Internacional
Dia a dia escolar na Coreia do Sul em tempos de coronavírus
Poucas sociedades são tão voltadas para a educação como a do país do Leste asiático. Mas em meio à pandemia de covid-19, mesmo na Coreia do Sul as escolas têm que operar sob restrições rigorosas.
Pode-se dizer que na Coreia do Sul há muito tempo o clima é de verdadeira normalidade. Os moradores de Seul, metrópole de 10 milhões de habitantes, vão para o escritório todas as manhãs, e na hora do rush voltam a lotar as ruas. E os restaurantes da capital também são muito bem frequentados.
Ainda assim, a reabertura das escolas permanece tímida. Quando, por exemplo, um funcionário da lanchonete da escola de ensino fundamental Cheongdam, no bairro nobre de Gangnam, testou positivo para a covid-19 na quarta-feira (22/07), a instituição teve que fechar imediatamente, sob grande clamor da mídia. Desde então as aulas são realizadas exclusivamente online. Quase 200 alunos e professores foram intimados a fazer um teste para o vírus.
Quando o assunto é contenção do coronavírus, a Coreia do Sul geralmente é considerada um país modelo. É verdade que o tigre asiático foi afetado pela pandemia muito rápido devido à proximidade geográfica e econômica com a China, onde o vírus surgiu em dezembro, mas até agora o país tem mantido o risco do vírus basicamente sob controle e sem confinamento generalizado.
Apesar de vários grandes surtos de contágio, inclusive em cerimônias religiosas e, mais tarde, numa boate, isso foi possível sobretudo através do rastreio intenso de possíveis infectados por meio de vigilância tecnológica. Atualmente, as novas infecções diárias se encontram na casa das dezenas. Ao todo, as autoridades da sul-coreanas registram pouco mais de 14 mil infectados e menos de 300 mortos.
Em poucos países o fechamento das escolas provocou tanta polêmica. Afinal, a sociedade sul-coreana é notória pela importância que dá ao setor da educação, com seus estudantes liderando todos os anos a avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
Ainda assim, devido ao recrudescimento das infecções com o Sars-cov-2, a reabertura das escolas foi adiada cinco vezes. De início a volta foi gradual: em 20 de maio começaram as aulas presenciais para o último ano do ensino médio, dois meses depois do inicialmente planejado. No começo de junho, seguiram-se os alunos a partir do ensino fundamental, embora centenas de escolas tenham fechado novamente depois que um surto se espalhou por Seul.
Deste modo, o cotidiano escolar transcorre atualmente sob restrições rígidas, sem exceção. A temperatura corporal de cada aluno é medida à entrada das instituições educacionais. Tanto a exigência do uso constante de máscara quanto as medidas de distanciamento social se aplicam durante toda a jornada escolar, e os alunos se sentam sozinhos em mesas antes destinadas a dois.
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Nas universidades, por sua vez, o cotidiano já transcorre normalmente. Só a primeira metade do semestre de verão transcorreu basicamente online, o que desencadeou discussões acaloradas na sociedade: sobre como realizar exames justos, por exemplo, ou se a infraestrutura da internet basta, e se os estudantes teriam direito ao reembolso parcial das anuidades.
Na quarta-feira, a renomada Universidade Konkuk, em Seul, reduziu em 8,3% as taxas para o próximo semestre de inverno, o que corresponde a cerca de 280 euros. Espera-se que outras instituições façam o mesmo.
Como o país está algumas semanas à frente da Europa no combate ao vírus, um olhar para a Coreia do Sul sempre oferece informações valiosas sobre o futuro. Elas não são muito tranquilizadoras: um amplo estudo entre 6 mil famílias mostrou que também crianças menores de dez anos transmitem o vírus, mesmo que com a metade do risco – possivelmente por exalarem menos ar, em geral, ou por serem assintomáticas na maioria dos casos. Os jovens entre 10 e 19 anos, por sua vez, são pelo menos tão infecciosos quanto os adultos.
A mensagem do estudo é clara: as escolas em todo o mundo serão provavelmente focos de infecção pelo vírus repetidas vezes, e, portanto só devem funcionar sob restrições estritas.
No próximo semestre, a Coreia do Sul enfrentará o desafio de como realizar o exame de acesso à universidade, denominado “Suneung”, que já foi adiado de 19 de novembro para 3 de dezembro. Especialistas em educação, pais e alunos já reclamam que a geração da covid-19 sofrerá uma desvantagem competitiva por causa do confinamento. Em enquete recente com alunos do ensino médio, bem mais da metade expressou tal receio.