Internacional
Ataques na Páscoa: por que a data é tão letal para cristãos perseguidos?
Entenda por que celebrar a morte e a ressurreição de Cristo pode ser perigoso para os cristãos perseguidos e seja Um Com Eles
A celebração da Páscoa teve início na libertação do povo de Israel do Egito. Esse foi um decreto de Deus de uma comemoração que serviria como memorial para todo o povo. Com a vinda de Cristo, a Páscoa deixou de ser apenas uma celebração judaica e ganhou um novo significado, representando agora a nossa libertação do pecado por meio da morte de Jesus na cruz e sua ressurreição. Porém, pela data estar carregada de tamanho significado para os cristãos, enquanto a igreja livre celebra, a Igreja Perseguida está sob ameaça de ataque nos países onde há perseguição por conta da fé em Cristo.
Nos últimos anos, houve diversos exemplos disso. O mais recente foi o ataque a uma igreja em Makassar, Sulawesi do Sul, na Indonésia, em 2021. O incidente aconteceu depois do segundo culto no período da manhã, quando dois homens-bomba se detonaram após passarem pela entrada lateral da igreja. Ambos morreram no local, sendo possível que um deles fosse uma mulher, devido a um véu encontrado no local.
A polícia afirmou que os suspeitos de causar a explosão eram da rede terrorista Jamaah Ansharut Daulah. Outros quatro suspeitos foram presos por estarem envolvidos no ataque. Nenhum dos membros da igreja morreu, mas 20 pessoas ficaram feridas. Grande parte teve queimaduras nas mãos, pés e costas, recebendo tratamento em diversos hospitais na cidade.
Um colaborador da Portas Abertas no Sudeste Asiático, Sam (pseudônimo), explica que além de alguns cristãos se ferirem gravemente, todos os presentes ficaram traumatizados. Ele conclui: “Suas vidas nunca mais serão as mesmas”.
Qual foi o ataque mais letal aos cristãos?
O maior ataque de Páscoa a cristãos ocorreu no dia 21 de abril de 2019, no Sri Lanka, quando 259 pessoas morreram e 500 ficaram feridas. O ataque foi coordenado em três igrejas e três hotéis onde a data era celebrada. O grupo extremista Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo atentado que foi causado por sete homens-bomba. Além da ajuda prática para as famílias atingidas pelas explosões, a Portas Abertas, por meio de seus colaboradores, acompanhou, visitou, orou e enviou cartões de encorajamento.
Isso porque cristãos que vivenciam ataques violentos são marcados pelo resto da vida. Mas, surpreendentemente, essa experiência pode transformar de maneira positiva sua forma de viver. Verl é uma prova disso. Ele perdeu um terço da família e fala sobre quão bom Deus ainda é: “Perder alguém machuca. Mas eles não foram mortos, foram semeados, afinal o sangue dos mártires é a semente da igreja. Meu filho, irmã e cunhado morreram, mas serão ressuscitados com Jesus naquele dia. Deus é bom. Deus é grande. Meu filho foi meu por 13 anos, mas ele é do Senhor para sempre”. Verl afirma que dedicará a vida ao ministério, afinal, completa: “Eu sou um zero. Jesus é tudo”.
Entre as histórias compartilhadas por familiares das vítimas e sobreviventes do atentado, também é possível identificar a disposição em continuar compartilhando o evangelho com aqueles que ainda não conhecem a Cristo, incluindo os seguidores do islã, religião dos extremistas responsáveis pelos ataques. Muitos dos que morreram pareciam estar preparados e dispostos a entregar completamente suas vidas a Cristo. Isso é percebido na fala dos familiares.
Esse é o caso de Prashant. Sua esposa, Girija, era uma cristã dedicada. Ele, ao contrário, sempre ficava em casa e, apesar dos convites da esposa, sempre dizia que iria à igreja algum dia. Um dia antes do ataque, eles celebraram o aniversário de um dos filhos. “De repente, minha esposa começou a dançar. Eu perguntei por que ela estava agindo como louca. Ela riu e respondeu: ‘Eu não sei. Talvez eu esteja morrendo’.” No dia seguinte, Girija sofreu ferimentos graves na explosão. Ela morreu uma semana depois, deixando os quatro filhos aos cuidados de Prashant.
Apesar de sua morte, o legado espiritual de Girija continua na família. Ela costumava ler a Bíblia todos os dias para a família. Agora, a filha, Dukashini, realiza a leitura. Além disso, agora Prashant não apenas ouve, mas acredita. Ele frequenta a igreja regularmente, uma resposta às orações de Girija. Ele prometeu para a esposa que algum dia iria, mas o “algum dia” chegou antes do que ele imaginara. “Foi o desejo final dela. Mas quando estou na igreja, dói quando lembro que perdi a oportunidade de adorar ao Senhor juntos, como família.”
