CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Pesquisador da UFPB cria tecnologia para detectar cárie por fotoluminescência e inteligência artificial
O instrumento permite diagnósticos mais precisos, evitando a remoção de tecido dentário sadio
O mestre em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Davi Clementino Carneiro, criou um método de detecção de cárie dentária por fotoluminescência. O instrumento permite diagnósticos mais precisos, evitando a remoção de tecido dentário sadio.
Criado no Laboratório de Biologia Bucal (LABIAL), do Centro de Ciências da Saúde (CCS), o instrumento fez parte da sua dissertação de mestrado, defendida em maio deste ano (2021), no Programa de Pós-graduação em Odontologia (PPGO), sob orientação dos professores Fábio Correia Sampaio e Raimundo Aprígio de Menezes.
Segundo Davi Clementino, o aparelho detecta cárie por processamento de imagem, sob aprendizado de máquina, que é uma ramificação da inteligência artificial. O aprendizado gera um banco de dados que, conforme aumenta, reproduz melhores resultados em diversos tipos de lesões, e dentre as imagens que foram inseridas no banco de dados estão amostras processadas sob fotoluminescência.
“Nosso objetivo é facilitar o diagnóstico e a tomada de decisão em procedimentos odontológicos, para reduzir a necessidade de remoção de tecido sadio e possibilitar melhor visualização de patologias dentárias”, destacou Davi.
Na Odontologia, existem diversas ferramentas que auxiliam no diagnóstico de cárie, como a radiografia. Porém, as tecnologias existentes apresentam diversas barreiras que impedem a segurança, seu acesso e o uso correto.
“Em nossa proposta, o aparelho realiza detecção de lesões de desmineralização em menor tamanho de dispositivo, maior rapidez de resultados, melhor e mais seguro armazenamento de informações, proporciona melhor comunicação entre profissionais e, além disso, com custeio e necessidade de treinamento menor que as mais utilizadas no mercado”, relatou Davi.
O pesquisador ainda pontuou que no planejamento de tratamento de lesões de desmineralização, existe a necessidade de retirada do tecido infectado. Nessa etapa, diversas problemáticas podem ocorrer, como a exposição de polpa dentária pela retirada em excesso de tecido, causada por problemas de visualização.
Outra dificuldade é o consenso de diagnóstico em regiões interdentais. “Quando utilizamos uma ferramenta com o aprendizado de milhares de casos anteriores, temos maior fidelidade em realizar protocolos mais conservadores e sob maior segurança clínica”, contou Davi.
Para desenvolver o protótipo, os pesquisadores realizaram um estudo epidemiológico e diagnóstico com crianças e adolescentes no município de Lagoa Seca, na Paraíba. Ao todo, foram feitas mais de 200 fotografias dentárias.
“A partir destas imagens, pudemos gerar um banco de dados de confirmações de cáries feitas por um instrumento denominado padrão ouro, ou seja, já validado anteriormente e sob confiança de resultado”, explicou.
O software responsável pela detecção foi patenteado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no final do ano passado (2020). Seus componentes físicos passam por aprimoramentos para garantir o funcionamento completo e ininterrupto de suas intenções, além de abrir espaço para outras funcionalidades já sob testes da equipe.
O funcionamento completo da ferramenta ainda segue sob confidencialidade para segurança de patente, mas seus benefícios já se equiparam a instrumentos comercializados mundialmente. Após finalizar os upgrades necessários e realizar os testes finais, o produto poderá ser distribuído para faculdades e sistemas de saúde.
Davi finalizou relatando que a digitalização dos instrumentos de trabalho é uma realidade que alcança a área de saúde. “Precisamos entender que seus benefícios são rapidamente notáveis quando nos dedicamos e confiamos na capacidade de integralizar a tecnologia no cotidiano clínico”.
A pesquisa surgiu em 2019, quando os pesquisadores da UFPB receberam a visita do Professor Elbert de Jong, que trouxe a tecnologia holandesa de detecção por luminescência chamada Quantitative light-induced fluorescence (QLF). Posteriormente, ela foi adquirida pelo Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da UFPB.
Os resultados do trabalho científico proporcionou a premiação de “Bolsista Destaque” pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que financiou o projeto pelo programa Demanda Social (DS), entre os anos de 2019 e 2021. A continuidade do desenvolvimento tem apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).