Internacional
China: interferência externa é maior ameaça a paz em Taiwan
Após “completar com sucesso” manobras militares, Pequim reforça que independência do país insular é incompatível com paz e estabilidade no Estreito do Taiwan. Kremlin defende direito chinês de “reagir a provocações”
O governo chinês afirmou nesta segunda-feira (10/04) que a independência de Taiwan e a “paz e estabilidade” na região são incompatíveis. Paralelamente, o Exército nacional declarou “completadas com sucesso” as manobras militares em torno da ilha, que duraram três dias.
Segundo o porta-voz do Ministério do Exterior da China, Wang Wenbin, a questão do país insular seria “um assunto puramente interno da China” e que a “maior ameaça à paz em Taiwan” são “atividades separatistas e o conluio com forças estrangeiras”.
Wang disse esperar que a comunidade internacional “entenda a essência da questão de Taiwan”, “respeite firmemente o princípio ‘Uma só China'” e “se oponha a qualquer tipo de atividade separatista” na ilha.
O funcionário das relações exteriores reiterou a declaração do sábado das Forças Armadas chinesas: “As manobras são um sério aviso para as forças separatistas taiwanesas, e necessárias para proteger a soberania nacional e a integridade territorial.”
Kremlin: “direito de reagir a provocações”
Após o encontro de 5 de abril, na Califórnia, entre a presidente do Taiwan (oficialmente: República da China), Tsai Ing-wen – contrariando advertências de Pequim –, e o líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, o Exército chinês enviou dezenas de caças e navios de guerra às proximidades da ilha.
Na operação denominada “Espadas Unidas”, Pequim mobilizou caças com “munição real” e um de seus dois porta-aviões, o Shandong, para executarem “ataques simulados” em alvos importantes. Trata-se do ensaio para um eventual bloqueio de Taiwan.
O governo da Rússia afirmou que a China tem “direito” de realizar tais manobras: “Num período muito curto, testemunhamos muitas ações de provocação contra a República Popular da China”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Os exercícios militares estariam “em estrita conformidade com o direito internacional”, e “todos devem respeitar o direito da China, assim como de outros países, de agir desta maneira”.
O Ministério da Defesa taiwanês condenou as manobras, descrevendo-as como “um ato irracional que põe em risco a segurança e a estabilidade regional”. Ele está monitorando a situação de perto: até as 06h00 (hora local), ele havia registrado 11 veículos navais e 70 aviões das Forças Armadas chinesas. Destes, 35 cruzaram a linha média do Estreito do Taiwan.
Apoio americano a Taipé
Por sua vez, os EUA mobilizaram um navio militar para o Mar do Sul da China, reivindicado por Pequim, provocando uma resposta irada dos militares chineses: “O destróier de mísseis USS Milius penetrou ilegalmente nas águas adjacentes ao recife de Meiji, nas ilhas Nansha, da China, sem a aprovação do governo chinês”, e consequentemente a Força Aérea do país teria a embarcação “sob vigilância”, foi sua mensagem.
A Marinha americana rebateu que-se tratara de uma manobra de direitos náuticos, consistente com o direito internacional: “Essa operação de liberdade de navegação manteve os direitos, liberdades e usos legítimos do mar”, afirmou em comunicado. Apesar de não manter relações diplomáticas formais com Taipé, Washington é o mais importante apoiador político e militar do Taiwan.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Taiwan passou a integrar a República da China, sob o governo nacionalista de Chiang Kai-shek. Após a derrota contra o Partido Comunista na guerra civil chinesa, em 1949, o governo nacionalista refugiou-se na ilha.
Taiwan mantém, até hoje, o nome oficial de República da China, em contraposição à República Popular da China, no continente chinês. Pequim o considera parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso Taipé declare formalmente a independência.