CIÊNCIA & TECNOLOGIA
A dismorfia e a geração escrava de filtros e selfies
Entenda o que é o transtorno que leva milhares de pessoas a procurar cirurgias plásticas para ficar com os rostos do jeito que os filtros mostram nas redes sociais
Você já deve ter passado por isso: navegando pelos stories do Instagram, só é possível reconhecer determinada pessoa pela voz. Isso porque o rosto dela parece estar completamente transformado: lábios maiores, bochechas afinadas, sobrancelhas milimetricamente pintadas e ressaltadas, olhos delineadamente exagerados. São os resultados dos filtros, essas ferramentas que transformaram as redes sociais na terra dos corpos e rostos “perfeitos”.
E tem filtro para todos os gostos! Aliás, desenvolver filtros virou até profissão – e das mais rentáveis no universo digital. A clientela é a mais variada: começa pelas blogueiras, passa pelos influencers com milhões de seguidores e pode encontrar espaço, inclusive, nos pequenos anônimos das redes, que querem aparecer um pouco mais “bonitos” em suas selfies.
Filtros como espelhos
O problema são os excessos e o fato de a busca pelo padrão ditatorial de beleza ou pelo rosto perfeito extrapolar as telas e virar uma paranóia real.
Não são raros os casos em que as pessoas querem ter o mesmo rosto que o truque do filtro lhe proporcionou. Ou seja: nada de rugas, linhas de expressão, manchas ou sutis assimetrias.
Uma pesquisa realizada pela American Academy of Facial and Reconstructive Surgery apontou que, em 2020, 90% dos médicos associados relataram aumento médio de 10% na procura pelas cirurgias plásticas faciais. Segundo a academia, durante a pandemia as pessoas ficaram mais expostas às próprias imagens e buscaram melhorar a aparência. Há também muitos casos em que os filtros das redes sociais inspiraram mudanças no visual.
Um jornal brasileiro chegou a divulgar que um jovem gastou mais de R$ 200 mil em cirurgias plásticas para ficar parecido com os filtros que ele mais gosta de usar nas redes sociais.
Dismorfia atinge geração escrava dos filtros
Quando a busca incessante da beleza fabricada no mundo digital atinge o real, a coisa fica mais preocupante. Os especialistas têm até um nome para isso: dismorfia ou síndrome da feiúra imaginária.
Trata-se de um “transtorno psicológico em que existe preocupação excessiva pelo corpo, fazendo com que a pessoa sobrevalorize pequenas imperfeições ou imagine essas imperfeições, resultando num impacto muito negativo para a sua autoestima” e interferindo em suas relações reais.
O médico dermatologista Geraldo Magalhães foi entrevistado pela TV UFMG e confirmou que pacientes chegam até ele querendo transformar o rosto para que ele se assemelhe aos filtros da internet. Mas o especialista alerta: na maioria das vezes isso não é possível. “A gente tem que esclarecer ao paciente sobre o que realmente é necessário fazer, o que realmente está incomodando o paciente, verificar com ele o que pode ser alterado ou não…Porque os filtros vão se multiplicar e a gente não tem como limitar isso. A prática [cirúrgica] é outra: existem riscos e complicações”, explicou.
Aceitar o corpo que Deus nos deu
Sim, precisamos cuidar de nossos corpos, manter uma boa alimentação e adotar hábitos que melhorem nossa saúde física e mental. Tudo isso parte da nossa responsabilidade como cristãos. Mas tudo de forma o mais saudável possível.
O fato é que devemos sempre nos lembrar de que Deus, em sua infinita bondade, nos deu um corpo perfeito. E aceitar nosso corpo – da forma como ele realmente é – é um dos passos que nos levarão a cumprir os planos que Ele tem para nós. Nenhum filtro é capaz de imitar a beleza que Deus nos proporcionou, tampouco barrar a Sua misericórdia.
Certamente, nessa era de tantos padrões de beleza ditados pela internet, em que muitas pessoas podem ser tentadas a ser escravas dos filtros, esse trabalho de aceitação, por vezes, é árduo. Mas não tem jeito: é autoaceitação que vai nos curar e liberar espaço em nossas mentes para coisas muito mais importantes, como os aspectos ligados à educação, à família e ao amor ao próximo e a Deus.