Internacional
Alemanha inicia mediação entre Grécia e Turquia
Atenas e Ancara divergem sobre soberania de área do Mediterrâneo Oriental considerada rica em reservas de gás natural. Enquanto turcos enviaram navio de pesquisa sísmica, gregos anunciaram exercícios militares na região.
A Alemanha deu início a uma missão de mediação entre a Grécia e a Turquia numa tentativa de acalmar as tensões na região. Há preocupações de que possa eclodir um conflito militar entre os dois países, aliados na Otan, em relação às disputadas fronteiras marítimas, consideradas ricas em recursos de hidrocarbonetos.
A Grécia e a União Europeia (UE) afirmam que a exploração turca de petróleo e gás natural na região do Mediterrâneo Oriental é ilegal. A Turquia contesta que a área está dentro de sua zona econômica exclusiva.
“As janelas de diálogo entre a Grécia e a Turquia devem estar abertas, e não fechadas”, disse o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, nesta terça-feira (25/08), em Berlim, pouco antes de viajar para Atenas – sua segunda ida à capital grega em menos de um mês.
Em seguida, Maas seguirá para Ancara, onde se reunirá com o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu. “Em vez de novas provocações, definitivamente precisamos de medidas de distensão e iniciar discussões diretas”, acrescentou o ministro alemão.
A Alemanha, que ocupa a presidência rotativa do Conselho da UE, considera que o entrevero entre Turquia e Grécia “só pode prejudicar a todos, mas em particular aos que estão diretamente envolvidos na questão”, segundo Maas. O chefe da diplomacia alemã se reuniu com seu homólogo grego, Nikos Deindas, e com o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, e concordaram na “necessidade de uma desaceleração”.
A União Europeia, por meio de seu ministro de Assuntos Exteriores Josep Borrell, pediu a Ancara que cesse “imediatamente” sua busca por campos de gás natural no Mar do Mediterrâneo e planeja resolver a disputa que afeta diretamente a Grécia e o Chipre – membros do bloco europeu – nos dias 27 e 28 de agosto em Berlim.
Ancara teme ser excluída do compartilhamento das vastas reservas de gás natural da região e enviou em 10 de agosto navios da Marinha para uma área reivindicada pela, o que gerou tensões com Atenas e preocupa a Europa.
Um sinal de que a crise está meramente no início foi emitido pelo próprio presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que, encorajado pela descoberta de um grande campo de gás natural no Mar Negro, anunciou na sexta-feira que a Turquia vai acelerar a prospecção no Mediterrâneo Oriental.
Manobras militares no Mediterrâneo Oriental
Tanto Ancara quanto Atenas anunciaram que a partir desta terça-feira realizarão exercícios militares no Mediterrâneo Oriental.
Quanto à Grécia, trata-se de um “exercício aeronáutico ao largo das costas das ilhas de Creta, Cárpatos e Castelorizo”, com a participação exclusiva de aeronaves gregas, relatou uma fonte militar à agência de notícias AFP. Em seguida, será realizada uma manobra de treinamento com a Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos, além de uma terceira ao sul de Creta, na segunda-feira, executadas por forças gregas e americanas.
Em relação à Turquia, o Ministério da Defesa do país anunciou o lançamento de “exercícios militares de transição”, com a participação de “navios turcos e aliados”, ao sul da ilha de Creta. A imprensa turca classificou essas manobras como uma “resposta” ao alerta marítimo (Navtex) divulgado por Atenas no domingo.
A pequena ilha grega de Castelorizo, localizada a apenas dois quilômetros da costa turca, simboliza a raiva de Ancara. Para Atenas, as águas ao redor da ilha estão sob soberania grega, mas a Turquia considera que essa posição priva os turcos de dezenas de milhares de quilômetros quadrados ricos em reservas de gás natural.
“A partir de agora, a Grécia será responsável pelo menor transtorno que ocorrer na região”, disparou Erdogan, na segunda-feira. A disputa já resultou numa confrontação entre uma fragata turca e um navio cargueiro grego na região.
“Nossos navios de perfuração continuam suas operações conforme planejado”, disse o ministro da Energia da Turquia, Fatih Donmez, nesta terça-feira. A intenção é “perfurar poços em locais com potencial”. “Nossos argumentos são sólidos de acordo com o Direito Internacional. A Grécia une forças com certos países para parecer ter a verdade, porque ela carece de credibilidade”, acrescentou Donmez.
O objetivo de Atenas seria a “delimitação das zonas marítimas desta região”, sublinhou nesta terça-feira o porta-voz do governo grego, Stelios Petsas, à emissora pública grega ERT. Com sua presença em Atenas e em Ancara, “a Alemanha está tentando fornecer uma saída para o entrave causado pela posição turca”, concluiu.