Saúde
Por que perdemos gordura e músculos quando temos uma infecção?
Parasita Trypanosoma brucei (azul escuro) entre células sanguíneas de camundongos (azul claro e branco).
Emaciação
Embora as infecções possam apresentar muitos sintomas diferentes, um sintoma comum é a perda de gorduras e músculos, um processo chamado emaciação, ou emaciamento.
A equipe da professora Janelle Ayres, do Instituto Salk, nos EUA, queria esclarecer se essa perda de peso seria de alguma forma benéfica para o combate a essas infecções.
O que a equipe descobriu é que essa resposta de perda de massa em reação à infecção por Trypanosoma brucei em camundongos ocorre em duas fases, cada uma regulada por diferentes células imunológicas: Embora a perda de gordura não tenha beneficiado a luta contra a infecção, a perda muscular sim.
Esta é uma descoberta marcante porque pode ser a primeira vez que se observa um processo de perda aparente para o organismo ajudando a controlar doenças, o que poderá ajudar no desenvolvimento de terapêuticas mais eficazes que poupem as pessoas de definhamento físico, além de aumentar nossa compreensão de como essas perdas influenciam a sobrevivência e a morbidade em infecções, cânceres, doenças crônicas e muito mais.
“Muitas vezes fazemos suposições de que condições como a perda de peso são ruins, uma vez que muitas vezes coincidem com taxas de mortalidade mais altas,” comentou a professora Janelle. “Mas se, em vez disso, perguntarmos, ‘Qual é o propósito da perda?’, podemos encontrar respostas surpreendentes e perspicazes que podem nos ajudar a entender a resposta humana à infecção e como podemos otimizar essa resposta”.
Células T
Defender o corpo de um invasor requer muita energia. Estudos anteriores sugeriram que esse consumo de energia relacionado ao sistema imunológico tem essa infeliz consequência da emaciação. Mas restava a hipótese de que esse processo poderia ser de algum modo benéfico, e não apenas um efeito colateral danoso.
Células imunológicas especializadas, chamadas células T, demoram a responder a infecções. Mas, quando respondem, elas se adaptam para combater cada infecção em particular. O interesse primário da equipe era saber se eram essas células T que causavam a perda de massas muscular e gordurosa. Se as células T são responsáveis pela condição, isso indicaria que a perda não é simplesmente um efeito colateral improdutivo de células imunológicas famintas por energia.
As células de interesse são chamadas de células T CD4+ e CD8+. As células T CD4+ lideram a luta contra a infecção e podem promover a atividade das células T CD8+, que podem matar invasores e células cancerígenas. Os dois tipos de células T geralmente trabalham juntos, então os pesquisadores levantaram a hipótese de que seu papel na perda também pode ser um esforço cooperativo.
Processos independentes
A equipe descobriu que as células T CD4+ agiram primeiro e iniciaram o processo de perda de gordura. Posteriormente, mas completamente independente da perda de gordura, as células T CD8+ iniciaram o processo de perda de massa muscular. A perda de gordura induzida pelas células T CD4+ não teve impacto na capacidade dos camundongos de lutar contra a bactéria ou de sobreviver à infecção.
A perda muscular induzida pelas células T CD8+, no entanto, ao contrário das suposições tradicionais sobre a emaciação, ajudou os camundongos a combater a T. brucei e sobreviver à infecção.
“Nossas descobertas foram tão surpreendentes que houve momentos em que me perguntei se fizéramos algo errado,” disse o pesquisador Samuel Redford. “Tivemos resultados impressionantes de que camundongos com sistema imunológico em pleno funcionamento e camundongos sem células T CD4+ viveram a mesma quantidade de tempo – o que significa que essas células T CD4+ e a perda de gordura causada por elas eram completamente descartáveis no combate ao parasita. Além disso, descobrimos que os subtipos de células T normalmente cooperativos estavam funcionando de forma totalmente independente uns dos outros”.
A equipe planeja agora estudar o mecanismo das células T em outros mamíferos e, eventualmente, em humanos. Eles também querem explorar com mais detalhes por que a perda de massa muscular está ocorrendo e por que as células T CD4+ e CD8+ desempenham esses papéis distintos.