Internacional
Dissidente deixa Cuba depois de fracasso de protesto
Yunior García Aguilera diz que não aguentou a pressão e que resolveu ir para a Espanha depois de receber ameaças de prisão das autoridades cubanas
O dramaturgo cubano Yunior García Aguilera, principal mentor da manifestação a favor de uma mudança política em Cuba marcada para segunda-feira passada (15/11), disse que não aguentou as pressões que sofreu nos dias anteriores ao protesto, que acabou não acontecendo.
García, de 39 anos, chegou de surpresa à Espanha nesta quarta-feira, acompanhado da esposa, e contou que foi vencido “pelas horas sem dormir, o assédio, a falta de comunicação, as ameaças”, em referência à campanha de assédio físico e midiático que sofreu nos dias anteriores à manifestação, quando grupos de simpatizantes do regime cubano chegaram a cercar sua casa, em Havana.
“Talvez eu não estivesse preparado para isso”, disse García Aguilera numa transmissão por rede social feita em uma residência que lhe foi oferecida por uma organização espanhola e sobre a qual não deu detalhes.
García criticou o governo cubano e seus apoiadores, que reagiram com zombaria às notícias de sua saída do país. “Eles celebraram minha partida como uma vitória. Quem ganhou foi o terror. Mas por quanto tempo esse terror pode vencer?”, questionou.
Ele também lembrou que outros membros do coletivo Archipiélago, que convocou a manifestação de 15 de novembro, ainda estão em Cuba, e que a repressão aos dissidentes persiste, como no caso da curadora de arte Carolina Barrero, que afirma estar sob prisão domiciliar há 200 dias.
Os organizadores da manifestação atribuíram o fracasso da iniciativa à intensa campanha de interrogatórios, ameaças de prisão e atos de repúdio nos dias anteriores.
Cuba nega acordo com Espanha
O líder opositor garantiu que a decisão de deixar Cuba foi exclusivamente dele e que havia solicitado com antecedência um visto para viajar à Espanha após receber ameaças de prisão por parte das autoridades cubanas.
O governo de Cuba afirmou que não houve nenhum acordo com a Espanha para facilitar que García Aguilera saísse do território cubano e negou que o opositor tenha sido forçado a abandonar o país.
Um representante do governo cubano disse à agência de notícias Efe que as autoridades cubanas não têm nada que ver com a saída de García Aguilera e que o ativista teria tramitado o seu visto por conta própria.
García Aguilera viajou para Madri na terça-feira, depois de ficar trancado em casa durante toda a segunda-feira, bloqueado por agentes da segurança do Estado, e isolado da imprensa por uma bandeira cubana que cobria o seu edifício.
“Foi uma decisão pessoal dele. Pediu um visto que foi concedido. Obviamente, as autoridades cubanas não se opuseram porque, caso contrário, ele não teria partido. No momento, é um visto normal. Não sabemos se ele quer pedir asilo. Teremos de falar com ele para saber quais são os seus planos”, disse um funcionário do Ministério das Relações Exteriores da Espanha ao jornal El País.
Detenções e ameaças
O Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) comunicou ter registrado mais de 400 ações repressivas para evitar a manifestação convocada para segunda-feira passada.
Numa nota divulgada em Madri, onde está sediada, a organização não governamental (ONG) considerou que a prioridade neste momento devem ser “as vítimas do regime cubano”.
Entre as ações ocorridas desde o último sábado, o OCDH registrou casos de prisão domiciliar com vigilância policial (122), ameaças (50) e detenções (87), entre outros.
Ao menos 100 pessoas foram detidas e 131 impedidas de sair de casa na segunda-feira em Cuba, denunciaram terça-feira a plataforma Cuba Decide e o Centro de Denúncias da Fundação para a Democracia Pan-americana (FDP). As organizações também contabilizaram pelo menos 131 pessoas impedidas de sair de casa, em pelo menos 14 das 15 províncias da ilha.