Saúde
Antidepressivos receitados para dor crônica não têm evidências de eficácia ou segurança
Cientistas alertam que antidepressivos usados para dor crônica carecem de evidências de eficácia e não se conhece os efeitos colaterais.
Efeitos e danos desconhecidos
A maioria dos antidepressivos receitados para dor crônica está sendo prescrita sem evidências suficientes de que sejam eficazes para esse uso, alertam cientistas.
Uma grande investigação sobre medicamentos usados para controlar a dor a longo prazo descobriu que os danos colaterais causados por muitos dos medicamentos comumente recomendados nunca foram adequadamente estudados – por exemplo, antidepressivos podem causar dependência e sintomas de abstinência.
E o problema não é pequeno: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, até um terço das pessoas em todo o mundo vive com dor crônica de algum tipo, com muitos antidepressivos sendo normalmente prescritos para aliviar esses sintomas.
Antidepressivos para dor crônica
Uma revisão da Cochrane, liderada por cientistas de várias universidades do Reino Unido, examinou 176 estudos científicos envolvendo quase 30.000 pacientes que participaram de avaliações depois de tomarem antidepressivos, não para depressão, mas para dor crônica.
Entre as drogas estudadas estavam amitriptilina, fluoxetina, citalopram, paroxetina, sertralina e duloxetina – sendo que apenas a última apresentou evidências confiáveis para o alívio da dor.
“Esta é uma preocupação global de saúde pública. A dor crônica é um problema para milhões de pessoas que recebem prescrição de antidepressivos sem comprovação científica suficiente de que ajudam, nem uma compreensão do impacto a longo prazo na saúde.
“Nossa revisão não encontrou nenhuma evidência confiável para a eficácia a longo prazo de qualquer antidepressivo, e nenhuma evidência confiável para sua segurança para a dor crônica em qualquer avaliação. Embora tenhamos descoberto que a duloxetina forneceu alívio da dor a curto prazo para os pacientes que estudamos, continuamos preocupados com seus possíveis danos a longo prazo devido às lacunas nas evidências atuais,” disse o professor Tamar Pincus, da Universidade de Southampton.
Estudos científicos mal feitos
A equipe avaliou os ensaios clínicos usando um método estatístico que permite combinar dados de estudos relevantes para estimar os efeitos de diferentes medicamentos que não foram comparados diretamente nos ensaios individuais.
Outros resultados relevantes mostraram que as doses padrão de duloxetina são tão eficazes para reduzir a dor quanto doses maiores, e que o milnaciprano também foi eficaz na redução da dor, mas os cientistas não estão tão confiantes quanto a duloxetina devido a menos estudos com menos pessoas.
“Simplesmente não podemos falar sobre outros antidepressivos porque não há estudos suficientemente bons disponíveis – mas isso não significa que as pessoas devam parar de tomar a medicação prescrita sem consultar seu médico de família,” disse Pincus.
“Estamos pedindo aos órgãos governamentais de saúde que atualizem suas diretrizes para refletir as novas evidências científicas, e aos financiadores que parem de apoiar ensaios pequenos e falhos. A síntese de evidências geralmente é complexa e sutil, mas as evidências que sustentam o uso desses tratamentos não é equivalente, então as modalidades atuais de tratamento são difíceis de justificar,” complementou o Dr. Gavin Stewart, da Universidade de Newcastle.