CIÊNCIA & TECNOLOGIA
“Eu garanto que a Terra é esférica”, diz astronauta da NASA em visita ao Brasil
Charles Duke faz parte do seleto time de doze homens que já pisaram na Lua. O astronauta da NASA fez parte da missão Apollo 16, que pousou na superfície lunar em 21 de abril de 1972 e retornou à Terra seis dias depois, trazendo 95 quilos de material lunar para ser analisado em nosso planeta. E, aos 85 anos, o já ex-astronauta Duke acaba de visitar o Brasil pela segunda vez — agora, para explorar os corredores da exposição Space Adventure, que resgata memorabilias e réplicas de equipamentos do Programa Apollo em uma experiência emocionante para quem é fã do programa lunar da NASA.
A Space Adventure é uma das duas exposições espaciais que estão acontecendo neste mês em São Paulo — a outra é a Futuro Espacial, que explora a retomada da conquista da Lua, bem como os planos de usar nosso satélite natural como “trampolim” para as vindouras missões tripuladas em Marte. Na Space Adventure, temos uma verdadeira imersão no Programa Apollo — ali, há 300 itens reunidos pelo Museu e Centro de Educação Espacial COSMOSPHERE, incluindo réplicas e peças originais jamais exibidas fora dos Estados Unidos.
A exposição, visitada nesta quinta-feira (26) pelo Canaltech, retrata a história das missões espaciais da NASA desde aquelas iniciais, como a Mercury e a Gemini, até chegar nas Apollo, que levaram os primeiros astronautas à Lua com a Apollo 11, em 1969. O programa teve 17 missões — ou seja, Charles Duke, da Apollo 16, foi um dos últimos homens que pisaram em nosso satélite natural, sendo um dos quatro que ainda estão vivos para contar a história.
Entre os grandes destaques da exposição, está uma mesa de controle original de Houston, que fez parte do programa Apollo — e, portanto, faz parte da história da humanidade —, além de trajes espaciais reais e itens curiosos, como uma bota que ainda guarda poeira lunar em seu tecido, ou a pequena bandeira norte-americana que Duke levou à Lua, trazendo-a de volta como recordação.
Também são notáveis câmeras que foram usadas para registrar as fotos e vídeos da Lua que se tornaram tão famosas, como uma autografada pelo astronauta Gene Cernan, da Apollo 17, bem como filmes originais com imagens fotografadas pelo próprio Charles Duke.
Outro ponto de destaque da exposição é a réplica do módulo de comando das Apollo, com 3,23 metros de altura e peso de 5,56 toneladas, que estava na exposição de escotilha aberta para que pudéssemos ver, pessoalmente, seu interior — incluindo os assentos que acomodavam três astronautas por vez, bem como todos os controles internos cuja estética, hoje, é bastante retrofurista, ao menos se compararmos com o visual das naves modernas, como é o caso da Crew Dragon, da SpaceX, cujos controles são baseados em telas sensíveis ao toque com “carinha” de produção de Hollywood.
Um astronauta da NASA no Brasil — e pudemos conversar com ele!
Apenas doze astronautas já pisaram na Lua, sendo que a última vez que isso aconteceu foi em dezembro de 1972, com a Apollo 17. Entre essa dúzia de felizardos, está o general Charles Duke, da Apollo 16, o décimo humano a pisar na Lua e que passou 71 horas na superfície lunar, realizando atividades extraveiculares em 20 delas.
Ao lado de seu comandante John Young, Duke “dirigiu” pela Lua com o rover lunar sucessor do veículo da Apollo 15 — o primeiro já enviado a outro mundo. A dupla percorreu mais de 26 quilômetros e coletou 95 quilos de regolito e rochas para serem analisadas por cientistas aqui na Terra. Enquanto tudo isso acontecia, o terceiro membro da missão, Ken Mattingly, ficou no módulo de comando em órbita, fotografando a Lua de longe e registrando os momentos em que o módulo lunar navegava pelo espaço em direção à superfície.
O trio retornou à Terra em segurança no dia 7 de abril de 1972, numa amerrissagem (ou seja, pouso no mar) no Oceano Pacífico, finalizando, com sucesso, uma missão que durou 11 dias, 1 hora, 51 minutos e 5 segundos — para ser bem exato.
E, em coletiva de imprensa realizada hoje (26) na Space Adventure, Duke respondeu diversas perguntas com carisma e a expertise de ser uma das poucas pessoas que já pisaram em outro lugar que não a Terra.
