Internacional
Magnata é condenada à morte no Vietnã por golpe bilionário
Uma das mulheres mais ricas do país, Truong My Lan foi acusada de desviar bilhões em empréstimos fraudulentos. Processo, que sentenciou outras 85 pessoas, faz parte de cruzada anticorrupção do Partido Comunista
Principal acusada no maior caso de fraude financeira da história recente do Vietnã, a magnata do ramo imobiliário Truong My Lan, de 67 anos, foi sentenciada à morte nesta quinta-feira (11/04) por dar um golpe bancário de 12,5 bilhões de dólares (R$ 63,6 bilhões) – o equivalente a 3% do PIB do país em 2022.
O julgamento em uma corte de Ho Chi Minh, que resultou na condenação de outras 85 pessoas – quatro delas à prisão perpétua –, faz parte de uma cruzada anticorrupção do Partido Comunista, que governa o país desde 1975.
Segundo a investigação, Lan usou testas de ferro e funcionários para assumir 91% do Saigon Commercial Bank (SCB), instituição onde ela, oficialmente, não ocupava qualquer cargo e detinha apenas 4% das ações. Entre 2012 e 2022, a empresária teria desviado grandes somas de dinheiro mediante empréstimos para empresas de fachada. As ações eram encobertas mediante pagamento de propina.
Segundo o Ministério Público, Lan fez 2,5 mil empréstimos que geraram perdas de 27 bilhões de dólares ao banco (R$ 137,3 bilhões).
À empresária são atribuídos os crimes de suborno, violação de regulamentos bancários e apropriação indébita mediante uma rede criminosa.
O tribunal justificou a sentença de morte diante da gravidade da fraude, alegando a impossibilidade de recuperar os prejuízos gerados, e pedindo que o banco seja ressarcido em 26,9 milhões de dólares (R$ 136,8 bilhões). Para os juízes, o caso abala “a confiança das pessoas na liderança do partido e no Estado”.
A defesa de Lan nega as acusações e anunciou que recorrerá da decisão. Se a sentença for confirmada nas próximas instâncias, ela pode ser uma das poucas mulheres a pagar com a vida por um crime de colarinho branco.
Na lista de condenados estão um ex-funcionário do Banco Central, Do Thi Nhan, sentenciado à prisão perpétua por aceitar um suborno de 5,2 milhões de dólares (R$ 26,4 milhões), e uma sobrinha e o marido da empresária, o bilionário chinês Eric Chu Nap Kee, sentenciados a 17 e 9 anos de prisão, respectivamente.
Campanha anticorrupção
Lan, que fez fortuna no setor imobiliário, teve centenas de propriedades apreendidas pelas autoridades. Ela foi presa em outubro de 2022, em meio a uma cruzada anticorrupção no Vietnã que tem se intensificado desde então e resultou na denúncia de mais de 4,4 mil pessoas e na renúncia, em março deste ano, do ex-presidente Vo Van Thuong.
O julgamento de Lan foi amplamente coberto pela imprensa vietnamita, que é rigorosamente censurada pelas autoridades, indicando que pretendem divulgar o caso para servir de exemplo.
A magnitude da fraude impressionou observadores, que questionam se outros bancos e instituições podem ter cometido erros similares aos do Saigon Commercial Bank, e abalou o ramo imobiliário.