Internacional
Campanha eleitoral alemã entra na reta final
A uma semana da eleição para decidir a sucessão de Angela Merkel, social-democratas lideram as pesquisas. Conservadores e verdes apostam num terceiro e último debate na TV para convencer os 40% de indecisos
A uma semana das eleições legislativas, os líderes dos três principais partidos alemães realizam seu último debate na TV neste domingo (19/09), na reta final da corrida para suceder a chanceler federal alemã, Angela Merkel.
Segundo as sondagens, o ministro das Finanças e vice-chanceler social-democrata, Olaf Scholz, venceu os dois debates anteriores, apresentando-se como um gestor calmo e experiente, qualidades essenciais para os alemães.
O conservador Armin Laschet, que seria considerado o herdeiro natural de Angela Merkel, por pertencer ao mesmo partido, tem sido combativo nesta reta final, após um início de campanha marcado por tropeços, que lhe custaram o favoritismo nas sondagens.
Laschet nunca conseguiu retomar a iniciativa. O bloco conservador, que inclui sua legenda, a União Democrata Cristã (CDU), e o partido irmão União Social Cristã (CSU), da Baviera, perdeu terreno e está posicionado em segundo nas pesquisas, com entre 20% e 22% da intenção de votos, contra 25% a 26% para o Partido Social-Democrata (SPD).
Os verdes e sua candidata, Annalena Baerbock – que inicialmente causou euforia ao ser nomeada para liderar a sigla nas eleições em momento de alta do partido, mas perdeu popularidade devido a acusações de plágio e incorreções em seu currículo –, atualmente têm entre 15% e 17%, valor que parece distanciá-la do sonho de chefiar o governo alemão.
Os liberais do FDP e os ultradireitistas da AfD obtêm cerca de 11%, seguidos pelos socialistas do A Esquerda, com 6%.
O candidato liberal, Christian Lindner, voltou a definir seu partido como “o único que pode garantir uma política de centro”. Em comícios, tem sublinhado que o FDP poderá exercer uma “influência decisiva” no novo governo se conseguir na semana que ainda resta alcançar os verdes e tomar o terceiro lugar na corrida eleitoral.
Surpresas
Surpresas não devem ser descartadas nessa disputa. Quarenta por cento dos eleitores alemães ainda não sabem em quem votar, de acordo com um estudo do Instituto Allensbach. Soma-se a isso as margens de erro nas pesquisas e outro detalhe importante neste ano, devido à pandemia: o voto por correspondência.
Em qualquer caso, os ambientalistas devem desempenhar um papel crucial na formação de um governo de coalizão, que, tudo indica, deverá ser composta por três partidos.
O último debate televisivo deve dar a Laschet, de 60 anos, uma última chance de superar Scholz, de 63. E assim evitar uma derrota humilhante dos conservadores para a oposição, como preveem as pesquisas. As sondagens atualmente preveem uma queda de cerca de 10% em relação aos votos que eles conseguiram na votação anterior para o Bundestag, em 2017.
Laschet, governador do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, e conhecido por sua contenção, não para de insistir que o espectro político do país vai se deslocar para a esquerda no caso de uma aliança entre o SPD, os Partido Verde e os socialistas do partido A Esquerda. A combinação é tida como a mais provável, de acordo com as pesquisas e segundo analistas políticos.
É verdade que, para considerar uma possível aliança, Scholz e Baerbock descreveram a oposição do A Esquerda em relação à Otan como uma “linha vermelha”. Mas nenhum deles excluiu formalmente uma coalizão com o partido.
Fator Merkel
O candidato da CDU/CSU também tem atacado Scholz frontalmente, relacionando o social-democrata, entre outras coisas, a uma incômoda investigação judicial sobre irregularidades dentro de uma unidade de combate à lavagem de dinheiro que faz parte de seu ministério. Scholz terá de se explicar sobre o assunto nesta segunda-feira, perante o Comitê de Finanças do Bundestag.
Merkel, que deixará a cena política após 16 anos no poder, continua muito popular. Ela inicialmente se afastara da campanha, antes de ser compelida por correligionários a ir em socorro de Laschet. A ainda chanceler participa ao lado dele de numerosos comícios.
“Isso deve beneficiá-lo”, diz o cientista político Karl-Rudolf Korte, da Universidade de Duisburg. “Assim como beneficiou todos aqueles que nos últimos anos optaram por ficar perto de Merkel.”
Mas seja qual for o resultado da eleição, o campo conservador está se preparando para um resultado historicamente baixo, o que pode lançar uma sombra sobre o balanço final da era Merkel. O acerto interno de contas já começou: Wolfgang Schäuble, muito influente ministro da Fazenda alemão entre 2009 e 2017, a culpou por enfraquecer a CDU, em entrevista neste domingo no jornal Der Tagesspiegel, acusando falhas da chanceler ao preparar sua própria sucessão.