Internacional
Paquistão: Igrejas aumentam segurança receando ataques
O arcebispo de Lahore descreveu uma realidade assustadora, em que é necessário transformar templos de oração em espaços protegidos
As igrejas em todo o Paquistão reforçaram as medidas de segurança em resposta à possível ameaça de ataques terroristas após o regresso ao poder dos Talibãs no vizinho Afeganistão.
Numa reunião de líderes católicos e protestantes, foi decidido aumentar a proteção assim como a vigilância junto aos templos cristãos especialmente aos domingos.
Esta decisão resulta da preocupação de que grupos extremistas possam desencadear ataques contra os cristãos e outras comunidades religiosas minoritárias no Paquistão.
Sajid Christopher, activista dos direitos humanos neste país, afirmou que há efectivamente o receio de o partido Tehreek-e-Taliban Paquistão (TTP), e outras organizações militantes próximas dos extremistas que agora ocupam o poder em Cabul, venham a lançar uma onda de violência contra as minorias religiosas.
Em declarações à Fundação AIS, Christopher afirmou que a chegada ao poder dos Talibãs “vai fortalecer o TTP assim como outros grupos islamitas e isso pode gerar novos ataques”.
Reforço
O reforço das medidas securitárias nas igrejas no Paquistão tem vindo a ser uma constante. De fato, já não é estranho ver pessoas ligadas a equipas de segurança, por vezes até armadas, junto às principais igrejas especialmente durante as celebrações religiosas. Muitos dos que fazem este trabalho são voluntários e desempenham uma missão essencial na prevenção de eventuais ataques terroristas.
Os atentados na última década em Quetta, Lahore ou Peshawar, com igrejas a serem palco de explosões de bombas que causaram mais de uma centena de mortos, são como que um aviso do que pode vir a acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar, face a uma crescente onda de intolerância para com os cristãos.
Independentemente da tomada de poder pelos talibãs no vizinho Afeganistão, a situação já vinha a agravar-se e isso obrigou à transformação das igrejas e centros paroquiais em espaços fortificados e a rever também algumas normas de segurança.
William Arif Khan, por exemplo, lidera uma equipa de 15 voluntários que têm como missão assegurar a protecção dos paroquianos que frequentam a Catedral do Sagrado Coração, na cidade de Lahore.
Medidias
Estes voluntários não substituem as equipas da polícia destacadas para as igrejas mas complementam esse trabalho. “Os voluntários estão equipados com detectores de metais”, explica Arif Khan à Fundação AIS. O objectivo é prevenir a entrada de armas ou de objectos que possam ser usados em possíveis ataques contra os fiéis. “A polícia permite-nos manter algumas armas licenciadas nas instalações da igreja”, diz ainda este responsável.
Estas medidas revelam como é insegura a vida dos cristãos no Paquistão. Em Janeiro de 2018, quando esteve em Portugal a convite da Fundação AIS, D. Sebastian Shaw lamentou esta triste realidade, esta permanente intimidação. E falou da necessidade de as igrejas e as escolas cristãs terem de se proteger de potenciais ameaças construindo muros, colocando câmaras de vigilância, como se fossem “verdadeiras prisões”.
O Arcebispo de Lahore descreveu uma realidade assustadora, em que é necessário transformar templos de oração em espaços protegidos, como única forma de assegurar a tranquilidade dos fiéis. “Hoje em dia, temos de fazer muros muito altos e com arame farpado e câmaras de vigilância nas nossas igrejas e escolas. E temos de ter, também, guardas de dia e de noite. Não temos alternativa.”
Esta ameaça permanente tem posto também à prova a coragem da comunidade cristã. “Temos de estar em alerta, porque estes grupos radicais vão e vêm, como num jogo do gato e do rato. Viver neste ambiente é muito difícil”, sustentou então, D. Sebastian Shaw.
É difícil mas não há alternativa enquanto a sombra ameaçadora do terrorismo continuar a fazer-se sentir sobre a minoritária comunidade cristã. Rezar à sombra de arame farpado e de medidas rigorosas de segurança não é uma opção no Paquistão. É o único caminho para se enfrentar a ameaça dos grupos radicais.