Internacional
Sete razões pelas quais o mundo deve continuar apoiando a Ucrânia
Após um ano desde a invasão da Rússia ao país, o Escritório para Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, preparou uma lista com 7 motivos para o mundo continuar apoiando a resposta humanitária no país
Um ano se passou desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro. O Escritório para Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, lembra que foi um ano de sofrimento, perda e destruição inimagináveis. E um ano em que a vida de cada mulher, homem e criança na Ucrânia foi dilacerada.
Milhares de civis, incluindo crianças, foram mortos, feridos e traumatizados pelos horrores da guerra. Meios de subsistência foram arrasados e cidades inteiras estão em ruínas.
Solidariedade e ajuda humanitária
Apesar de tudo, a agência afirma que o povo da Ucrânia mostrou continuamente ao mundo seu incrível senso de solidariedade e resiliência. Eles se uniram para apoiar uns aos outros, criaram milhares de grupos de voluntários e foram para a linha de frente para garantir que as pessoas encurraladas pudessem obter o apoio que precisavam.
As organizações humanitárias complementaram esse esforço ao lado do suporte e solidariedade da comunidade internacional e dos cidadãos de todos os países que intervieram para apoiar a Ucrânia.
Com isso, 16 milhões de ucranianos tiveram apoio no ano passado. Mas um ano depois, a guerra está longe de terminar.
Aqui estão 7 razões pelas quais o mundo deve continuar apoiando a resposta humanitária na Ucrânia:
Uma mulher olha para os destroços de seu apartamento em Kharkivska Oblast, na Ucrânia
1. 18 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, intensificou dramaticamente um conflito que arrasava o leste do país desde 2014.
Apenas algumas semanas após o início da guerra em grande escala, o número de pessoas que precisavam de assistência humanitária saltou de pouco menos de 3 milhões para quase 18 milhões. Hoje, essas pessoas ainda enfrentam necessidades que ameaçam a vida.
Alina, 28, e seu filho Myroslav, 3, fugiram da região de Kherson em setembro de 2022, quando os bombardeios se tornaram insustentáveis. Eles chegaram a Zaporizhzhia, onde a ONG Adra os ajudou a continuar sua jornada para o oeste
2. Milhões tiveram que fugir para salvar suas vidas e tentar se estabelecer longe de casa
A guerra causou uma grave crise de deslocamento jamais vista na história recente. Nos primeiros meses, após a invasão, quase 8 milhões de pessoas foram deslocadas internamente na Ucrânia. O mesmo número de pessoas fugiu pelas fronteiras, deixando para trás suas famílias, casas, pertences e empregos.
Desde então, a crise de deslocamento só continuou. Quase 5,5 milhões de pessoas voltaram para seus lugares de origem e outros milhões continuam fugindo do leste.
Hoje, mais de 5,5 milhões ainda estão deslocados internamente na Ucrânia e quase 8 milhões são refugiados.
Pessoas fazem fila em um bebedouro em Kiev, na Ucrânia, onde a infraestrutura civil crítica foi destruída
3. O acesso a cuidados de saúde, água e eletricidade foi dizimado
No ano passado, quase 70% dos ataques a instalações de saúde em todo o mundo ocorreram na Ucrânia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, OMS. Os hospitais foram bombardeados e o acesso a serviços essenciais de saúde agora está dizimado, principalmente no leste.
Mas não para por aí. A guerra arrasou o sistema de abastecimento de água da Ucrânia. Milhões de pessoas agora lutam todos os dias para ter água potável e outras são forçadas a depender de fontes de água inseguras. A situação é extrema em áreas próximas a ambos os lados da linha de frente, onde algumas pessoas já passaram um ano inteiro sem água encanada. Esse problema começou muito antes em Donetsk, controlada pelos russos.
Uma crise energética se seguiu aos repetidos ataques às infraestruturas da Ucrânia, em outubro de 2022, que acrescentaram novas dimensões à crise humanitária. Os hospitais não funcionam sem eletricidade, a água não pode ser bombeada e as pessoas não podem aquecer suas casas em meio a um inverno rigoroso.
A Ucrânia precisa de apoio para manter seus hospitais funcionando e garantir que as pessoas tenham água potável e outros serviços essenciais.
Crianças jogam basquete em uma escola em Kharkiv destruída no início da guerra. A escola ainda não foi restaurada, mas as crianças podem pelo menos recuperar algum senso de normalidade brincando juntas ao ar livre
4. O acesso à educação está em risco
Ao longo do ano, escolas e salas de aula foram atacadas, destruídas ou transformadas em bases militares, dificultando gravemente o acesso à educação. Quase 40% dos colégios na Ucrânia dependem do aprendizado online, mas até isso agora está interrompido devido ao acesso comprometido à eletricidade e à internet.
