CONCURSO E EMPREGO
Mercado de trabalho para pessoas com deficiência é tema do Caminhos
Programa da TV Brasil vai ao ar neste domingo, às 22h
Criada há três décadas para assegurar a inclusão no mercado de trabalho brasileiro, a Lei de Cotas tem dado oportunidades a pessoas com deficiência, mas ainda enfrenta desafios para ser amplamente cumprida.
No país, as empresas com 100 funcionários ou mais são obrigadas a destinar vagas para pessoas com deficiência. Atualmente, cerca de 372 mil profissionais com deficiência estão empregados na Administração Pública, em empresas públicas e sociedades de economia mista e nas empresas privadas, o que representa uma ocupação de apenas 53% das vagas reservadas.
Em municípios menores, as chances de postos formais são mais reduzidas, porque os pequenos negócios da economia local não estão sujeitos à obrigatoriedade de reserva de vagas.
O Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, foi conhecer a realidade de pessoas com deficiência que vivem nos municípios de Soure e Salvaterra, que ficam na Ilha de Marajó, no Pará.
Há 23 anos à frente da Associação de pais, amigos e deficientes de Soure, Derci Pereira ressalta que a maioria das atividades feitas por essas pessoas ainda é informal. “Temos aproximadamente 200 associados com todos os tipos de deficiência, física, auditiva, visual, síndrome de down.” Ela conta que muitos deles fazem doces caseiros e bordados o que, além de preservar a cultura marajoara, trazem renda para as famílias.
O secretário nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Claudio Panoeiro, reconhece que “a grande debilidade se dá fundamentalmente nas empresas de médio e pequeno porte, principalmente em municípios menores”. Uma das propostas em andamento, segundo o secretário, é um protocolo de intenções com a Associação Brasileira de Supermercados, responsável por 94 mil estabelecimentos espalhados por todo o Brasil. Uma oportunidade de gerar empregos para pessoas com deficiência em todas as partes do território nacional
Mesmo em Belém, capital paraense, onde há um pouco mais de oportunidade, o professor de educação física Davi Pontes relata que já foi desclassificado de processos seletivos de trabalho por ser usuário de cadeira de rodas. Mas não desanima: “a gente tem que continuar batendo na porta, porque uma hora ela vai abrir”.
Carolina Ignarra, da Talento Incluir, já conseguiu mais de oito mil vagas para pessoas com deficiência
Exemplos positivos
Por outro lado, São Paulo concentra um maior número de exemplos positivos. A Natura&Co tem 7% dos colaboradores com algum tipo de deficiência, um índice maior que os 5% impostos pela lei no caso de empresas deste porte. Aline Borges, uma jovem com paralisia cerebral, trabalha na Natura há anos. “Eu quero chegar algum dia num cargo de liderança e quem sabe me tornar uma vice-presidente! E também desejo que a inclusão no Brasil, de fato, aconteça. Mas que seja algo natural”, projeta Aline.
A gerente de diversidade, equidade e inclusão da Natura&Co, Milena Buosi, cita vantagens da contratação de pessoas com deficiência. “Tendo aqui, entre os colaboradores, diferentes pessoas, com diferentes histórias de vida, a gente tende a estar mais próximo das nossas consultoras de beleza e dos nossos consumidores que refletem a sociedade”.
Também em São Paulo, Carolina Ignarra traz outro caso de avanço. Ela criou a Talento Incluir, que já ajudou a empregar mais de 8 mil profissionais com deficiência. Na análise da CEO, “por causa da lei, as empresas querem contratar pessoas com deficiência, mas não sabem como fazer. E percebi que a minha história poderia ajudá-las a olhar para a pessoa a partir do perfil e a deficiência ser acomodada junto”.
Para vencer os desafios que ainda travam a inclusão, o Brasil tem investido na troca de experiências com o programa EUROsociAL+. Para o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ibáñez, a lei de cotas precisa se somar às medidas afirmativas, que “buscam justamente colocar as vantagens que as empresas e o setor público vão ter tendo pessoas com deficiência trabalhando com eles”.
Uma das experiências mostradas pelo EUROsociAL+ ao governo brasileiro é a do Grupo Once, na Espanha, que surgiu de uma organização de cegos criada há 80 anos. Hoje, o grupo tem uma fundação e um conjunto de empresas sociais. É o quarto maior empregador espanhol, com 73 mil trabalhadores, dos quais 60% têm alguma deficiência.
“A partir das experiências dos outros, e isso foi um trabalho fundamental do EUROsociAL+, nós podemos construir um modelo que supere as fraquezas dos modelos anteriores, que corrija as imperfeições identificadas”, destacou o secretário nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Claudio Panoeiro.