Internacional
Haiti vive pior crise humanitária desde terremoto de 2010
Diretor do PMA, Carl Skau, destaca grave crise humanitária no após visita ao país caribenho; insegurança alimentar afeta metade da população; apesar dos esforços de ajuda, limitações logísticas persistem; Haiti enfrenta problemas econômicos, violência e desastres naturais, exigindo apoio internacional urgente
O diretor executivo adjunto do Programa Mundial de Alimentos, PMA, Carl Skau, afirmou nesta quinta-feira que o Haiti enfrenta a pior crise humanitária desde o terremoto de 2010.
Em coletiva de imprensa na sede da ONU em Nova Iorque, o também diretor de operações da agência deu detalhes sobre sua recente visita ao país e reforçou que metade dos haitianos sofrem com insegurança alimentar.
Crise de segurança
Ele destacou que a crise de segurança no país é a causa principal das demais questões humanitárias. A violência tem gerado deslocamentos e a disfunção econômica, aprofundando a vulnerabilidade da população em toda a região.
Mesmo com as dificuldades, Carl Skau reforçou que o PMA continua a entregar auxílio a cerca de 500 mil pessoas todo os meses, especialmente com refeições e programas de merenda escolar.
Carl Skau, Diretor Executivo Adjunto do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas fala sobre sua visita ao Haiti.
Segundo o representante do PMA, ainda há esforços marítimos e aéreos de diversos parceiros da ONU para abastecer o país com os suprimentos necessários. Ele reforçou a necessidade de apoio para a busca de estabilidade política no Haiti, mas lembrou que a frente humanitária deve continuar sendo abastecida, já que as necessidades da população são grandes.
Segundo Carl Skau, embora as equipes no terreno tenham sido capazes de atuar em diversas partes do país, há limitações orçamentárias e logísticas que desaceleram o progresso da entrega de ajuda. Com o fechamento de portos e aeroportos, a capacidade de entrada segue reduzida.
Renúncia do primeiro-ministro
As Nações Unidas elogiaram oficialmente a instalação do Conselho Presidencial de Transição no Haiti, destacando a urgência da implementação completa dos acordos de governança.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, também mencionou a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry e a nomeação de Michel Patrick Boisvert como primeiro-ministro interino, conforme anunciado no diário oficial.
Dujarric reforçou o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, para o rápido envio da Missão Multinacional de Apoio à Segurança ao Haiti, a fim de fortalecer a segurança em meio à crise. Guterres também solicitou o apoio financeiro e logístico dos Estados-membros para garantir o sucesso da missão.
Choques relacionados ao clima e outros desastres
Segundo o PMA, o Haiti é o país mais pobre da região da América Latina e do Caribe e está entre os menos desenvolvidos do mundo. A fome está se agravando à medida que a insegurança, a violência e o agravamento dos problemas econômicos se combinam com choques relacionados ao clima e outros desastres.
O Haiti tem um dos níveis mais altos de insegurança alimentar do mundo. O número de pessoas com insegurança alimentar triplicou desde 2016. Um total de 4,35 milhões de haitianos, quase metade da população, não tem o suficiente para comer e 1,4 milhão estão enfrentando níveis emergenciais de insegurança alimentar.
A desnutrição aguda global afeta 7,2% das crianças com menos de cinco anos de idade, enquanto 66% das crianças na mesma faixa etária sofrem de anemia.
O desempenho ruim da agricultura e a forte dependência de importações também geram insegurança alimentar. Isso torna o país vulnerável à inflação e à volatilidade dos preços nos mercados internacionais.
Os preços ao consumidor dos principais produtos alimentícios são de 30% a 77% mais altos do que na região da América Latina e do Caribe.
Esses problemas foram agravados por uma série de desastres nas últimas duas décadas, incluindo tempestades, inundações, deslizamentos de terra, secas e terremotos. No Índice de Risco Climático de 2021, o Haiti está em terceiro lugar entre os países mais afetados por eventos climáticos extremos de 2000 a 2019.