Internacional
Premiê da Eslováquia deve sobreviver, diz ministro
Baleado em atentado, Robert Fico segue em condição estável, mas seu quadro permanece grave, diz governo. Imprensa eslovaca aponta que autor dos disparos é um poeta de 71 anos
O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, segue em condição estável, mas seu quadro de saúde permanece “muito grave”, anunciou nesta quinta-feira (16/05) o vice-primeiro-ministro Robert Kalinak, um dia após o chefe de governo ser baleado em uma tentativa de assassinato.
Os cirurgiões passaram várias horas na sala de operação durante a noite, tentando salvar a vida do político de 59 anos. “Os médicos conseguiram estabilizar o paciente durante a noite”, afirmou Kalinak, que também é ministro da Defesa.
“Infelizmente, o estado de saúde ainda é muito grave porque os ferimentos são complexos”, acrescentou o vice-premiê, durante uma entrevista coletiva diante do hospital Roosvelt de Banska Bystrica, na região central do país.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Tomas Taraba, Fico deve sobreviver. “Tanto quanto sei, a operação correu bem e penso que no final ele irá sobreviver”, disse Taraba, que também ocupa um dos quatro postos de vice-premiê.
A diretora do hospital, Miriam Lapunikova, afirmou que Fico foi submetido a uma cirurgia que se estendeu por cinco horas. Ela confirmou um quadro “realmente grave” e informou que o primeiro-ministro permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Robert Fico foi baleado na tarde de quarta-feira, no início de uma reunião de gabinete em Handlova, a 150 km da capital do país, Bratislava. O atentado provocou comoção no país. O ataque foi a primeira grande tentativa de assassinato de um líder político europeu em mais de 20 anos e também provocou condenação internacional. O último político europeu de envergadura internacional assassinado no continente foi a ministra das Relações Exteriores da Súecia Anna Lindh, em 2003.
O atentado contra Fico foi filmado. Imagens mostram quando um homem saca uma arma e dispara contra o premiê, junto a uma barreira e alguns curiosos que cumprimentavam o político. O agressor disparou cinco vezes na direção do premiê. As filmagens também registraram agentes de segurança retirando Fico, ferido, do chão e o levando para um veículo preto. Ao mesmo tempo, alguns policiais algemavam um homem na calçada. Outros agentes permaneceram imóveis ou pareciam não entender o que havia ocorrido.
Suspeito é ex-segurança e poeta de 71 anos
O vice-premie Kalinak classificou o episódio como um “ataque político” planejado por um “lobo solitário”. “Não foi acidental, mas planejado, porque já houve várias tentativas”, disse Kalinak.
A mídia eslovaca noticiou que o suspeito de tentar matar Fico é um homem de 71 anos, ex-segurança de um shopping center, autor de três coleções de poesias e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores.
“Não tenho a menor ideia do que meu pai estava pensando, o que estava planejando ou a motivação”, disse o filho do suspeito ao site de notícias eslovaco aktuality.sk. Não houve confirmação oficial da identidade e antecedentes do atirador.
Membros do governo afirmam ainda que o agressor não fazia parte de nenhum grupo radical, mas tinha um histórico de participação em protestos contra o governo.
“Ele não é membro de nenhum grupo radicalizado, de direita ou de esquerda, ele é um lobo solitário, cuja atividade se acelerou após as eleições presidenciais”, disse o ministro do Interior do país, Matus Sutaj Estok.
A polícia acusou formalmente o suspeito de “tentativa de assassinato por vingança premeditada”, um crime que pode levar a uma sentença de 25 anos à prisão perpétua.
Polarização
A polarização política e social que existe na Eslováquia desde antes da pandemia de covid-19 aumentou desde o retorno de Fico ao poder em outubro do ano passado, à frente de uma coalizão de nacionalistas de esquerda e de extrema direita.
Como líder do Smer-SD, nominalmente um partido de esquerda, Fico governou a Eslováquia durante grande parte da última década, apesar das acusações regulares de que havia transformado o país em um “estado mafioso”. Depois de sua renúncia após o assassinato do jornalista Jan Kuciak, ele adotou uma roupagem de extrema direita em questões de costumes e na política externa. Fico já havia sido primeiro-ministro de 2006 a 2010 e de 2012 a 2018.
Durante a sua última campanha, se comprometeu a “suspender imediatamente qualquer entrega de ajuda militar à Ucrânia” e disse que não autorizaria a detenção do presidente russo, Vladimir Putin, em obediência a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), se ele alguma vez visitasse à Eslováquia.
De volta ao governo, Fico começou a defender o fim da Promotoria anticorrupção, que investigou membros de seu partido; eliminar um canal de TV pública; e restringir a atuação de ONGs, seguindo o modelo da Rússia. Os planos provocaram protestos em massa no país, incentivados pela oposição progressista.
O atentado ocorreu a três semanas das eleições europeias, nas quais se espera que os partidos populistas e de extrema direita devam aumentar suas representações.