Internacional
Gaza: Líder da ONU deplora escalada militar em Rafah
António Guterres afirmou que aumento do confronto no sul do enclave está impedindo ainda mais o acesso humanitário; ele também alertou para disparo “indiscriminado” de mísseis pelo Hamas; Unicef afirma que confronto em Rafah aprofundou o sofrimento de milhares de crianças
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou nesta terça-feira que está consternado com a escalada da atividade militar israelense em Rafah e arredores, no sul de Gaza.
Em mensagem transmitida pelo porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, ele afirmou que as novas ações militares estão a “impedindo ainda mais o acesso humanitário e agravando uma situação já terrível”. Guterres também ressaltou que o Hamas continua “disparando mísseis indiscriminadamente”.
“Pesadelo Implacável” para crianças
Enfatizando que os civis devem ser respeitados e protegidos em todos os momentos, Guterres observou que “para as pessoas em Gaza, nenhum lugar é seguro agora”.
O líder da ONU reiterou seu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato e à libertação de todos os reféns. Ele também apelou à reabertura imediata da passagem de Rafah e ao acesso humanitário desimpedido em toda Gaza.
A diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para o Oriente Médio e Norte de África, afirmou nesta terça-feira que a escalada do confronto em Rafah e em toda Gaza aprofundou o sofrimento de milhares de crianças.
Adele Khodr lembrou que os menores enfrentam um “pesadelo implacável” há 218 dias e que isso não pode ser aceito como um “dano colateral”.
Operações humanitárias ameaçadas
O Unicef ressaltou que na semana passada, começou “uma temida operação militar em Rafah”, deslocando mais de 450 mil pessoas para áreas inseguras como Al-Mawasi e Deir al Balah.
Enquanto isso, bombardeios pesados e operações terrestres se espalharam para o norte de Gaza, deixando um rastro de destruição em áreas como o campo de refugiados de Jabalia e Beit Lahia. Pelo menos 64 mil pessoas foram forçadas a fugir de suas casas destruídas.
Adele Khodr disse que “os civis, já exaustos, desnutridos e enfrentando inúmeros eventos traumáticos”, agora estão enfrentando um aumento de mortes, ferimentos e deslocamentos “nas ruínas de suas comunidades”.
Segundo ela, as próprias operações humanitárias que se tornaram a única salvação para toda a população estão ameaçadas.
Reestabelecimento de hospitais
Os principais hospitais do norte de Gaza, incluindo Kamal Adwan, Al Awda e o Hospital Indonésio, encontram-se no fogo cruzado, o que, segundo o Unicef, interrompe a entrega de suprimentos médicos, colocando inúmeras vidas em risco.
De acordo com ONU Mulheres, mais de 150 mil grávidas e lactantes enfrentam condições sanitárias precárias e riscos para a saúde no enclave.
O Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, informou está trabalhando com parceiros para restaurar os serviços de saúde no Complexo Médico Nasser em Khan Younis, que deverá reabrir nos próximos dias.
O hospital começou a fornecer tratamento de diálise na semana passada a pacientes que já não podem ser tratados no Hospital An Najjar, em Rafah, que deixou de prestar serviços.
Ataques contra a ONU
O Ocha também informou que na segunda-feira, colonos israelenses na Cisjordânia atacaram caminhões de ajuda com destino a Gaza. Segundo a agência, “os colonos descarregaram e vandalizaram os veículos no posto de controle de Tarqumiya, perto da barreira de Beit ‘Awwa”.
No começo da semana houve um novo ataque com fogo contra a sede da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, em Jerusalém Oriental, realizada por crianças e jovens israelenses. O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, afirmou que estes ataques “têm que parar”.
Na noite de quinta-feira passada, Lazzarini disse que residentes israelenses atearam fogo duas vezes no perímetro da sede da Unrwa, quando funcionários de várias agências da ONU estavam no complexo. Não houve vítimas entre o pessoal da ONU, mas o incêndio causou grandes danos nas áreas exteriores.
O chefe da agência disse que durante o incidente da semana passada uma multidão “acompanhada por homens armados” foi vista fora do complexo gritando “incendeiem as Nações Unidas”.