Internacional
Alemanha corre para retirar colaboradores afegãos de Cabul
Estados alemães pedem ao governo federal ações para acolher pessoas que colaboraram com as Forças Armadas no Afeganistão nos últimos 20 anos, mesmo que seja necessário negociar com o Talibã
Assim com os demais países que se apressam em retirar seus cidadãos do Afeganistão após a tomada de poder pelo Talibã, a Alemanha tenta desesperadamente organizar a evacuação dos cidadãos locais que colaboraram com a Bundeswehr – as Forças Armadas alemãs – e missões humanitárias durante os últimos 20 anos.
Nesta quarta-feira (18/08), secretários estaduais do Interior pediram ao Ministro do Interior, Horst Seehofer, o início de um novo programa de admissão de refugiados afegãos no país.
A iniciativa foi liderada pelo secretário do Interior da Baixa Saxônia, Boris Pistorius, segundo o qual, um programa federal de acolhimento seria uma solução mais rápida e eficiente do que os estados tentarem organizar separadamente o transporte de cidadãos afegãos para a Alemanha.
O governador, membro do Partido Social-Democrata (SPD), prometeu apoio total para quaisquer operações desse tipo, e disse que Berlim “pode contar com os estados”.
“As preparações já começaram, nós já temos a capacidade” de receber os afegãos que trabalharam com as agências e ONGs alemãs, além de jornalistas e ativistas dos direitos humanos, assegurou Pistorius.
Ele pediu que Seehofer pressione os outros ministros do Interior europeus a acolher os afegãos que estão sob ameaça, após a tomada de poder pelos islamistas. “A Alemanha não conseguirá lidar com tudo isso sozinha. Isso requer a solidariedade da comunidade europeia de nações”, disse o governador.
Pistorius apelou ao governo federal que converse com os países vizinhos ao Afeganistão, para que também acolham os refugiados.
Alemanha terá de negociar com o Talibã
Roderich Kiesewetter, ex-militar e parlamentar da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler federal Angela Merkel, afirmou em entrevista à DW que o Ministério do Exterior deveria “iniciar negociações com o Talibã” para que seja possível “ter uma chance de recolher as pessoas que nos ajudaram durantes duas décadas”.
Kiesewetter, que integra a Comissão Parlamentar de Assuntos Externos no Bundestag (Parlamento alemão), alerta que algumas pessoas que trabalharam com o Exército alemão no norte do Afeganistão poderão acabar sendo deixadas para trás. “Não temos ideia de como evacuá-los”, lamentou.
Pedidos de ações urgentes também surgem da própria Bundeswehr. Lucas Wehner, que trabalha para uma organização de voluntários das Forças Armadas que fornece apoio aos colaboradores afegãos, relata as dificuldades de remover essas pessoas do país.
“Tínhamos três casas seguras em Cabul. Tivemos que dissolvê-las em razão da tomada de Cabul pelo Talibã. Esses locais, é claro, acabaram virando armadilhas para nossas equipes locais. Agora, eles estão espalhados pela cidade, nas ruas, e é difícil chegar até eles.”
Wehner conta que todos em seu grupo se sentem frustrados. “Conversamos com o governo alemão durante os últimos dois anos, especialmente nos últimos dois meses. Enviamos cartas à chanceler. Conseguimos que os representantes de direitos humanos de quatro partidos políticos no Bundestag enviassem cartas à chanceler alemã, mas nada disso teve resultado. Por isso, estamos agora nessa situação, e tudo está atrasado demais.”
O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, disse a membros da Comissão Parlamentar de Assuntos Externos do Bundestag que a Bundeswehr havia conseguido retirar de Cabul, até a última segunda-feira, 169 alemães, 49 cidadãos europeus, 103 afegãos e quatro não europeus.