Internacional
“A vida continua”, diz jovem que perdeu uma perna na Ucrânia
Aos 18 anos, Ruslana Danilkina se voluntariou para lutar por seu país. No campo de batalha, foi atingida por estilhaços durante um ataque russo. “Pensei que quanto mais pessoas se juntassem à luta, mais forte seríamos.”
“No começo eu estava infeliz por ter sobrevivido, era muito difícil aceitar a minha nova vida”, diz Ruslana Danilkina. Ela se senta em um banco em um parque e coloca as muletas de lado. “Mas eu percebi que mesmo sem uma perna, estou viva, posso me levantar e andar com muletas, é possível.”
Todos os dias, Ruslana caminha pela sua cidade natal, Odessa, no sul da Ucrânia. A jovem afirma que a vida ali lhe dá as forças de que ela desesperadamente precisa.
Há um ano, Ruslana se voluntariou para lutar no front de batalha e defender seu país contra a Rússia. Ela tinha apenas 18 anos e não foi uma decisão fácil de se tomar. Nas primeiras semanas de guerra, ela hesitou em se juntar ao Exército.
“Meu maior medo era não saber no que estava me metendo e quanto tempo eu iria ficar longe de casa”, conta à DW.
“Mas eu queria ir. Este é o meu país e eu o amo muito. Eu pensei que quanto mais pessoas se juntassem à luta, mais forte seríamos. Eu sabia que eu não faria milagres, mas queria fazer algo para ajudar o meu país”, relembra.
A família da jovem foi uma inspiração para ela. A mãe e o padrasto de Ruslana foram destacados para Donbass em 2015 como parte da operação da Ucrânia contra as chamadas “Repúblicas Populares” pró-Rússia de Donetsk e Luhansk. Eles também se alistaram como combatentes voluntários em fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Ruslana se juntou ao Exército ucraniano em abril do ano passado. Inicialmente, ela foi encarregada de processar arquivos em Zaporíjia. Mas ela queria chegar mais perto da linha de frente — pedido que foi rejeitado diversas vezes devido à sua pouca idade. Eventualmente, porém, ela conseguiu o que queria e foi designada para uma unidade de comunicação.
O dia em que tudo mudou
Em 10 de fevereiro de 2023, Ruslana e seus companheiros estavam em uma missão de combate na região de Kherson. De repente, durante um ataque da artilharia russa, estilhaços atingiram o banco do passageiro onde Ruslana estava sentada.
“Me lembro bem do momento da explosão: eu me abaixei, então encostei no joelho e imediatamente percebi o que tinha acontecido, embora não pudesse acreditar que tinha perdido uma perna”, disse Ruslana à DW. “Perguntei aos meus camaradas o que estava acontecendo, mas eles não disseram nada.”
A sobrevivência foi obra do acaso. Paramédicos passaram pelo veículo em que ela estava e prestaram os primeiros socorros para evitar que ela sangrasse até a morte. Ruslana foi levada para outro veículo, onde viu a perna decepada. Em estado de choque, fechou os olhos e os manteve fechados enquanto era levada para um hospital.
Ruslana foi operada na cidade de Chornobayivka. Os médicos tentaram salvar sua perna, mas não conseguiram. A amputação foi feita acima do joelho da perna esquerda.
No mesmo dia, Ruslana foi levada para Mykolaiv, onde ficou por três dias antes de ser transferida para ser tratada em sua cidade natal, Odessa. No hospital, a jovem chorou por dias, até que finalmente recuperou a vontade de viver, conta.
Desde o incidente trágico, ela conta com o apoio da família. Seu irmão, Wladyslaw, e a esposa, Angelina, a apoiaram nestes tempos difíceis. Ela também recebeu apoio de pessoas pelas redes sociais. Hoje, Ruslana tem mais de 37 mil seguidores no Instagram.
“Lembro-me da primeira cirurgia em Odessa, quando as pessoas ouviram falar da minha história”, diz Ruslana. “Depois, quando fui levada para a enfermaria, não tive tempo de pensar na perna e na dor porque estava constantemente ao telefone. Muitas pessoas me escreviam, e ainda escrevem.”
Dor fantasma
A determinação de Ruslana em seguir em frente com sua vida, apesar de ter perdido uma perna, fez dela um símbolo de poder e de força aos olhos de muitos. Mas aceitar a perda levou tempo.
“Não sei em que dia exatamente aceitei essa nova realidade”, diz. “No começo, achava já ter me acostumado. Mas quando saí para passear e voltei para a enfermaria, pensei: isso não pode estar acontecendo.”
“Lembro-me de estar na rua três ou quatro semanas após a amputação quando meu irmão tirou uma foto minha. Eu olhei para a imagem e me vi com apenas uma perna. Acho que ainda não tinha entendido completamente o que aconteceu.”
Ruslana diz se sentir muito melhor agora, tanto física quanto emocionalmente. No entanto, dois meses após o incidente, ela ainda sofria de dores fantasmas. “Parei de tomar analgésicos intramusculares há muito tempo, foi uma vontade minha”, relembra.
“Eu queria sentir minha perna como ela era e, claro, a princípio, a dor voltou, embora tenha diminuído com o tempo”, acrescenta. “Meu psicólogo me explicou como fazer meu cérebro entender que minha perna se foi. Isso porque o cérebro se lembra da perna antes da lesão e continua enviando impulsos. É por isso que sentimos dor.”
Atualmente Ruslana toma calmantes. Até recentemente, ela ainda sofria de ataques de pânico, mas a medicação e a psicoterapia regular estão ajudando na recuperação.
O sonho de voltar a patinar no gelo
Ruslana passou por cinco cirurgias até agora. Ela está em um hospital especial e se prepara para receber uma perna protética. Todos os dias, tem a perna medida para determinar se sua circunferência ainda está diminuindo. Esse acompanhamento é importante para selecionar e ajustar a futura prótese. Além disso, em breve, Ruslana começará a fisioterapia para reconstruir os músculos que atrofiaram nos últimos dois meses.
Graças a doações, a jovem receberá uma prótese moderna fabricada na Alemanha. Assim que ela se ajustar à perna protética, quer ir atrás de seus sonhos, entre eles o de voltar a patinar no gelo. “Eu também sonho em ter uma bicicleta”, diz. “Ter perdido uma perna não quer dizer que eu não possa viver meus sonhos.”
Ruslana quer motivar outras pessoas que também foram feridas na guerra a não perderem a fé. “Quero mostrar às pessoas que tudo é possível e que você não precisa ficar sentado e se esconder. É assustador e dói quando você passa por algo sério como isso, mas a vida continua.”