Internacional
Armin Laschet, o candidato conservador à sucessão de Merkel
Governador do estado mais populoso do país representará os partidos conservadores CDU e CSU nas eleições parlamentares de setembro. Há mais de três décadas na política, ele é descrito por aliados como “um batalhador”
O governador do estado de Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, é presidente da União Democrata Cristã (CDU) desde meados de janeiro. Agora, o político de 60 anos é o candidato da aliança conservadora entre a CDU e seu partido-irmão bávaro União Social Cristã (CSU) para o governo alemão nas eleições parlamentares de setembro.
Após dez dias de luta pelo poder entre Laschet e o governador da Baviera e presidente da CSU, Markus Söder, o comitê executivo da CDU se pronunciou a favor do presidente do partido por uma maioria de 77,5%. Reza a tradição dessa aliança conservadora que cabe ao partido maior, a CDU, indicar o nome para representar ambas as agremiações na corrida à chancelaria.
Foram dez dias que abalaram a coalizão conservadora de CDU e CSU, a chamada “União”. Pois até então não era prevista uma disputa aberta dos líderes da aliança pela candidatura a chanceler federal. Assim, cada encontro entre os dois se tornava um show político.
As pesquisas de intenção de voto favoreciam e favorecem claramente Söder – em detrimento de Laschet. Dias atrás, uma sondagem das redes de TV alemãs RTL e NTV enviou sinais bem claros: conforme a sondagem, 37% dos entrevistados disseram que poderiam se imaginar votando na aliança de CDU e CSU com Söder como candidato, enquanto apenas 13% dos entrevistados afirmaram que optariam pelos conservadores se o nome escolhido fosse Laschet.
Pesquisas e urnas
Por muitas semanas, ambos os campos, tantos o de Söder como o de Laschet, afirmavam que uma decisão sobre o candidato da União deveria ser tomada pouco depois da Páscoa. Mas logo após a Páscoa, o campo de Laschet desmoronou, primeiro entre a bancada da União no Parlamento, depois no círculo dos governadores e líderes estaduais da CDU.
Repetidamente, Laschet garantia que iria chegar a um acordo com Söder. E Söder mencionava sua popularidade nas pesquisas, ao apoio que teria da CDU, e a necessidade de uma campanha eleitoral clara contra os verdes – donos da segunda colocação nas sondagens de intenção de voto.
“Um batalhador”
E agora a CDU acabou se definindo por Laschet. Aliados têm classificado o político ultimamente como “um batalhador”. Laschet buscou, com apoio de seus assessores, conversas e esclarecimentos. Tanto com Söder quanto com muitas figuras influentes da CDU. Isso, apesar das pesquisas, que dão a ele popularidade muito menor que a de Söder.
Oficialmente, a questão da nomeação como candidato deve ser aprovada por outros grêmios do partido. Mas a partir de agora Laschet terá que usar cada dia para se comportar como alguém que representa a continuidade em relação à chanceler Angela Merkel. Ainda faltam mais de cinco meses até a eleição. O Partido Verde já escolheu sua candidata à chancelaria: Annalena Baerbock, de 40 anos. E o Partido Social-Democrata (SPD) também já tem em Olaf Scholz seu nome para a corrida ao governo alemão.
Partido de centro
Quando uma convenção virtual da CDU elegeu Laschet como líder partidário em janeiro passado, com 53% dos votos dos delegados, e uma votação postal subsequente o confirmou com 83,5%, muitos o viram como um fiador do curso político de Merkel.
Laschet, um dos cinco vice-presidentes federais da CDU desde 2012, sempre foi um parceiro confiável dos presidentes do partido que o antecederam, seja Angela Merkel (até 2018) ou Annegret Kramp-Karrenbauer (entre 2018 e 2020). Ele representa uma “CDU no centro”, sempre prometendo em seus discursos que “só venceremos se nos mantivermos fortes no centro”.
Foi com essa afirmação que Laschet se elegeu governador em 2017 do estado alemão mais populoso e líder partidário neste ano. Ao mesmo tempo, este católico nascido em Aachen vincula-se com bastante frequência e de forma consciente à tradição da CDU, por muito tempo moldada pelos renanos. Até agora, apenas um dos oito chanceleres alemães veio da Renânia do Norte-Vestfália: o primeiro deles, Konrad Adenauer, cofundador da legenda. A sede do partido em Berlim leva seu nome até hoje.