Além da dor da perda, familiares como Prashant precisam lidar com os desafios de não ter mais os entes queridos. Como pai, ele agora precisa criar sozinho quatro filhos com idades entre três e 16 anos. Por isso, além do suporte emocional e espiritual, a Portas Abertas deu a ele um tuktuk, um pequeno táxi de três rodas. Levar pessoas pela cidade garante a ele uma forma de prover para sua família, enquanto também permite que tenha uma agenda de trabalho flexível para passar tempo com os filhos.
As famílias afetadas pelos ataques também receberam da Portas Abertas caixas de cuidado, contendo materiais de arte, geleias, biscoitos, objetos diversos, cartões de encorajamento e uma cópia do livro Permanecendo Firme Através da Tempestade na língua local. Outros cristãos, além de Prashant, receberam motocicletas, após terem perdido as suas na explosão. Diz-se que a luz brilha mais clara onde a escuridão é mais profunda. Isso, com certeza é verdade no Sri Lanka. “Nós temos visto a família de Cristo unida para chorar, confortar e ajudar. Nenhum cristão perseguido deve se sentir sozinho. Vamos continuar ao lado deles o quanto precisarem”, declarou Sunil, um colaborador da Portas Abertas que acompanhou as famílias envolvidas nos ataques.
Ataques de diferentes tipos, intensidades e proporções
Também em 2019, na Nigéria, um oficial muçulmano matou 13 pessoas que participaram de uma passeata de Páscoa em Sabon Layi, no estado de Gombe, Nordeste do país. O relato é de que o oficial, acompanhado de um policial nigeriano, discutiu com um grupo de rapazes cristãos, discordando do controle de trânsito que faziam. Bastante nervoso, o oficial desligou os faróis do veículo e acelerou contra o grupo de cristãos. A autoridade, instantaneamente, matou nove e feriu 32 pessoas, 12 delas gravemente. Entre os feridos levados ao hospital, quatro pessoas morreram, elevando o número de mortes para 13.
Em 2018, Índia, Paquistão e Egito foram abalados por ataques na época da Páscoa. Na Índia, incidentes foram relatados por todo o país durante o final de semana da Páscoa. No sábado, um pastor foi atacado do lado de fora de sua igreja no estado de Tamil Nadu. Sundar Singh conduzia um culto de oração em sua igreja na cidade de Dharmapuri quando um grupo de homens e mulheres começou a vandalizar motocicletas do lado de fora. Quando Singh saiu para ver o que estava acontecendo, eles atiraram pedras nele. O pastor foi ferido e teve que ser levado ao hospital.
Os responsáveis pelo ataque mais tarde fizeram uma reclamação contra ele, o acusando de mal comportamento com as mulheres. Então, no domingo, outro ataque a uma igreja ocorreu na vila de Maradur. Foi relatado que mais de 40 pessoas entraram na igreja enquanto o culto estava acontecendo e começaram a atacar as pessoas, inclusive o pastor. Quando a polícia chegou, não fez nada para interromper o ataque.
No mesmo ano, duas semanas antes da Páscoa no Paquistão, um incidente ocorreu em uma colônia cristã em Burewala, na província de Punjab. A polícia interveio e prendeu três muçulmanos suspeitos, enquanto sete cristãos foram feridos e levados ao hospital local. O pastor da igreja, Haleem Masih, explicou que enquanto conduzia o culto, um grupo de homens, que incluía um oficial do governo, equipado com armas de fogo, invadiu a igreja.
No Egito, as comemorações foram marcadas pelo desaparecimento de ao menos sete meninas e mulheres cristãs. Em cada um dos casos, a família da vítima diz que o sequestro foi realizado por um muçulmano que queria converter a pessoa à força ou se casar com ela. Todos os desaparecimentos foram reportados à polícia, mas as famílias alegam que sempre foram tratadas com indiferença. Algumas famílias chegam a dizer que membros da polícia estavam envolvidos nos desaparecimentos.
Ataques a igrejas e fora delas
Em 2017, 49 cristãos foram mortos e mais de 110 ficaram feridos no Egito no bombardeio a duas igrejas no domingo antes da Páscoa. O líder copta, Sergius, declarou: “A igreja celebrará a Páscoa e o terrorismo não pode nos impedir de fazer isso. Não deixaremos acabarem com nossa alegria”. Abanoub Gamal, membro da igreja atacada em Tanta, contou: “Eu estava perto da porta da igreja. Era cerca de 9h quando percebi um homem vestindo uma jaqueta marrom entrar na igreja e andar entre os bancos até a frente. Ele ficou em frente ao altar e então se explodiu”.
