Saúde
Como saber se você tem uma relação tóxica com a academia
Hábitos e pontos de vista nada saudáveis em relação à atividade física são mais comuns do que você imagina. Essas perguntas ajudam a avaliar o seu comportamento.
Quando falamos de cultura do regime e padrões físicos opressivos e inatingíveis, a conversa geralmente se concentra na comida. Mas trata-se de um tema que vai muito além da alimentação. A obsessão por atingir ou manter um certo tipo de corpo também pode atrapalhar nosso relacionamento com a atividade física – e muitas vezes a cultura fitness incentiva esse tipo de mentalidade negativa.
Como a maioria dos programas de condicionamento físico é construída com base na promessa explícita ou implícita de perda de peso ou “melhoria da composição corporal” (que na verdade significa perder gordura), muita gente pensa no exercício somente como uma maneira de mudar a aparência.
É por isso que é essencial investigar seu relacionamento com a academia. Se ele não for saudável, está na hora de mudar.
Primeiro, vamos falar sobre o lado tóxico da cultura fitness
A fisioterapeuta Ilya Parker dá alguns exemplos de um relacionamento problemático com as atividades físicas:
- Encarar o exercício com o único objetivo de perder peso.
- Acreditar que “estar em forma” corresponde a ter uma determinada aparência.
- Personal trainers que não querem ou não estão dispostos a modificar os exercícios de modo que eles sejam adequados para o corpo do cliente.
- A crença de que você não está se esforçando o suficiente caso não tenha emagrecido.
- Personal trainers que não são formados em nutrição, mas dão aconselhamento nutricional.
- Conselhos sobre regimes em geral.
- Personal trainers que não acreditam quando você diz que não aguenta mais e afirmam que você tem de aguentar a dor.
- Acreditar que uma boa sessão de exercícios é aquela que castiga seu corpo.
- Acreditar que o resultado do exercício tem de ser um corpo mais torneado e, se você não chega lá, está fazendo algo errado.
- Achar que regime e exercícios são a única maneira de cuidar de si mesmo.
Você provavelmente já se deparou com algo parecido, e talvez até concorde com algumas das afirmações acima. Mas usar as atividades físicas para controlar o corpo não é saudável – tampouco é uma maneira viável de conseguir o corpo “ideal” promovido pela cultura fitness tóxica.
Certos problemas de saúde mental relacionados à atividade física são descritos no “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”. Em geral eles são associados a transtornos alimentares. A anorexia atlética se caracteriza pela obrigatoriedade de exercícios: a pessoa organiza a vida em torno das atividades físicas e constantemente vai ao limite para maximizar o tempo investido na academia. A bulimia do exercício envolve comer demais e depois compensar o exagero com longas sessões de exercícios.
SAIBAM MAIS CLICANDO NAS MANCHETES ABAIXO:
- Sine-JP inicia a semana ofertando 533 vagas de emprego
- Máscara inteligente monitora seu hálito em busca de problemas de saúde
- Marcapasso cerebral autoajustável reduz sintomas da doença de Parkinson
- Bactogel: Banhos de bactérias vão curar ferimentos musculares
- Título da notícia
Além desses transtornos, há uma zona cinzenta, que muitas vezes não é percebida.
Veja abaixo algumas perguntas que você deveria fazer a si mesmo se suspeitar que sua relação com a atividade física possa estar virando um problema.
O que aconteceria se eu ficasse uma semana parado?
Esse tipo de preocupação é sinal de uma relação pouco saudável com os exercícios, diz Sand Chang, psicólogo de Oakland, na Califórnia. Mexer-se com regularidade é uma coisa. Pensar constantemente no próximo treino é outra.
Chang sugere responder à seguinte pergunta: “O que aconteceria se eu não me exercitasse por uma semana? Um mês? Que sentimentos esse tipo de ideia desperta em mim?”. Passar uma semana ou duas sem se exercitar não vai afetar negativamente sua saúde. Se pensar em parar por pouco tempo te deixa pouco à vontade, é provável que sua motivação não seja das mais saudáveis.
Sou flexível em relação a quando e como me exercito?
Kristy Fassio, conselheira de saúde mental em Kent, Washington, diz que a inflexibilidade pode indicar relacionamentos problemáticos com a atividade física.
