Internacional
Fanático por Jogos Olímpicos
Há 15 anos, o japonês Kazunori Takishima participa de todas as edições dos Jogos. Ele gastou ao equivalente a 35 mil euros em ingressos para os eventos de Tóquio, mas, devido à pandemia, não pode assistir à competição
Durante os Jogos Olímpicos, Kazunori Takishima costuma pintar seu cabelo nas cores dos anéis olímpicos. Nos últimos Jogos, no Rio de Janeiro, por exemplo, a cor foi verde. Desta vez, em Tóquio, é vermelho, para demonstrar seu apoio aos atletas japoneses.
Takishima hospeda três conhecidos de Hokkaido em sua casa em Chio, um bairro de Tóquio. Ele lhes deu ingressos de presente para algumas competições, para que entendam e compartilhem seu entusiasmo pelos Jogos Olímpicos.
35 mil euros por 197 ingressos
Por ironia do destino, eles não podem ir às competições, pois mesmo a população da capital japonesa está impedida de assistir aos torneios devido às restrições da pandemia. Os amigos vieram de qualquer forma, apesar da distância de cerca de 1.300 quilômetros. “Kazunori é simplesmente louco pelos Jogos Olímpicos. Eu não entendo nada disso. Mas de alguma forma também é maravilhoso, e é por isso que quero apoiá-lo”, diz Soko Fusimoto.
Takishima comprou 197 ingressos para as disputas olímpicas e gastou o equivalente a cerca de 35 mil euros. Ele mesmo queria ir a 28 provas, as demais entradas eram destinadas a amigos e familiares. Agora, resta a eles assistir aos Jogos pela televisão.
A paixão de Takishima pelas Olimpíadas começou há 15 anos. Por acaso, ele participou de uma competição de patinação artística. Ele ficou fascinado com o som das lâminas no gelo e decidiu comprar um ingresso para os Jogos de Inverno em Turim. Lá, ele viu a japonesa Shizuka Arakawa ganhar a medalha de ouro. Assim, ele foi contaminado pelo espírito olímpico e desde então esteve em todos os Jogos.
“Os atletas trabalham tão duro. Cada vitória, cada derrota, sejam lágrimas de alegria ou de decepção, elas me tocam incrivelmente”, explica Takishima. “Isso me inspira em meu trabalho e em minha vida em geral. Isso me dá muita coisa.”
Tão perto, mas tão longe
Takishima é agente imobiliário. Ele já esteve em sete Jogos de Verão e de Inverno. Mas no oitavo, justamente em sua cidade natal, ele não tem permissão para entrar nos estádios. “Isso me deixa muito, muito triste. Eu estava tão ansioso por isso.” Durante a cerimônia de abertura, ele ficou em frente ao estádio olímpico, acompanhando as imagens da TV pelo celular. Ao menos ele pôde ver os fogos de artifício ao vivo.
Takishima já assistiu a um total de 106 competições olímpicas ao vivo. Turim, Pequim, Vancouver, Londres, Sotchi, Rio de Janeiro, Pyeongchang – onde foi melhor? “Todos foram grandes, não quero destacar um em particular”. Como ele tenta assistir ao máximo de competições possível, ele dorme muito pouco durante os Jogos. No Brasil, por exemplo, teve um dia em que ao sair do estádio ele desmaiou de exaustão e ficou dormindo num gramado.
Anedota olímpica e recorde
Ele conta uma anedota acontecida em Sochi, na Rússia, sete anos atrás, onde Mao Asada, tricampeã mundial e medalhista olímpica de prata em 2010, foi vaiada pelo público russo durante a patinação artística. Takishima gritou bem alto várias vezes: “você vai conseguir, Mao!”. As câmeras de TV capturaram seu protesto, mas não o identificaram e creditaram o apoio ao também patinador e campeão olímpico Yuzuru Hanyu.
Quando Takishima chamou a atenção sobre o engano nas mídias sociais, muitos duvidaram dele e fizeram comentários maldosos. “Mas um teste de voz provou com 99,9% de certeza que fui eu”, diz ele, rindo.
Em Tóquio 2020, Takishima queria estabelecer um novo recorde como a pessoa que mais esteve em competições olímpicas. O recorde anterior, de acordo com o Livro Guinness de Recordes, são 128 torneios. Takishima teria chegado a 134. “Mas realmente não me importo com isso, teria sido apenas mais uma boa anedota.”
Talvez ela possa contá-la da próxima vez. Em Pequim, no ano que vem, ou em Paris, em três anos, no máximo.