Internacional
Estados alemães têm eleições decisivas em tempos de covid
Com a ala conservadora abalada por sua gestão da pandemia e por escândalos de corrupção, um verde e uma social-democrata têm boas chances de reeleição, com repercussão sobre as próximas eleições gerais da Alemanha
Uma coisa é certa: nunca houve na Alemanha eleições como as deste domingo (14/03): por receio de novos contágios com o novo coronavírus nos locais de votação, grande parte dos cidadãos deve optar pelo voto postal, tanto no estado de Baden-Württemberg como na Renânia-Palatinado, ambos no sudoeste do país.
Segundo um porta-voz da municipalidade de Heidelberg, essa proporção pode chegar a 50% em Baden-Württemberg. Provavelmente as seções eleitorais estarão vazias, pois a pandemia é onipresente.
Trata-se dos primeiros pleitos estaduais do país em 2021, para os quais está convocado um total de quase 11 milhões de eleitores. Seus resultados são observados de perto, como um indicador para a eleição geral do terceiro trimestre.
A perspectiva é que em ambos os casos os governadores serão reeleitos. Isso seria um golpe para a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, a qual anunciou que encerrará sua carreira política no fim do ano, não voltando a se candidatar para as eleições gerais.
Um verde se reafirma em Baden-Württemberg
Em Baden-Württemberg, quem governa há dez anos é Winfried Kretschmann, do partido Aliança 90/Os Verdes, inicialmente em coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, e há cinco anos com a conservadora CDU. Ele é o único chefe de governo estadual verde de toda a Alemanha.
Por um bom tempo, parecia que a CDU conseguiria conquistar a simpatia do eleitorado local, mas por fim o popular Kretschmann e sua sigla se reafirmaram, e nas pesquisas de intenção de voto mais recentes ele conta com 35% da preferência, à frente de todos os adversários.
Já alguns anos atrás, em entrevista à DW, o líder verde expunha seu lema: “Em primeiro lugar, está o estado e seus cidadãos. E depois vem tudo mais, como, por exemplo, o que se considera pessoalmente importante, ou o partido. Esse é o meu princípio.”
Além de faturar na simpatia popular, Kretschmann conseguiu dissipar o fantasma de que um governador verde arruinaria a economia do estado centrado no setor automobilístico, indústria e vinicultura. O político de 72 anos tem uma imagem sólida e burguesa, entendendo-se bem com personalidades como o governador da Baviera, Markus Söder, da União Social Cristã (CSU).
Em 2015 e 2016, o dirigente do estado que tem Stuttgart como capital elogiou a controvertida política de Merkel para os refugiados, e mais recentemente apoiou o curso do governo federal na pandemia de covid-19. Caso Kretschmann se reeleja, será um forte sinal verde para uma coalizão entre o partido ambientalista e os conservadores, também em Berlim.
Social-democracia ainda viva na Renânia-Palatinado
Da mesma forma, no estado da Renânia-Palatinado há indicações de que a social-democrata Malu Dreyer tem mais um mandato pela frente. Ela governa desde 2013, porém na eleição de 2016 a favorita parecia ser a democrata-cristã Julia Klöckner, atual ministra alemã da Agricultura.
Contudo Dreyer conseguiu se impor, apostando num curso de objetividade e proximidade aos cidadãos. Após os primeiros resultados das urnas, ela parecia mal acreditar na própria vitória: “Podemos estar felizes: o SPD realmente voltou com toda sua antiga força à Renânia-Palatinado. Nós conseguimos, e somos simplesmente muito, muito fortes. Obtivemos uma vitória eleitoral com que só se pode sonhar.”
Assim como Kretschmann, Dreyer é considerada uma política de pés no chão e conciliadora, evitando os tons ásperos. Assim, no ano eleitoral 2021 ela é um dos poucos raios de esperança para o SPD, que nas enquetes nacionais aparece com apenas 15% da preferência, atrás dos conservadores e dos verdes.
No estado do sudoeste alemão, em contrapartida, os social-democratas dominam as pesquisas de intenção de voto, com 33%. Caso isso se confirme nas urnas, Malu Dreyer poderá seguir com sua coalizão com os verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP). Para o SPD, esse seria um sinal de que a tradicional legenda continua elegível para amplas parcelas da população, contanto que apresente as candidatas e candidatos adequados.
Sob o signo da pandemia
Em ambos os estados, a atual campanha eleitoral transcorreu inteiramente sob o signo da crise da covid-19. A disputa por eleitores se realizou sobretudo online; e o abalo da imagem do governo federal liderado pela CDU, devido a seu mau desempenho no combate à pandemia, poderá ter contribuído para garantir votos a Winfried Kretschmann e Malu Dreyer.
Há quase um ano, ambos são também participantes cativos das inúmeras e perturbadoras conferências com Merkel sobre gestão da pandemia. Ambos ajudaram a decretar o primeiro confinamento, o segundo também, com todas as restrições à liberdade de circulação para a população. Ao que tudo indica, o fato não prejudicou sua reputação.
Por outro lado, o mais recente escândalo de corrupção em torno de dois deputados federais da CDU e CSU – retirados de seus partidos após a revelação de negócios escusos na aquisição de máscaras protetoras – também traz fortes ventos contrários para a ala conservadora da política alemã.