“É um problema se o dia de descanso vira motivo de vergonha ou gera uma enxurrada de desculpas, se as folgas nos treinos deixam de ser prioridade ou se a saúde física corre riscos por falta de tempo de recuperação”, afirma Fassio.
Programar os treinos com antecedência pode ser necessário para algumas pessoas, mas não conseguir reagendá-los pode indicar um problema. E a mentalidade de “não tirar folga” não faz bem para a saúde física ou mental ― o descanso necessário entre os treinos varia de pessoa para pessoa, mas você sempre deve incluir dias de recuperação na agenda e eventualmente pular algumas sessões se estiver cansado, estressado ou dolorido.
Uso a atividade física só como maneira de controlar meu corpo?
Você enxerga o exercício físico somente como uma maneira de melhorar sua aparência?
“Esse tipo de mentalidade não é saudável”, diz Chang. “Incentivo as pessoas a se mexer para que fiquem alegres, não para mudar seus corpos.”
Pode parecer uma ideia absurda, pois a cultura em torno das atividades físicas sempre está associada a esforço e disciplina. Mas pergunte a si mesmo o que você realmente espera das rotinas de exercícios que você não gosta. Mesmo que seu corpo mude a curto prazo, perder peso a longo prazo é quase impossível. E uma aparência diferente provavelmente não mudará sua vida como te prometeram.
“Estamos falando da vergonha do próprio corpo. Não há número na balança ou ‘condicionamento físico’ capaz de resolver esse problema”, diz Chang.
Considero ‘exercício’ somente certos tipos de movimento?
Até agora, usamos a palavra “exercício” de maneira bastante ampla, mas vale a pena perguntar o que exatamente ela significa para você. Nossa sociedade costuma pensar em exercício como movimento que tem algum tipo de objetivo. Mas na realidade todo tipo de movimento é exercício.
“E se passarmos a pensar em exercício como uma maneira de reduzir o estresse, de nos divertir, de nos alongar, de curtir a natureza ou até mesmo de nos reconectar com nossos preciosos corpos?” pergunta Fassio.
Isso não quer dizer que ter objetivos seja algo necessariamente ruim. Talvez você queira ficar mais forte por motivos de saúde ou então ser mais rápido porque realmente gosta de correr. Mas, se sua ideia de exercício é estreita a ponto de incluir apenas certos tipos de movimento mais intensos, tente ampliar sua perspectiva.
O exercício alivia ou é mais uma fonte de estresse?
Mexer-se é uma ótima maneira de aliviar o estresse, mas não deve ser a única. Embora frases como “correr é minha terapia” possam ser bem intencionadas e ter um fundo de verdade, vale a pena repetir: correr não é terapia de fato.
Como Fassio e Chang explicam acima, a inflexibilidade em relação à rotina de treinos pode indicar um relacionamento insalubre com o exercício – especialmente porque a ansiedade por perder um dia de treino pode acabar causando mais estresse.
O exercício faz você se sentir bem?
Você faz determinado tipo de atividade física porque gosta e ela te faz se sentir bem ou porque acha que é um “bom exercício”? A atividade física não tem de ser agradável o tempo todo ― não há problema em fazer um esforço extra de vez em quando ―, mas isso não quer dizer que você tenha de fazer algo que odeia.
Muitos especialistas usam os termos “movimento consciente” ou “movimento alegre” para descrever um relacionamento com exercícios que priorizam as suas necessidades, não regras ou restrições externas. Descubra quais tipos de movimento você realmente gosta de fazer.
Um terapeuta pode ajudar a entender sua relação com a atividade física
A verdade é que só você é capaz de avaliar se sua relação com os exercícios é saudável ou não.
“Para mim, o movimento consciente está diretamente ligado a saber o que seu corpo está pedindo e o que ele precisa fazer”, afirma Fassio.
Ouvir o próprio corpo é libertador, mas pode ser difícil caso você esteja acostumado a levá-lo aos limites, ignorando as dicas que ele te dá.
Encontrar um terapeuta que tenha um perspectiva inclusiva em relação a peso e imagem corporal é um bom começo, diz Fassio. O mesmo vale para instrutores e personal trainers.
No fim das contas, você tem autonomia sobre seu corpo e pode decidir o que é melhor para você. Mas se os exercícios são mais fonte de angústia do que de prazer, pode ser a hora de responder a algumas perguntas difíceis – e mudar sua relação com a atividade física.