Internacional
Em meio à pandemia de covid-19, cresce temor de novo surto de ebola na África Ocidental
Oito casos foram registrados na Guiné e mais três na República Democrática do Congo apenas em fevereiro. Autoridades de saúde já falam em possível epidemia
Em meio à pandemia de covid-19, o temor de um novo surto de ebola está aumentando na Guiné, na África Ocidental. No sudeste do país, foram registradas na última semana oito novas infecções, as primeiras em cerca de cinco anos. Neste domingo (14/02), a Organização Mundial da Saúde (OMS) na África disse que vai intensificar as medidas contra um possível ressurgimento da epidemia.
Três dos infectados da Guiné morreram e os outros cinco foram isolados em centros de tratamento. Os oito tiveram diarreia, vômitos e sangramento desde que compareceram a um funeral, em 1º de fevereiro. Em seguida, todos tiveram resultados positivo para o vírus – o resultado de um segundo teste ainda está pendente. Não ficou claro se a enfermeira que foi enterrada no funeral também tinha ebola. Inicialmente, as autoridades haviam reportado quatro mortes, mas depois revisaram o número para três.
Os casos alimentam os temores de um novo surto de ebola na África Ocidental, região que viveu de 2013 a 2016 o pior surto do mundo da doença, com pelo menos 11.300 mortos, a maioria deles na Guiné, na Libéria e em Serra Leoa.
Autoridades de saúde africanas já começam a falar em uma possível epidemia. O temor é ainda maior já que três novos casos de ebola também foram relatados na última semana na República Democrática do Congo. O país sul-africano havia decretado há menos de três meses o fim do 11º surto.
A OMS explicou que a ocorrência esporádica de casos individuais após um grande surto não é incomum. Apesar disso, a diretora-geral da OMS para a África, Matshidiso Moeti, expressou preocupação com as mortes na Guiné. Pelo Twitter, ela disse que a OMS está “aumentando os esforços de prontidão e resposta para esse ressurgimento potencial” do ebola na África Ocidental.
OMS quer criar banco de vacinas
Guiné quer a ajuda da OMS e de outras instituições internacionais para a aquisição de vacinas. Avanços nos imunizantes e nas opções de tratamento aumentaram muito as chances de sobrevivência ao ebola nos últimos anos.
O ebola é uma doença infecciosa altamente contagiosa que chega a ter taxa de mortalidade de até 90%. Ela é bem mais letal que a covid-19, mas, ao contrário do novo coronavírus, o vírus do ebola não é transmitido por pessoas infectadas assintomáticas. O vírus ebola é transmitido pelo contato com fluidos corporais.
Não há cura específica para a doença, mas as vacinas são usadas desde 2019. A OMS anunciou em meados de janeiro querer queria criar uma instalação de armazenamento global com até meio milhão de doses do imunizante.
A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
A África tem apresentado números bem mais baixos de casos e mortes por covid-19 do que outros continentes. Em setembro, um grupo de cientistas publicou uma análise na revista Science sobre os possíveis motivos para isso. Um dos fatores seria, justamente, a experiência em lidar com doenças infecciosas como ebola ou a febre hemorrágica de Lassa, que possibilitaram executar medidas precoces também contra o coronavírus.