Internacional
“Slogans de perseverança não adiantam mais”, admite presidente alemão em discurso
Normalmente o chefe de Estado só se dirige à Alemanha na TV uma vez ao ano. Em comunicado extraordinário de Páscoa, Steinmeier registra crise nacional de confiança, mas frisa necessidade de coesão no combate à pandemia
Num raro discurso de Páscoa, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, reivindica regras compreensíveis e pragmáticas no combate ao novo coronavírus e conclama a população a um esforço conjunto contra a terceira onda da pandemia.
“Concentremos as nossas forças, caros compatriotas! Vamos pôr para fora o nosso potencial”, instou numa declaração televisa extraordinária pré-gravada, transmitida neste sábado (03/04). “Não vamos nos indignar só contra os outros ou os lá de cima. Não fiquemos apontando a todo momento o que não dá, mas o que é possível, se todos fizerem a sua parte.”
Normalmente o chefe de Estado alemão só se dirige na TV à nação por ocasião do Natal, porém este já é o segundo comunicado não rotineiro desde o começo da pandemia de covid-19.
Confiança e crítica aos defeitos alemães
Steinmeier reconheceu a existência de uma “crise de confiança” e de erros nas testagens, vacinação e digitalização do progresso da doença viral no país. “Depois de 13 meses, palavras de ordem de perseverança não adiantam mais. Todos os apelos à paciência e à razão e à disciplina se tornam surdos nestes tempos massacrantes.”
Ainda assim, ele advertiu enfaticamente contra a briga política só pela briga: governo federal e estaduais, partidos, coalizões e pesquisas de opinião não podem ficar disputando o papel principal. “Precisamos de clareza e determinação, precisamos de regras compreensíveis e pragmáticas para que os cidadãos possam se orientar, para que este país possa voltar a pôr para fora o seu potencial.”
A pandemia coloca a Alemanha diante do espelho, afirmou, criticando a crônica “inclinação a querer regulamentar tudo, nosso medo do risco, o empurra-empurra da responsabilidade”. Será preciso analisar como se pode mudar tudo isso e tornar as instituições mais resistentes às crises. Em meio à terceira onda da pandemia, para rompê-la é necessário “toda força, de todos os lados”.
Ele antecipou “amargas restrições” para a população nas próximas semanas. E, assim como a pandemia exige muito dos cidadãos, também eles devem exigir muito da política. A expectativa em relação aos governantes é clara: “Concentrem as suas forças!”
Democracia, vacinas e superlativos inúteis
Numa democracia, a confiança tem como base “um pacto muito frágil entre os cidadãos e o Estado: ‘Você, Estado, faz a sua parte; eu, cidadão, faço a minha'”, lembrou Steinmeier. No fim das contas, porém, “confiança na democracia não é nada além do que a confiança em si mesmo”.
Ele enfatizou que há todo motivo para ter essa confiança, como provam as vacinas desenvolvidas em tempo recorde. E acrescentou que confia em todos os imunizantes licenciados para a Alemanha – numa alusão a sua recente vacinação com o produto da AstraZeneca, cujo grau de segurança está atualmente em questão. Para ele, a vacina é o passo mais importante no caminho para sair da pandemia. “Participem!”, encorajou.
Frank-Walter Steinmeier também tentou comunicar esperança à população por ocasião da Páscoa: alguns meses atrás, após a primeira onda global de covid-19, o país já quis se ver “com autossatisfação, como campeão mundial da pandemia”, porém “hoje parece que competimos pelo prêmio de pessimismo”.
“Por que é mesmo que na Alemanha se tem sempre que estar nos superlativos: explodindo de júbilo ou morrendo de tristeza?” A verdade é que não se é campeão da pandemia, mas tampouco um zero à esquerda. “Nós duvidamos muito, mas somos capazes de muita coisa. E a hora é de ser capaz, não de duvidar.”
Portanto, “tenhamos confiança em nós e consideração uns com os outros”, exortou o político social-democrata em seu discurso extraordinário deste Sábado de Aleluia.