Internacional
Ditadura da Nicarágua expulsa padre italiano por questionar prisão de bispo
“Querem me prender? Que me prendam”, afirmou o sacerdote, defendendo o caráter de dom Rolando Álvarez
O mundo civilizado continua estarrecido, embora inerte, diante do grau de arbitrariedade ditatorial com que o regime de Daniel Ortega vem tratando seus oponentes políticos, incluindo o clero católico.
O caso mais clamoroso continua sendo o do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, condenado sumariamente a 26 anos de prisão e encarcerado em uma cela de segurança máxima conhecida como “inferninho“.
Além dele, porém, há vários outros homens da Igreja sendo perseguidos pelo regime de Daniel Ortega e da sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo.
Eles vêm ameaçando padres até mesmo para impedi-los de citar o nome de dom Rolando Álvarez nas suas homilias. Três sacerdotes já foram presos neste último fim de semana. Dois deles foram libertados na segunda-feira, enquanto o terceiro permaneceu sob custódia.
Padre italiano expulso
Também nesta semana, o regime da Nicarágua confirmou a expulsão do padre italiano Cosimo Damiano Muratori, que, na homilia de domingo passado, dia 12, se atreveu a defender dom Rolando Álvarez. O padre afirmou que a sentença de 26 anos e 4 meses aplicada ao bispo de Matagalpa é um “fato histórico”.
Durante o sermão, no santuário franciscano de El Tepeyac, em Jinotega, o pe. Cosimo questionou, segundo o portal local Articulo66:
“Ele estava na lista dos que tinham que ir para os Estados Unidos. Mas dom Álvarez foi embora? Por que ele não foi embora? Porque ele não quis! No final, 222 pessoas pegaram o avião, mas uma não. Dom Álvarez estava certo? Ele ficou e, para mim, é um verdadeiro homem de caráter. Querem me prender? Que me prendam”.
Foi o suficiente para que o Ministério do Interior, em nota à imprensa, retrucasse que o sacerdote italiano “interveio de forma insultuosa em assuntos que dizem respeito só aos nicaraguenses”. Funcionários do governo bateram à sua porte e lhe ordenaram que se apresentasse no dia seguinte à Direção Geral de Migração e Estrangeiros (DGME), na capital, Manágua. Não tardou para que a expulsão fosse comunicada.
O regime também acusa o padre de ter cometido abusos sexuais na Itália e de ser procurado pela Interpol devido a este alegado crime. Segundo o Articulo66, porém, não constam informações a este respeito no site da Interpol.
O pe. Cosimo Muratori vivia e trabalhava havia décadas na Nicarágua. Em 2021, já com a perseguição anticatólica se intensificando no país, ele teve a sua permissão de residência extinta pela DGME. Desde então, precisava renová-la a cada 90 dias.
Fonte: Aleteia