Educação & Cultura
3 tipos de práticas com crianças que são oportunidades de aprendizagem
Na Educação Infantil, é possível proporcionar aprendizagens em práticas da vida diária, sem desrespeitar a autonomia dos pequenos
Olá queridos professores e professoras! Neste mês de agosto, algumas datas como o Dia da Infância (24) e o Dia Nacional da Educação Infantil (25) pautam a discussão sobre como a sociedade enxerga as diferentes infâncias e o lugar dessa etapa de ensino na contribuição para o pleno desenvolvimento das crianças – para além dos aspectos cognitivos – na garantia de direitos básicos e compromisso do estado de fomento de políticas públicas que atendam suas especificidades.
Nessa conversa, gostaria de trazer as oportunidades de aprendizagem com as práticas de vida diária e os conhecimentos que envolvem os momentos da alimentação, higiene e repouso dentro do espaço escolar, como respeito à infância e, também, inspiração para os demais contextos que precisam, continuamente, apresentar reflexões sobre o lugar da criança na sociedade.
Práticas de alimentação com crianças
Uma situação muito discutida é a pouca aceitação das crianças dos alimentos do cardápio da escola quando envolve alimentos integrais, frutas, legumes e verduras. Sabemos que essa questão relaciona-se com uma grande fragilidade social: a garantia de acesso a alimentos de qualidade. Por razões econômicas, culturais e sociais, as escolhas da família comumente priorizam alimentos ultraprocessados.
A escola, nesse sentido, tem papel ainda mais fundamental de oportunizar a construção de hábitos alimentares mais saudáveis pelo simples fato de garantir uma alimentação adequada àqueles que não a têm e oferecer outras referências alimentares quando as famílias possuem outras escolhas.
Além disso, existem práticas que envolvem a participação das crianças no preparo dos alimentos (ajudar a higienizar a salada, cortar e descascar os frutos com o apoio do adulto, experimentar receitas de bolos, pães, entre outros), contextualizados com a convivência nesse ambiente coletivo; participação no cultivo de hortaliças em situações de pesquisa e experimentação em espaços como hortas escolares; a oportunidade da criança fazer escolhas ao se servirem num buffet ou mesa na altura delas, com utensílios que as permitam se servirem com progressiva independência; ou quando as mesas estão dispostas de modo que possam transitar pelo espaço, interagir com os colegas de seu grupo etário e também de outras turmas.
Como resultado imediato dessas práticas, temos a melhoria da aceitação e desenvolvimento das crianças, tanto típicas quanto aquelas com deficiência – que costumam chegar até nós com seu potencial comprometido por condutas protecionistas e disfuncionais. Mais do que alimentar-se bem, as crianças aprendem a fazer escolhas de vida, a valorizar a natureza e as interações de qualidade. Você já refletiu sobre o que a sociedade como todo está fazendo nesse sentido?
Práticas de higiene na Educação Infantil
Entre as aprendizagens fundamentais da infância está o fato de os bebês e crianças bem pequenas se perceberem como seres com características próprias em situações cotidianas de autocuidado.
Esses momentos contribuem com o desenvolvimento da autoestima, por meio de condutas que levam ao bem-estar dos pequenos. Nesse sentido, é preciso romper as tendências de fazer tudo pela criança ou, ainda, de fazer da criança um meio de cumprimento da rotina, sem garantir o mais essencial: a atuação sobre seu corpo.
O ato de indicar ao bebê a necessidade de limpeza do nariz e à criança pequena o suporte para que execute tal ação, com progressiva autonomia, revela um respeito palpável e capaz de ser sentido pelas crianças.
Práticas de repouso e oportunidades de aprendizagem
Sobre esse ponto, quero compartilhar uma vivência recente. Uma professora comentou comigo que várias crianças que ficam no horário integral não estavam querendo dormir e nem mesmo descansar. Como consequência, ficavam muito estressadas do meio da tarde em diante.
Discutimos sobre o direito de escolha que as crianças têm e que, portanto, era preciso organizar o espaço para atender ao interesse delas em situações calmas e relaxantes e apresentá-lo como uma possibilidade de conciliar as atividades com descanso. Conversamos que, como estratégia, valeria levar a temática para a roda de conversa, escutando as crianças, além de levar para elas evidências da importância do descanso, fazendo-as perceber seus próprios comportamentos e que reações físicas acontecem para além dos impactos na nossa atividade cerebral.
Após essa conversa, as crianças perceberam que o ato de repouso não era por vontade da professora e que impacta diretamente no bem-estar delas. Essa situação reforça a capacidade que as crianças têm de compreensão e que as ações precisam ser construídas com elas, para que se reconheçam naquele espaço. Esse caso demonstra as práticas sociais de inserir as crianças nos combinados, que muitas vezes são estabelecidos sem a oportunidade de reflexão e compreensão das mesmas.
Esses exemplos trazidos dentro do cotidiano de atividades da vida diária realizadas na Educação Infantil comunicam diretamente às crianças o que elas são capazes e que valorizamos os seus saberes e seu potencial, enquanto as inserem nas práticas sociais básicas para uma convivência sadia no coletivo. E, principalmente, contribuem para o autocuidado ao incentivar que as crianças façam boas escolhas, reconheçam seus gostos, preferências e desenvolvam habilidades para se comunicarem com aqueles que as cercam com o mesmo respeito que lhes é destinado.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.