Internacional
Merkel espera mais refugiados após tomada de Cabul
“Devemos fazer tudo o que pudermos para ajudar os países a apoiarem os refugiados”, afirmou a líder alemã. Alemanha planeja tirar do Afeganistão ao menos 10 mil pessoas, utilizando ponte aérea com o Uzbequistão
A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou esperar que o número de refugiados aumente após a tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão.
“Muitas pessoas tentarão deixar o país”, disse Merkel à agência de notícias AFP nesta segunda-feira (16/08), após reunião dos comitês de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), em Berlim.
Merkel afirmou que a decisão dos Estados Unidos, em maio, de retirar as tropas do Afeganistão causou um “efeito dominó” que acabou por culminar com o Talibã no poder.
Após a decisão de Washington, a Alemanha retirou em junho as tropas que mantinha no Afeganistão e que constituíam o segundo maior contingente internacional no país, atrás apenas dos EUA.
A chanceler se disse chocada com a situação no Afeganistão. “Para muitos que construíram o progresso e a liberdade – especialmente as mulheres – esses são eventos amargos”, afirmou.
Segundo Merkel, o governo alemão trabalha agora em estreita colaboração com os países vizinhos ao Afeganistão e com os Estados Unidos para retirar o maior número possível de pessoas da capital, Cabul.
“Devemos fazer tudo o que pudermos para ajudar os países a apoiarem os refugiados”, afirmou Merkel. “O assunto vai nos manter ocupados por muito tempo”, acrescentou.
A ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, informou que, enquanto for possível, “a Bundeswehr tirará o máximo de pessoas do Afeganistão e manterá o transporte aéreo”.
No entanto, isso depende, sobretudo, do apoio das tropas americanas para manter o aeroporto de Cabul aberto. “Sem a ajuda dos americanos, não poderíamos cumprir tal missão”, afirmou Merkel.
Nesta segunda-feira, os EUA anunciaram que enviarão outro grupo de cerca de 1.000 soldados para proteger o aeroporto de Cabul.
Operação de evacuação
O governo de Merkel espera trazer à Alemanha ao menos 10 mil pessoas do Afeganistão, entre cidadãos alemães e indivíduos que trabalham para o país, como advogados e ativistas de direitos humanos, além de suas famílias.
Aeronaves militares alemãs foram enviadas ao Afeganistão. Elas farão uma ponte aérea com Tashkent, no Uzbequistão, de onde as pessoas seguirão em aeronaves civis para a Alemanha. Os aviões contam com capacidade para 114 passageiros e estão equipados com proteção especial contra ataques, por exemplo, de foguetes.
De acordo com o porta-voz do ministro do Interior, Horst Seehofer, vistos também poderão ser emitidos após a entrada dessas pessoas na Alemanha.
A missão de evacuação é possivelmente a maior já executada pela Alemanha e é particularmente arriscada. “Uma coisa é certa: é uma missão perigosa para nossos soldados”, escreveu o Ministério da Defesa no Twitter.
Partidos de oposição vêm criticando o governo pela demora na retirada de alemães do Afeganistão. No domingo, partiu de Cabul um avião americano com 40 cidadãos alemães a bordo e que já se encontra no Catar, de acordo com a rede de televisão ARD.
O governador da Renânia do Norte-Vestfália e candidato à Chancelaria Federal pela CDU, Armin Laschet, defendeu que também sejam retiradas do país mulheres em risco, como advogadas, prefeitas e professoras, que poderiam “se tornar as primeiras vítimas do Talibã”.
“Uma das piores derrotas no Ocidente, isso está fora de questão”, afirmou Laschet.
União Europeia em alerta
Para que a situação de 2015 não se repita, quando a Alemanha e outros países da Europa receberam um grande número de refugiados após a guerra na Síria, “o foco deve ser o fornecimento de ajuda humanitária no local a tempo”, defendeu Laschet.
“Acredito que não devemos enviar agora o sinal de que a Alemanha pode basicamente acolher todos os que precisam”, afirmou.
Segundo ele, a comunidade internacional deve “apoiar os países vizinhos e ajudar a aliviar a catástrofe humanitária”.
Grécia, Itália, Espanha, Malta e Chipre, países por onde grande parte dos refugiados chegam à Europa, também estão preocupados com o aumento do número de refugiados. Por essa razão, os ministros das Relações Exteriores dos países da União Europeia devem debater a questão em uma videoconferência extraordinária na tarde desta terça-feira.
Tomada de Cabul
O grupo radical islâmico tomou Cabul após uma ofensiva-relâmpago e sem enfrentar resistência significativa, 20 anos depois de ser expulso da capital por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
As forças de segurança afegãs treinadas pelo Ocidente colapsaram em poucos dias, mesmo antes da conclusão da retirada das tropas americanas do país, iniciadas em maio e com prazo final previsto para 31 de agosto.
Apesar das duas décadas de suporte militar e do investimento de bilhões de dólares, os EUA falharam na tentativa de estabelecer um governo democrático no Afeganistão capaz de resistir ao Talibã.
Nesta segunda-feira, o caos se instaurou no aeroporto de Cabul, com todos os voos comerciais cancelados e milhares de pessoas desesperadas tomando a pista e tentando subir em qualquer avião que fosse decolar.
Ao menos cinco pessoas morreram ao tentar entrar em aviões, relataram testemunhas à agência de notícias Reuters.