Internacional
Prefeitos nos EUA esperam corte na educação e aumento da desigualdade pós-pandemia
Eles também preveem esvaziamento dos centros urbanos –60% acham que os escritórios nas cidades serão “menos desejáveis” e 40% esperam menos uso do transporte público no futuro
Prefeitos americanos estão pessimistas quanto à recuperação das cidades no período pós-pandemia e preveem cortes de recursos em áreas cruciais, como educação e transporte público, além do aumento da desigualdade nos próximos anos.
Apesar da distribuição de uma vacina contra a Covid-19 e de dados que apontam uma leve melhora econômica nos EUA, o Congresso americano ainda se divide quanto à aprovação de um novo pacote de estímulo financeiro no país, reforçando a avaliação dos prefeitos de que as implicações da pandemia serão graves e de longo prazo.
Pesquisa divulgada pela Universidade de Boston na quinta-feira (3) mostra que 80% dos prefeitos americanos esperam que a disparidade racial na saúde aumente, enquanto 45% avaliam que vão ver ou fazer “cortes financeiros dramáticos” na educação. Mais: 38% preveem redução de investimento em parques e atividades de recreação, 35% em transporte coletivo e 31% em serviços sociais.
O levantamento foi feito em 130 cidades com mais de 75 mil habitantes, em 38 dos 50 estados do país.
Os prefeitos podiam escolher mais de uma ou até todas as opções sobre onde esperam haver cortes e, de acordo com os pesquisadores, muitos dos políticos disseram que a expetativa é de que todas as áreas sejam prejudicadas, mas, para a pesquisa, destacariam as consideradas “mais dramáticas.”
Cortes esperados na polícia foram apontados por 27% dos prefeitos; em moradia, por 16%, e em água e saneamento, por 13% dos líderes municipais.
A Menino Survey of Mayors é realizada anualmente desde 2014 e considerada a única pesquisa de representatividade nacional sobre os prefeitos americanos.
O histórico mostra que os governantes locais geralmente são bastante otimistas quanto às perspectivas para o futuro, mas o ano assolado por uma pandemia global, que já matou mais de 280 mil pessoas nos EUA, levou um ceticismo inédito para o centro do debate nas cidades.
Em comunicado à imprensa, Graham Wilson, diretor da Iniciativa sobre Cidades da Universidade de Boston, responsável pelo levantamento, disse que a pandemia e a falta de ajuda do governo federal fizeram com que o pessimismo dos prefeitos se tornasse palpável desta vez.
“Nos sete anos de realização da pesquisa, uma das descobertas mais consistentes, não importa o tópico da pergunta, é um senso geral de otimismo entre os líderes das cidades. Neste ano, enquanto ainda ouvimos lampejos de otimismo, o pessimismo diante de uma pandemia que ocorre uma vez a cada século é palpável.”
Quase todos os prefeitos avaliam que a pandemia vai mudar de forma permanente o comportamento dos habitantes das cidades, em atividades como trabalhar em casa e fazer compras em lojas físicas: 90% esperam que o trabalho remoto vai persistir mesmo depois que a vacina estiver disponível, e 60% acreditam que a redução nas compras de varejo –em queda acentuada nos últimos meses– será duradoura.
Eles também preveem esvaziamento dos centros urbanos –60% acham que os escritórios nas cidades serão “menos desejáveis” e 40% esperam menos uso do transporte público no futuro.
Os EUA são líderes em números de casos (mais de 14 milhões) e mortes (mais de 280 mil) por Covid-19 e, nas últimas semanas, vivem o pior momento desde o início da pandemia, com novos surtos em todo o país.
Na semana passada, 2.800 pessoas morreram por conta da doença em um único dia, segundo autoridades estaduais, o que significou uma morte a cada 30 segundos.
O número de hospitalizações ultrapassou 100 mil, o dobro registrado no pico de contaminações, em abril. Segundo especialistas, após a alta nas internações, é comum que as mortes também cresçam.
A Califórnia impôs medidas rigorosas, como o toque de recolher por região cada vez que as UTIs dos hospitais chegarem a 85% de ocupação. Isso implica o fechamento de bares, restaurantes e outros serviços que voltaram a abrir desde meados do meio do ano, mesmo com restrições.
Em Nova York, os hospitais já estão com menos de 20% dos leitos disponíveis e, caso a situação não melhore em cinco dias, o governador, Andrew Cuomo, disse que vai proibir novamente que os restaurantes atendam em ambientes internos.
Os prefeitos ouvidos pela pesquisa não esperam que haja uma retomada rápida do consumo nas médias e grandes cidades e somente um terço deles acredita que pequenos negócios que fecharam durante a pandemia sejam rapidamente substituídos por novos. Grande parte dos líderes locais se mostra ainda preocupada com o impacto econômico de longo prazo nas comunidades que já sofrem com o racismo estrutural e a desigualdade nos EUA.
Dois em cada três prefeitos disseram que latinos, imigrantes e pessoas negras devem “sentir muito” dos efeitos negativos da pandemia no meio do ano que vem, quando é verão no Hemisfério Norte e, com a chegada da vacina, muitos especialistas avaliam que já será possível ter uma situação um pouco mais normalizada em relação ao vírus.