Internacional
Reino Unido monitora alta em síndrome infantil associada à covid
Desde janeiro, país registra até cem internações semanais de crianças com rara síndrome inflamatória. Suspeita é que casos reflitam aumento da propagação do coronavírus entre adultos
No Reino Unido, cada vez mais crianças estão sendo hospitalizadas com suspeita de uma rara síndrome inflamatória associada à covid-19. A cada semana, são até cem internações. A situação tem preocupado médicos e pesquisadores.
A chamada síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) já havia aparecido durante a primeira onda da covid-19. Os sintomas incluem febre prolongada superior a 38 graus, dor de estômago, diarreia, uma erupção cutânea vermelha generalizada e inchaço dos dedos das mãos e dos pés.
Segundo o jornal britânico The Guardian, entre 12 e 15 crianças foram diariamente hospitalizadas com sintomas da síndrome desde o início de janeiro. Ela costuma ser detectada semanas após a covid-19, e quatro em cada cinco crianças hospitalizadas eram saudáveis anteriormente.
A síndrome, porém, é conhecida há tempos, não apenas desde a pandemia de coronavírus, alerta o médico alemão Nikolaus Haas.
“No contexto de várias doenças infecciosas, pacientes com uma certa predisposição podem desenvolver um quadro clínico no qual todo o corpo reage com inflamação severa e isto também se aplica às crianças”, diz o especialista, que chefia o Departamento de Cardiologia Pediátrica e Medicina Intensiva Pediátrica no Hospital Universitário Ludwig Maximilian, em Munique.
A síndrome está sendo monitorada. Segundo o Guardian, especialistas alertam que não há motivo para pânico entre os pais: a incidência de casos é proporcional ao aumento das infecções por covid-19 registrado no Reino Unido. E, devido à identificação precoce da síndrome, muitos poucos casos de internação se tornaram graves.
Incidência maior entre minorias
Um relatório inicial mostrou que, das crianças mais afetadas pela síndrome no Reino Unido, cerca de 75% eram de um grupo étnico minoritário – negro ou de origem asiática. De acordo com os dados, as crianças não precisam ter mostrado anteriormente nenhum dos sintomas respiratórios clássicos de coronavírus para desenvolver a síndrome.
Dos 78 pacientes com a síndrome que foram admitidos em uma unidade de terapia intensiva, 47% eram de origem afro-caribenha e 28% eram de origem asiática. A incidência é cinco a seis vezes maior do que as respectivas proporções desses grupos na população do Reino Unido.
Os pesquisadores acreditam que a genética pode desempenhar um papel, mas também expressaram a preocupação de que um número desproporcional dessas pessoas possa estar encontrando dificuldade de evitar a exposição por causa de sua ocupação profissional ou circunstâncias sociais.
A maioria dos pacientes não tinha nenhuma doença anterior. Profissionais médicos e pesquisadores estão pedindo estudos detalhados para descobrir porque essas crianças são mais afetadas pela síndrome respiratória e parecem estar em maior risco de desenvolvê-la.
Estudo inicial
Em um estudo do ano passado, uma equipe de médicos do Texas já havia avaliado 662 casos de 39 estudos nos quais crianças desenvolveram a doença inflamatória, O estudo envolveu casos relatados em todo o mundo entre 1 de janeiro e 25 de julho de 2020.
Na época, o estudo mostrou que 71% das crianças necessitavam de tratamento na unidade de terapia intensiva. Cerca de 60% sofreram um grave choque circulatório. Das quase 90% que fizeram um ecocardiograma, os médicos encontraram disfunção cardíaca em mais da metade. Todas as crianças sofriam de febre, e um grande número tinha dor abdominal ou diarreia e vômitos.
Síndrome de Kawasaki
No início, os especialistas acreditavam que os sintomas que as crianças apresentavam eram a doença de Kawasaki. Trata-se de uma doença rara que afeta principalmente crianças menores de cinco anos de idade. Elas têm um quadro clínico semelhante ao da síndrome inflamatória. É uma doença rara. No mundo inteiro, há pouco mais de 6 mil casos por ano.
O japonês Tomisaku Kawasaki já havia descrito a síndrome com o seu nome em 1967. Entretanto, a origem dela ainda não está clara mais de 50 anos após sua descoberta. Nesta doença, há também fortes reações inflamatórias no corpo com febre acima de 38,5 graus. No entanto, as duas doenças, Kawasaki e SIM-P, diferem principalmente em grau.
Na síndrome de Kawasaki, não há tantos órgãos afetados. É o coração, na maioria dos casos. Os pacientes têm febre, e as enzimas hepáticas sobem.
No SIM-P, os rins também são freqüentemente afetados, assim como os pulmões e o fígado. A contagem de sangue também mostra reações inflamatórias, e a contagem de glóbulos brancos aumenta. Mas a síndrome de Kawasaki é tratável.
Se a terapia for iniciada suficientemente cedo, os danos vasculares ao coração podem ser evitados. Ainda é necessária muita pesquisa sobre ambas as doenças, também para descobrir se a covid-19 pode ser, como suspeitam os pesquisadores, o gatilho.