Lealdade a Merkel
Laschet sempre cooperou estreitamente com Merkel. Quando a chefe de governo enfrentou fortes críticas dentro do partido devido à entrada de centenas de milhares de refugiados na crise migratória europeia, Laschet permaneceu seu fiel companheiro e aliado.
Mas, durante os percalços da luta contra a pandemia de coronavírus, Laschet gradualmente se distanciou da chanceler. No início, ele tentou um ato de equilíbrio. Mas no final de março, quando, na luta para reforçar as restrições durante a Semana Santa, a chanceler Merkel e os governadores apresentaram um plano criticado por quase toda a Alemanha, Laschet claramente se distanciou. “Não podemos continuar assim”, disse, de modo suplicante e ameaçador.
Isso se encaixa na situação extraordinariamente dramática dos conservadores. As razões para isso são inúmeras: as dificuldades em conter a pandemia, vários casos de corrupção nas fileiras da bancada parlamentar. Além disso, uma chanceler que é muito valorizada a nível internacional, mas é um “pato manco” a nível doméstico devido ao fim de seu mandato. A popularidade da CDU nas pesquisas mostra que o caminho para a chancelaria não será fácil. Ou até mesmo termina em um beco sem saída.
Laschet quer lutar. Durante semanas, ele prometeu a seu partido modernização e recomeço, sem se importar muito com os 15 anos de chancelaria da CDU. E lembra da liberdade e responsabilidade como as bases da política democrata-cristã. “Podemos mudar, mas nos acomodamos demais nos últimos anos”, anunciou no início da campanha eleitoral de seu partido.
E não é incomum Laschet fazer um grande discurso, como ao se candidatar à presidência da CDU. Ele prometeu um novo começo na proteção do clima e um ministério digital e, ao mesmo tempo, alertou contra a burocracia e o excesso de regulamentação.
Laschet e os verdes
Agora, após vencer a duras penas o chefe da CSU, Markus Söder, Laschet precisa reunificar o partido, atrair para si facções partidárias frustradas e partir para o ataque ao Partido Verde, cuja candidata, Baerbock, representa outra geração.
Logo Laschet, que décadas atrás tinha quase mais aliados entre os verdes do que no próprio partido em questões sobre política de integração. Laschet, que, depois de entrar no Bundestag (Parlamento alemão), em 1994, trabalhou rapidamente para o estabelecimento de uma relação de confiança entre os políticos do CDU e os verdes.
Já em janeiro, o slogan de Laschet como candidato à presidência da CDU também era adequado como um slogan para uma campanha eleitoral para a chancelaria: “Transformar os anos 20 numa década de modernização para a Alemanha: novo dinamismo econômico, segurança abrangente, melhores e mais justas oportunidades educacionais”.
Se algo chamou a atenção desde meados de janeiro foi que, como governador, Laschet tentou também enxergar o lado da economia durante as negociações sobre restrições na pandemia.
Política de baixo para cima
Laschet conhece todos os lados da política. Formado em direito, foi membro da câmara da cidade de Aachen (1989-2004), do Bundestag (1994-98), do Parlamento Europeu (1999-2005) e da assembleia estadual da Renânia do Norte-Vestfália (desde 2010). Criado na região da fronteira com a Bélgica, ele é um europeu por vocação.
Desde 2019, Laschet também é o representante da Alemanha para relações culturais franco-alemãs, mantendo contato estreito com a liderança política em Paris.
“Armin Laschet é um político que tem todos os pré-requisitos para exercer os mais altos cargos partidários e estaduais em nível nacional”, diz há muitas semanas a página inicial da Fundação Konrad Adenauer, próxima à CDU.
Laschet terá que convencer os eleitores disso. “Um governador que governa com sucesso um estado de 18 milhões de habitantes também pode ser chanceler federal”, ele próprio gosta de dizer.
Para fazer isso, ele agora precisa envolver a CSU, que fez campanha por Söder por semanas – e todos os elogios a Söder soavam como críticas a Laschet. E em sua CDU em crise também há um trabalho de motivação a ser realizado. Problemas não faltam: da CDU no leste do país, que na luta contra o Alternativa para a Alemanha (AfD) esperava poder contar com o enérgico e autoconfiante Söder; até as mulheres na legenda, que sempre se orgulharam de Merkel e agora não representam sequer um quarto dos candidatos nos distritos eleitorais do país.
O caminho para a chancelaria ainda é longo para Laschet. Longo e espinhoso.