Internacional
Guterres cita “consumo vampírico” que está esgotando água no mundo
Chefe da ONU falou na abertura da Conferência da ONU sobre Água, nesta quarta-feira, destacando que 75% dos desastres naturais estão relacionados à água; já presidente da Assembleia Geral quer políticas integradas para o “bem comum global”
A ONU abriu a Conferência da ONU sobre Água coincidindo com o Dia Mundial da Água, neste 22 de março.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou no evento, que vai até sexta-feira, lembrando que o fornecimento de água, vital para a humanidade, está ameaçado.
Crianças lavam as mãos em um sistema de água instalado em sua escola primária no nordeste de Uganda.
“Consumo vampírico e uso insustentável”
Para Guterres, o recurso está sendo drenado pelo “consumo excessivo vampírico e uso insustentável”, além dos riscos que sofre em decorrência do aquecimento global.
Ao ressaltar que o ciclo d’água foi quebrado, ecossistemas destruídos e lençóis freáticos contaminados, ele alertou que quase três em cada quatro desastres naturais estão ligados à água.
Guterres citou dados sobre pelo menos 500 milhões de pessoas defecando a céu aberto e milhões de meninas e mulheres caminhando por horas para conseguir água potável todos os dias.
Na avaliação do secretário-geral da ONU, há quatro áreas que devem ser priorizadas para acelerar os resultados e mudar o cenário atual.
Gerenciamento de água
Primeiro, a lacuna na gestão da água. Para ele, os governos devem desenvolver e implementar planos para garantir o acesso equitativo ao recurso.
Em seguida, o chefe da ONU pede o investimento massivo em sistemas de água e saneamento com base no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de número 6, que prevê estímulos, reformas e financiamento.
Guterres adiciona que ação climática e a sustentabilidade da água no futuro são “dois lados da mesma moeda”. Citando o Pacto de Solidariedade pelo Clima, sugerido na reunião do G20, ele lembrou que os países emissores devem agir, bem como as nações mais ricas devem mobilizar recursos para apoiar economias emergentes.
Uma jovem no Zimbábue bebe água limpa e segura de um poço reabilitado com o apoio da ONU.
Políticas integradas para evitar crise
Já para o presidente da Assembleia Geral, Csaba Korosi, a água é um bem comum global que precisa de políticas públicas e legislação, bem como financiamento para tratar a questão.
Para ele, é preciso haver um acordo sobre o gerenciamento da água e formulação de políticas integradas de uso da terra, água e clima que ajudem no progresso de ações de mitigação e adaptação climática.
Korosi disse que as autoridades devem se comprometer em garantir o acesso à água potável e saneamento a todos, como um direito humano e uma questão de dignidade.
Oportunidade para garantir água, saneamento e higiene
Em paralelo ao evento, a Organização Mundial da Saúde, OMS, e o Fundo da ONU para Infância, Unicef, reagiram aos dados divulgados nesta terça-feira sobre acesso à água potável e serviços de saneamento.
As entidades alertam que anualmente, pelo menos 1,4 milhão de pessoas, muitas delas crianças, morrem de doenças preveníveis causadas pela baixa qualidade da água e higiene.
OMS e Unicef explicam que as consequências sociais e econômicas de serviços inadequados de água e saneamento também são preocupantes: pessoas adoecem, crianças ficam fora da escola, especialmente as meninas, e comunidades inteiras podem ser deslocadas pela escassez de água.
As agências da ONU querem mais ação das autoridades para fortalecer os sistemas de saneamento e desenvolver formas de financiar políticas públicas nesta área.
Água: bem comum e não uma commodity
Em nota, relatores de direitos humanos* da ONU destacam que a água é “um bem comum e não uma commodity”. A mensagem lembra que o recurso é um direito e deve ser gerenciado desta forma, sem que um viés mercadológico dificulte ou impeça o acesso equitativo.
Eles adicionam que a Conferência da Água da ONU é uma oportunidade para ouvir e se envolver com os defensores dos direitos humanos, especialmente os especialistas desta questão.
Os relatores defendem que em vez de restringir a liberdade de expressão e associação dos defensores, e até mesmo criminalizá-los, é hora de garantir mais participação, especialmente para mulheres e jovens, em todas as discussões, bem como a governança da água mecanismos nos níveis internacional, nacional e local.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.