Já na igreja de Alexandria, testemunhas disseram que o homem-bomba tentou entrar, mas Mina Makram, membro da congregação, disse que um dos guardas da igreja, chamado Nasim, “o impediu, prevenindo-o de entrar, e pedindo para passar pelo detector de metal primeiro. O homem entrou no detector rapidamente, então deu um passo atrás e explodiu o colete suicida que estava usando por baixo da jaqueta”. Três policiais também perderam suas vidas evitando que o homem entrasse na igreja. O grupo Estado Islâmico alegou a responsabilidade pelo ataque.
Ainda em 2017, um cristão no Nepal, Santosh Khadka, estava voltando para casa do culto de Páscoa quando foi baleado. Dois dias depois, homens não identificados incendiaram dois veículos de uma das maiores igrejas no país. Atos como esse são vistos como uma forma de proteção ao hinduísmo, a religião majoritária no país, o que torna a minoria cristã vulnerável.
Em 2016, novamente no Paquistão, uma bomba foi explodida no meio de um parque popular em Lahore, no domingo de Páscoa. A explosão matou pelo menos 74 pessoas e mais de 300 ficaram feridas. Esse foi o ataque terrorista mais mortal na história de Punjab, o estado paquistanês mais populoso e cristão.
2015: um ano de perdas
Quase um ano antes, em 15 de março de 2015, homens-bomba invadiram uma igreja em Youhanabad e, quase simultaneamente, outra igreja próxima, matando 17 pessoas no total. O número de mortos teria sido muito maior se voluntários da igreja não tivessem agido rapidamente para defender os cristãos. Ataques no país também ocorreram na Páscoa em 2014, um massacre que matou 134 crianças em idade escolar, e em 2013, quando um homem-bomba se matou do lado de fora de uma igreja de 130 anos após a celebração da Páscoa, matando 78 pessoas.
Em 2015, na Sexta-feira Santa, 147 estudantes cristãos da Universidade de Garissa, foram mortos por militantes islâmicos do grupo Al-Shabaab no ataque mais mortal já ocorrido em solo queniano. A universidade tinha cerca de 800 alunos, desses, mais de 500 eram não muçulmanos. Cerca de 250 estudantes participavam dos encontros da União Cristã, que reunia os alunos para adoração, estudo da Bíblia e desenvolvimento de liderança. No ataque, muçulmanos foram poupados, mas todos os cristãos presentes no encontro de oração matinal e outros escondidos em seus quartos foram mortos.
No mesmo dia, na Síria, a partir das 22h até o sábado pela manhã, mais de 40 mísseis atingiram uma área residencial cristã. As famílias estavam ansiosas para celebrar o domingo de Páscoa com os filhos, saudando uns aos outros dizendo que Cristo tinha ressuscitado. Porém, os mísseis atingiram prédios e mais de quatro deles desmoronaram completamente. Mais de 20 pessoas morreram, a maioria delas crianças e suas mães enquanto dormiam. O número de feridos foi mais de 60. As mesmas pessoas que dias antes celebravam e relembravam seu Senhor sendo crucificado, agora morriam ou passavam por sua “crucificação” pelas mãos dos rebeldes.
Quando um membro sofre, todos sofrem
Nossa esperança é que, como escrito em Efésios 2, por estarmos em Cristo, Deus nos salve por meio de sua graça e nos permita participar de sua ressurreição, o que nos tornará um só corpo. Ao sabermos disso e o que nossos irmãos enfrentam em todo o mundo, precisamos colocar em prática o que Paulo nos ensina em 1Coríntios 12.26, que quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele. Somos encorajados pelos testemunhos dos sobreviventes e familiares das vítimas de ataques ocorridos no mês da Páscoa. Essas histórias nos motivam a continuar depositando nossa plena confiança em Deus, que é nosso refúgio e auxílio em meio às adversidades.
Além disso, da mesma forma que recebemos consolo, devemos aliviar aqueles que estão em tribulações. Mas como fazer isso? João nos explica em 1João 3.16 que Cristo deu a vida por nós e devemos fazer o mesmo por nossos irmãos. Que ao saber o que o corpo de Cristo enfrenta durante o mês da Páscoa, você promova um grande impacto e ajude aqueles que seguem a Jesus custe o que custar.