Internacional
Comunistas vencem eleição na segunda maior cidade da Áustria
Partido Comunista Austríaco recebe quase 29% dos votos no pleito municipal em Graz e desbanca legenda de centro-direita que governava a cidade. Vencedores agora negociam coalizão com verdes e social-democratas
A segunda maior cidade da Áustria, Graz, teve uma guinada inesperada à esquerda nas eleições municipais de domingo (26/09). O Partido Comunista Austríaco (KPÖ) recebeu a maioria dos votos e desbancou o centro-direitista Partido Popular Austríaco (ÖVP), atualmente no poder.
Tudo indica agora que Graz, de 290 mil habitantes e situada no sul do país, se tornará a primeira capital de um dos nove estados austríacos a ser governada pelos comunistas.
Segundo resultados preliminares, o KPÖ obteve 28,9% dos votos na eleição para o conselho municipal (corpo legislativo da cidade), ficando à frente dos conservadores do ÖVP, que conquistaram 25,7% – 12 pontos percentuais a menos que nas últimas eleições.
O prefeito de Graz, Siegfried Nagl, do ÖVP, anunciou logo após o resultado que deixaria o cargo, abrindo caminho para que os comunistas formem um governo. Ele estava no poder há 18 anos.
O KPÖ busca agora agora uma coalizão com os verdes (17,3%) e com o Partido Social‑Democrata da Áustria (SPÖ), que teve pouco menos de 10% dos votos, para formar um governo municipal. Uma aliança com o ÖVP estaria descartada.
Embora o partido já fosse a segunda maior força no conselho municipal de Graz, a líder dos comunistas na cidade, Elke Kahr, disse a repórteres que a vitória agora foi “mais que surpreendente”.
“Algumas pessoas fazem promessas algumas semanas antes das eleições. Mas nós estamos lá todos os dias para o povo, durante anos, especialmente para os mais pobres”, afirmou. “Defendo absolutamente uma visão de mundo e uma sociedade que une, e não divide.”
Inexpressivo a nível nacional
Em Graz, cidade com 220 mil eleitores, é frequente o Partido Comunista obter resultados eleitorais satisfatórios, em contraste com o resto do território austríaco, onde a força partidária é quase inexistente – nas eleições federais do ano passado, a legenda recebeu menos de 1% dos votos.
O apoio – e o crescimento de oito pontos percentuais nesta eleição em comparação com a anterior – se deve a anos de dedicação do KPÖ à comunidade de Graz, com enfoque nas questões locais, especialmente a política habitacional.
A falta de habitação e os altíssimos preços dos aluguéis são um tema que ganha cada vez ganha mais destaque nas discussões na Áustria e em outros países europeus.
Em Graz, o KPÖ levanta a bandeira e trabalha em prol dos inquilinos desde a década de 1990, tendo criado uma linha telefônica de emergência para socorrer inquilinos com problemas com os proprietários.
O histórico da cidade, porém, é outro. No passado, Graz já foi um reduto de nazistas ilegais e chegou a receber o título de “cidade do levante do povo” durante a era nazista.
Já mais recentemente, nos anos 70 e 80, o município foi governado durante uma década por um prefeito do ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), Alexander Götz (1973-1983).
Partido antivacina tem bons resultados
Outra surpresa nas eleições austríacas foi o desempenho de um novo partido criado para se opor às restrições impostas na pandemia de covid-19.
O Menschen-Freiheit-Grundrechte (MFG) conquistou um assento no parlamento do estado da Alta Áustria ao obter mais de 6% dos votos.
Segundo Michael Brunner, líder do partido, a principal preocupação da legenda é a proteção dos direitos fundamentais.
“Nossos antepassados lutaram muito por esses direitos e não vamos desistir”, disse Brunner, que critica abertamente o uso de máscaras, a realização de testes de coronavírus e a vacinação de crianças e jovens contra a covid-19.