Internacional
Sob risco de não eleger sucessor, Merkel ataca candidato social-democrata
Com aliado conservador em apuros nas pesquisas, chanceler federal passa a criticar social-democrata Olaf Scholz após o candidato não descartar formação de coalizão com o partido A Esquerda caso vença a eleição
A chanceler federal Angela Merkel, adotou nesta terça-feira (01/09) uma posição mais agressiva na campanha eleitoral alemã ao criticar em público o candidato social-democrata Olaf Scholz, que aparece à frente nas pesquisas para liderar um novo governo, enquanto o candidato apoiado pela líder amarga números em queda.
Merkel, que é membro da conservadora União Democrata-Cristã (CDU), afirmou que há uma “grande diferença” entre ela e Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), que no momento ocupa os cargos vice-chanceler federal e ministro das Finanças na coalizão de governo.
O SPD e a CDU governam a Alemanha em conjunto desde 2013, mas a convivência tem sofrido uma erosão nas últimos semanas diante do crescimento de Scholz.
Merkel apoia oficialmente nesta eleição o candidato da CDU à Chancelaria Federal, Armin Laschet, governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália.
As últimas pesquisas mostram que o partido de Scholz está em ascensão e aparece com entre 25% e 27,5% das intenções de voto. Já a CDU de Laschet está em queda constante nas últimas semanas, aparecendo com entre 21% e 19,5%, entre as piores marcas já registradas pelo partido conservador.
Merkel, que vai deixar o governo após 16 anos, vinha se limitando a participar de alguns poucos eventos de campanha ao lado de seu candidato. As falas de terça-feira revelam que a chanceler federal resolveu adotar uma posição mais assertiva na reta final.
“Comigo como chanceler federal, nunca haveria uma coalizão com [o partido] A Esquerda (Die Linke), algo que não dá para saber com Olaf Scholz”, disse Merkel à imprensa, em Berlim. A fala foi uma referência à possibilidade de Scholz eventualmente formar uma coalizão de governo que venha a incluir A Esquerda.
À frente nas pesquisas, Scholz, de centro-esquerda, tem evitado publicamente descartar esse cenário, caso vença as eleições.
“Nesse sentido, há uma grande diferença sobre o futuro da Alemanha entre mim e ele”, completou Merkel. “Quero dizer claramente que, para o futuro, e especialmente nesses tempos, são necessárias declarações muito claras sobre a continuação dos trabalhos governamentais.”
Crítica a posições consideradas radicais
O partido A Esquerda tem sido alvo de controvérsia na eleição alemã por causa de algumas de suas posições, consideradas radicais no cenário político alemão. O partido, por exemplo, defende a retirada da Alemanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e uma aproximação com a Rússia. Recentemente, deputados da legenda também se abstiveram de votar numa resolução do Bundestag (Parlamento alemão) que aprovou uma missão de resgaste de civis no Afeganistão.
Mesmo com o SPD à frente nas pesquisas, dificilmente Scholz ou qualquer outro candidato contará com deputados suficientes para liderar um governo de maioria. Assim, o vencedor da eleição será obrigado a negociar uma coalizão que pode incluir dois ou três partidos. A Esquerda aparece com entre 6% e 7% das intenções de voto, o que pode lhe conferir uma posição de fiel da balança para fechar uma aliança de três legendas que garanta mais de 50% das cadeiras no Parlamento.
Por isso, Scholz tem evitado descartar uma cenário que venha a incluir A Esquerda, partido que foi fundado nos anos 2000 por antigos comunistas da Alemanha Oriental e por uma ala mais à esquerda que se separou do SPD.
Antes de Merkel, outros membros da CDU já vinham tentando desgastar a campanha de Scholz, que no momento é de longe o candidato mais popular entre os eleitores alemães. Armin Laschet, da CDU, o candidato oficialmente apoiado por Merkel, que vem amargando uma queda constante nas pesquisas, já havia tentando pressionar Scholz sobre uma eventual coalizão com a Esquerda no debate televisivo do último domingo. Propagandas negativas da CDU também têm tentado pintar o SPD como um partido comandado por “esquerdistas radicais” e distribuído ataques ao secretário-geral da legenda, Lars Klingbeil. Em resposta, Klingbeil disse que a CDU entrou “no modo desespero”.
Scholz está na ala de centro dos sociais-democratas, mas sua sigla é liderada pelo grupo menos centrista. Esse constrangimento intrapartidário abriu um flanco para ataques do candidato da União, Armin Laschet, durante debate na TV no último domingo e, nesta terça, para as críticas de Merkel.
Já o governador da Baviera, Markus Söder (da CSU, o braço bávaro da CDU), elogiou o ataque de Merkel nesta terça-feira. “Todo mundo sabe que Olaf Scholz quer se mover para a esquerda”, disse Söder.
O cenário é especialmente desolador para a CDU porque o social-democrata Scholz, e não Laschet, tem tido sucesso em emplacar entre os eleitores uma imagem de “nova Merkel”, ou uma figura de continuidade tranquilizadora. Recentemente, o ministro das Finanças chegou a posar para uma revista imitando o “Merkel-Raute”, o gesto com as mãos imitando um losango que é a marca registrada da chanceler.