Segurança Pública
Ladrões de cemitérios
Um dos indicadores mais vergonhosos, tristes e negligenciados da decadência moral de uma sociedade
A ação dos ladrões de cemitérios é um dos indicadores mais vergonhosos, tristes e surpreendentemente negligenciados da decadência moral de uma sociedade.
Não se trata, afinal, de pessoas que cometem furtos sob a “justificativa” de obter comida ou roupa por absoluta carência do básico, mas sim de vândalos que, desprezando friamente a dor das famílias que perderam seus entes queridos, roubam até dos mortos para lucrar – sobretudo com a venda de metais como o bronze no mercado negro.
“Não sobrou nenhuma cruz”
Em reportagem de março deste ano na região metropolitana de várias capitais e especial em SP, registrou aumento de casos de furtos em cemitérios de Santo André e São Bernardo do Campo, onde grande parte dos casos são de subtração de peças de ouro e bronze dos jazigos.
Segundo funcionária de um dos cemitérios, que pediu para não ser identificada, “a situação piorou desde o início do ano”. Ela comenta:
“De janeiro para cá piorou. Estão arrancando santos, roubando vasos, placas, nomes, portões. Não sobrou nenhuma cruz de paz”.
Venda de metais
Um especialista em reparação de túmulos, consultado pela mesma reportagem e que também preferiu manter o anonimato, reforçou que os criminosos vendem os metais roubados:
“Eles devem vender em quilo, para derreter e revender. O quilo do bronze ’tá’ caro (cerca de R$ 540). A venda de metais é um mercado muito amplo e que está sempre em alta. Esse pode ser um dos motivos para cemitérios, com tantas placas e vasos de metais, atraírem tanto os ladrões”.
De fato, um morador de São Bernardo, de 74 anos, confirmou o impacto dos furtos sofridos em túmulos de familiares:
“Tenho muitos familiares lá. A gente cuida dos túmulos e vão e furtam tudo. Levaram vaso, nome e cruz. Para repor é caro”.
Descaso das autoridades
Muitos outros moradores denunciam ainda o descaso das autoridades municipais como “a pior parte” desse vergonhoso fenômeno.
Embora algumas prefeituras tenham alegado que reforçaram a segurança nos cemitérios e que as ocorrências de furtos são “casos pontuais”, munícipes entrevistados contestam essas alegações e reafirmam que a prática não só é recorrente, como tem piorado notavelmente.
Decadência moral
Estatísticas à parte, o próprio fato de haver um mercado negro para metais roubados de cemitérios é um preocupante indicador de decadência moral.
Independentemente da falta de religiosidade dos criminosos, o fenômeno aponta um grave desprezo pela memória das pessoas falecidas e pela dor de seus familiares, obrigados a conviver com o vandalismo até nos locais que deveriam abrigar em paz os corpos de seus entes queridos que já partiram desta vida.