. Há uma expectativa da demanda crescer 5% ao ano, que é um crescimento bem acima do observado nos últimos anos – da pandemia, da peste suína africana – quando a demanda ficou um pouco mais estagnada”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro.
Assim, “enquanto a oferta cresce mais do que a demanda, fica difícil invertermos essa curva de preços”, complementa Palavro. “Porém, se olhamos para a continuidade de 2025, pode haver fatores voltando a ficar positivos ao produtor brasileiro, à soja, mas estes fatores devem pesar para o mercado somente depois da nossa colheita e isso vai testar, também, a capacidade financeira, a capacidade de armazenagem do produtor, a logística brasileira”.
As exportações brasileiras de soja, em 2024, somaram 96,35 milhões de toneladas até o dia 12 de dezembro de 2024, mostrando uma redução de 6,7% em relação ao mesmo período do ano passado – já que a safra 2023/24 sofreu uma quebra considerável em função de adversidades climáticas, porém, um aumento de 15,8% na comparação com a média dos últimos cinco anos. E para 2025, um novo salto é esperado, com volumes acima de 100 milhões de toneladas diante da recuperação da produção.
O USDA estima que as exportações brasileiras sejam de 105,5 milhões de toneladas. O número está alinhado ao que o chefe do setor de grãos da DATAGRO, Flávio França, espera para este ano, algo entre 105 e 107 milhões de toneladas. Além disso, França explica, inclusive que a demanda interna brasileira por soja também será forte, podendo chegar a 58 milhões de toneladas.
“Demanda não vai faltar, mas temos um choque de excesso de oferta, com estoques maiores (no Brasil) e um perfil de comercialização diferente dos últimos dois anos”, afirma o chefe do setor de grãos da DATAGRO, que detalha ainda que a disputa entre as demandas interna e externa deverá ser menos intensa do que nos últimos cinco anos, diante de estoques de soja mais abundantes.
O FATOR ‘TRUMP’
2025 começa, mais especificamente, com um fator adicional nas análises não sobre o tamanho, mas sobre o comportamento da demanda global por soja, em especial por parte da China, a maior compradora mundial: o fator ‘Trump’. Donald Trump, presidente eleito dos EUA, toma possa em 20 de janeiro do próximo ano e, embora desta vez já mais conhecido pelo mercado do que em 2018, o fator e o novo chefe de estado da maior economia do mundo pode causar abalos consideráveis nas relações comerciais do mundo, em especial aquelas entre Washington e Pequim, flechando em cheio o coração do comércio da soja.
Caso as medidas adotadas por Trump sejam semelhantes as de 2018-2019, quando se iniciou uma intensa guerra comercial entre China e Estados Unidos e consolidou o Brasil como maior exportador mundial de soja, o mercado deve responder imediatamente, ver a demanda pela oleaginosa brasileira crescer e, possivelmente, os preços para o produtor registrar algum fôlego, garantindo melhores oportunidades de comercialização, em especial via prêmios. Há seis anos, os prêmios chegaram a passar dos US$ 3,00 por saca nos portos acima das referências praticadas na Bolsa de Chicago para a oleaginosa do Brasil.
“O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, já prometeu promulgar tarifas de 60% sobre produtos chineses e um aumento da tensão comercial, o que poderia, por sua vez, sufocar as ambições da Cofco”, traz uma notícia da agência internacional Bloomberg, que detalha o histórico e as projeções da Cofco, a maior trading de grãos da nação asiática. No entanto, a reportagem também destaca que entre as maiores do mundo – considerando, além da chinesa, a ADM, Bunge, Cargill e a Louis Dreyfus – a Cofco deve inaugurar um terminal enorme de grãos no porto de Santos, o maior do Brasil, ciente de que é aqui sua principal origem não só de soja, mas de uma série de outras commodities.
Atualmente, as vendas da Cofco – que hoje atual com comércio de produtos agrícolas para mais de 50 países – fica atrás apenas da Cargill, como mostra o gráfico abaixo.
“A Cofco tem uma posição única”, disse Jay O’Neil, economista agrícola sênior da Universidade Estadual do Kansas à Bloomberg. “Nenhum dos comerciantes da ABCD tem uma vantagem política tão direta em qualquer lugar em que operem. A Cofco é a campeã doméstica da China. Não podemos ignorar que o país é o maior importador de muitas commodities, seja soja ou milho”, complementou.
Ainda à agência internacional, Ker Gibbs, empresário que atuou com profissionais da Cofco, afirmou que “a China está pronta para outra guerra comercial se ela tiver que acontecer”. “O Brasil é um centro agrícola essencial para nossos negócios e tem potencial inigualável como líder global em agricultura. Estamos firmes em nosso compromisso de investir responsavelmente no Brasil, disse um porta-voz da Cofco International em uma declaração por e-mail à Bloomberg.