Internacional
Peritos internacionais pedem a EUA que desbloqueie fundos afegãos
Valor do Banco do Afeganistão no exterior ultrapassa US$ 7 bilhões; especialistas chamam a atenção para crise crescente enfrentada por metade da população afegã; grupo revela que ainda não teve resposta das autoridades de Washington sobre a questão
Especialistas em direitos humanos* pediram ao governo dos Estados Unidos que autorize o desbloqueamento de que mais de US$ 7 bilhões em ativos do Banco do Afeganistão no exterior para a prestação de ajuda humanitária.
Uma nota publicada, esta segunda-feira, em Genebra, ressalta que a crise crescente coloca metade da população afegã em risco de morrer. A situação tem “impacto desproporcional” sobre mulheres e crianças.
Autoridades em Washington
Os peritos independentes das Nações Unidas dizem que levam ao público suas preocupações e recomendações depois de não terem recebido qualquer resposta das autoridades em Washington sobre o assunto.Mulher leva sobrinha desnutrida para ser tratada em clínica no Afeganistão.
Para os relatores, as medidas decretadas pelas autoridades norte-americanas acentuaram a violência de gênero, que ameaça mulheres e meninas afegãs de forma grave. A nota menciona ainda os efeitos da seca e da crescente discriminação de gênero seguida pelas autoridades de facto.
O grupo lembra que o secretário-geral António Guterres classifica a situação humanitária como crise uma “enorme à beira de uma catástrofe de desenvolvimento”.
O apelo feito a todos os países é que reavaliem qualquer medida unilateral adotada e levantem todos os obstáculos à tomada de medidas que assegurem a ajuda financeira e humanitária aos afegãos.
Auxílio alimentar
Mais de 23 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar no país asiático, onde cerca de 95% da população não tem alimentos suficientes.
Existe uma preocupação especial com mais de 4 milhões de deslocados internos, incluindo membros de minorias. Mais de 3,5 milhões pessoas buscam refúgio em países vizinhos.Crianças trabalham levando malas de passageiros em Kandahar, na fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
Para o grupo, não houve progresso significativo em relação à resolução do Conselho de Segurança sobre a criação de isenções humanitárias às atuais sanções sobre fluxos financeiros e comerciais dos Estados e instituições financeiras internacionais. A medida seria benéfica à atuação humanitária e em favor do desenvolvimento no Afeganistão.
Os peritos destacam ainda que os atores humanitários enfrentam sérios desafios operacionais devido à incerteza causada pelas políticas de zero risco dos bancos e pelo cumprimento excessivo de sanções.
Necessidades
Eles pedem particular atenção para a Ordem Executiva nº 14064 prevendo renovar o bloqueio de ativos estrangeiros do banco central afegão.
Além de bloquear os mais de US$ 7 bilhões, indica que poderá ser canalizado a outros fins nos EUA, “ao invés de necessidades humanitárias imediatas e de longo prazo”. Uma em cada três pessoas no Afeganistão enfrenta níveis de emergência ou crise de segurança alimentar
A medida proíbe “qualquer transação que evade ou evite, tenha o objetivo de evadir ou evitar, cause uma violação ou tente violar qualquer uma das proibições” e “qualquer conspiração formada para violar qualquer uma das proibições estabelecidas nesta ordem”.
Acesso
Os peritos consideram as formulações excessivamente amplas que “podem exacerbar o clima de incerteza entre os atores relevantes, incluindo bancos, empresas e doadores humanitários”.
O resultado pode ser o cumprimento zeloso das sanções, impedindo que o povo do Afeganistão tenha qualquer acesso a bens humanitários básicos.
Os especialistas ressaltam ainda que o direito internacional humanitário prevê que os países assegurem que qualquer atividade sob sua jurisdição ou controle não resulte em violações de direitos humanos.
O pedido feito a Washington é que observando as obrigações legais internacionais “tome todas as medidas apropriadas para reverter esta medida unilateral e contribua de forma decisiva para os esforços em curso para enfrentar a crescente crise humanitária no Afeganistão”.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.Afeganistão enfrenta uma das crises humanitárias que cresce mais rapidamente no mundo