As escolas que escaparam ainda enfrentam enormes desafios, pois são afetadas pela crise de energia e repetidos ataques aéreos. As crianças agora passam horas e horas em porões ou bunkers quando deveriam estar estudando.
Na Ucrânia, 5,3 milhões de alunos precisam de apoio para garantir que possam continuar seus estudos.
Um edifício residencial arruinado por ataques de mísseis em Borodianka, na Ucrânia
5. As pessoas estão lidando com traumas inimagináveis
A guerra está deixando cicatrizes profundas e invisíveis no povo da Ucrânia. Quase 10 milhões correm o risco de estresse agudo, ansiedade, depressão, uso de substâncias e transtorno de estresse pós-traumático, de acordo com a OMS.
Famílias foram separadas e cada pessoa na Ucrânia viu um membro da família ou uma pessoa que conheciam ser morta ou ferida. Suas cidades, casas, hospitais e até a praça aonde levavam seus filhos foram bombardeados.
A violência sexual relacionada à guerra também está aumentando os horrores causados pela guerra. Isso afetou principalmente mulheres e meninas, mas também prisioneiros de guerra do sexo masculino detidos pelas forças armadas russas. Os homens ucranianos enfrentam desafios específicos, incluindo o recrutamento militar, que afeta a liberdade de movimento.
Minasi Para os agricultores ucranianos como Volodymyr Vasyliovych, a guerra significou uma incapacidade de exportar seus produtos, com a perspectiva sombria de sua colheita estragar em galpões
6. A agricultura e a economia foram impactadas, com profundas implicações globais
A guerra atingiu gravemente a indústria agrícola da Ucrânia, deixando milhares de lavradores sem renda e uma em cada três famílias com insegurança alimentar. Ao longo do ano, terras férteis ou colheitas foram destruídas durante combates ou bombardeios, e as épocas de colheita e plantio foram afetadas. Isso se somou aos desafios impostos pelo fechamento dos portos da Ucrânia por mais de seis meses, até agosto de 2022. Milhares de pessoas ficaram sem meios de subsistência em um momento em que a guerra arrasava a economia do país.
Com o perigo das minas terrestres, aumentam os desafios de retomar as atividades agrícolas, mesmo em áreas onde os bombardeios diminuíram.
Na Ucrânia e em todo o mundo, a falta de disponibilidade e acesso a sementes, fertilizantes, combustíveis e produtos fitofarmacêuticos dificultou a produção. Os preços dos alimentos no mercado global dispararam.
É essencial aumentar as atividades de desminagem para que a agricultura possa ser retomada, as famílias rurais possam receber apoio para continuar produzindo alimentos e os portos possam ser abertos às exportações para evitar mais interrupções nos embarques de grãos da Ucrânia. Isso contribuirá para a segurança alimentar dos pequenos agricultores e evitará outra crise global de fome.
Minasi Galyna, de 91 anos, conversa com uma voluntária da ONG ucraniana Proliska, que a apoia com alimentos e outras ajudas vitais
7. Milhões de pessoas ainda não estão recebendo o apoio que precisam
Desde que a guerra começou em 24 de fevereiro, os trabalhadores humanitários trabalharam dia e noite para garantir que quase 16 milhões de pessoas na Ucrânia recebam o apoio que precisam.
O Ocha organizou milhares de comboios para levar comida, água, remédios, abrigo, kits de higiene e geradores para comunidades arrasadas pela guerra e para pessoas que fugiram para o oeste. A agência apoiou as pessoas a fugir de áreas de combates e produziu a maior resposta humanitária em dinheiro da história, apoiando mais de 6 milhões de pessoas na Ucrânia.
O objetivo agora é aumentar o apoio à saúde mental, proteção infantil e desminagem para pessoas traumatizadas tentando reconstruir suas vidas.
Apesar de tudo isso, o apoio às comunidades nas áreas controladas pela Rússia é extremamente limitado. O mundo viu como a diplomacia humanitária pode mudar as coisas para melhor, com a Iniciativa Grãos do Mar Negro e a evacuação de civis da usina siderúrgica de Azovstal.
Este mesmo tipo de ação e diplomacia são necessários para ajudar a garantir que os trabalhadores humanitários na Ucrânia possam apoiar as pessoas, independentemente de quem sejam ou de onde morem.