Quando questionado sobre qual o primeiro pensamento que ele teve assim que chegou à Lua, o ex-astronauta disse:
Quando nós pousamos, tocamos na superfície e sentimos o “baque”, eu gritei do alto dos meus pulmões: “meu Deus, finalmente estamos aqui, isso é fantástico!”. Eu estava tão animado de finalmente estar na Lua… infelizmente, tivemos que dormir assim que chegamos; dormimos por algumas horas e só no dia seguinte vestimos nossos trajes espaciais. Esse procedimento levou umas quatro horas até sairmos da nave. Eu fui o segundo a sair, porque o comandante sempre sai primeiro. Ele deu um pequeno discurso, mas eu não tinha preparado discurso algum, então só pensei um “uau, eu estou na Lua!”. Senti um enorme sentimento de pertencimento, não senti nenhum medo, e esse entusiasmo nunca nos deixou, nós aproveitamos o momento e eu me lembro até hoje dessa emoção.
Mesmo sem ter sentido medo, de fato, algum momento de apreensão certamente aconteceu — afinal, isso é natural do ser humano. Então, quando perguntado sobre os momentos da missão em que ele ficou mais apreensivo, Duke respondeu:
Foram dois momentos. Um deles foi o do lançamento, e o segundo foi não ter controle algum dos paraquedas durante o retorno à Terra. E se eles não funcionassem? Se o lançamento falha ou o paraquedas não funcionam, você está morto. Quando eu vi os paraquedas abertos foi um momento lindo, eu pensei “estamos em casa”.
Então, o Canaltech perguntou a Charles Duke o seguinte: entre todas as lembranças que o astronauta guarda de sua experiência na Lua, qual seria sua memória favorita, aquela que se guarda no coração até o fim da vida? A resposta:
É difícil dizer qual é minha memória favorita. Cada fase da missão teve momentos muito especiais, mas pousar na Lua foi extremamente mágico. Entrar em órbita já foi incrível também. Eu diria que, provavelmente, o momento mais emocionante foi mesmo pousar na Lua. As fotos que nós tirávamos do local de pouso mostravam uma área de 15 metros, e eu podia ver aqueles 15 metros sabendo que eu pousaria ali. Enquanto nos aproximávamos, víamos crateras e muitas rochas, então tivemos que fazer manobras para desviá-las, mas eu me lembro muito do meu comandante escolhendo o local exato do pouso, e isso foi extremamente empolgante — em especial aqueles minutos finais antes do pouso. Essa é provavelmente a experiência mais marcante na minha mente.
Outra dúvida quando se pensa em astronautas que saíram da Terra, de fato, costuma ser quanto à experiência íntima, pessoal, dessas pessoas. Será que viajar à Lua mudou Charles Duke como ser humano?
A experiência de andar na Lua foi uma aventura tremenda. Apesar disso, não posso dizer que foi uma experiência transformadora. Eu não tive nenhuma experiência espiritual como outros astronautas tiveram, e também não passei por experiências psicológicas ou filosóficas. Eu estava aproveitando a viagem muito fisicamente, admirando a bela paisagem lunar e, durante as tarefas que eu tive que fazer, eu não tive tempo para pensar sobre as coisas mais profundas. Depois, eu tive uma experiência quando eu me tornei cristão e comecei a ler a bíblia, e agora eu posso ver em minha mente os exemplos da criação que eu vi lá de perto, no espaço. Mas tudo isso veio depois, não foi um resultado direto de eu ter estado na Lua.
Agora sobre o momento atual da sociedade, em que vemos retrocessos como negações da ciência, incluindo quem acredita que a Terra é plana e coisas do tipo… o que será que Duke pensa a respeito?
Nós temos muitas teorias da conspiração nos EUA, incluindo aquela de que nós nunca pousamos na Lua, que foi tudo forjado. Bom, nós pousamos na Lua várias vezes, isso é inquestionável. Nós trouxemos 300 quilos de regolito, e é possível ver as marcas deixadas pelas nossas naves a partir de fotos tiradas da órbita lunar; também dá para ver os rovers que ficaram por lá, então não há dúvidas de que nós estivemos na Lua. E eu sempre disse à imprensa: por que iríamos forjar [o pouso na lua] tantas vezes? Se fôssemos fazer isso, faríamos uma vez só e “calem a boca”. Outra coisa, sobre a Terra plana… bom, a Terra não é plana — eu posso provar isso com as fotos que nós tiramos a 400 km de distância, e dá para ver o formato esférico da Terra. Além disso, todos os planetas do Sistema Solar são esféricos, por que a Terra não seria? Eu não sei por que as pessoas acreditariam numa Terra plana, mas eu garanto que a Terra que eu vi do espaço é esférica.
A exposição Space Adventures é apresentada pelo Santander, realizada pela Blast Entertainment, com patrocínio da Claro e por meio do Ministério da Cidadania, do Governo do Estado de São Paulo e da Prefeitura Municipal de São Paulo. Tudo acontece em um espaço climatizado no estacionamento do Shopping Eldorado, na capital paulista, e mais informações, incluindo horários e preços de ingressos, você encontra no site da exposição.