ESTADO
Suspensão da Operação Carro-Pipa ameaça abastecimento em 70 cidades da Paraíba
Nesta segunda-feira (25), cerca de 70 municípios da Paraíba enfrentam uma dura realidade: o fim temporário do fornecimento de água através da Operação Carro-Pipa. O Exército Brasileiro, responsável pela gestão dessa operação, anunciou a paralisação devido à ausência de repasses financeiros do Governo Federal para custear os serviços dos caminhões-pipa, colocando em risco o acesso à água em comunidades que já vivem à margem da sobrevivência.
O comunicado oficial do Primeiro Grupamento de Engenharia do Exército foi direto ao ponto: sem dinheiro, não há como manter a operação. Desde 2017, os cortes no orçamento para a Operação Carro-Pipa têm sido constantes e severos. Em números claros, o programa, que já recebeu quase R$ 1 bilhão naquele ano, viu seu orçamento encolher para apenas R$ 379,8 milhões em 2024. A redução drástica reflete o descaso com as regiões que mais precisam, especialmente em tempos de seca extrema, deixando milhares de famílias em situação desesperadora.
A Federação das Associações de Municípios da Paraíba (FAMUP) reagiu à suspensão com um alerta claro: algo precisa ser feito. O presidente da entidade, George Coelho, afirmou que vai buscar a ajuda da bancada federal paraibana – deputados e senadores – na tentativa de pressionar o Governo Federal a liberar os recursos necessários. “As comunidades rurais já enfrentam dificuldades enormes. Essa paralisação só piora a situação. Precisamos de uma solução imediata para garantir água para quem não tem outra opção”, enfatizou Coelho.
Segundo o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), a continuidade do programa depende de uma liberação de crédito suplementar, que ainda aguarda aprovação. O órgão garantiu que está buscando alternativas para amenizar os impactos da interrupção, mas para as famílias que dependem da água do caminhão-pipa, a espera por respostas pode significar sofrimento.
Criada em 1998, a Operação Carro-Pipa é uma tábua de salvação para muitas comunidades rurais do Nordeste. Apesar disso, ela não é perfeita. Além da constante redução no orçamento, outros desafios, como a desinteresse dos pipeiros em atender localidades mais distantes, tornam o programa ainda mais frágil. Essa soma de problemas escancara a falta de um planejamento estratégico de longo prazo para enfrentar a seca – um problema antigo que insiste em ser tratado como novidade.
Para as comunidades rurais da Paraíba, a suspensão do programa representa muito mais do que a ausência de água. É a negação de um direito básico, a ampliação do êxodo rural e a perpetuação de uma crise que parece não ter fim. Sem soluções rápidas e eficazes, o desespero dessas populações se torna cada vez mais evidente, com famílias inteiras sendo obrigadas a migrar para cidades em busca de condições mínimas de vida. O cenário atual exige respostas rápidas. A continuidade da suspensão é um golpe pesado para comunidades vulneráveis, e a responsabilidade recai diretamente sobre o Governo Federal. Apesar das promessas de buscar soluções, é evidente que a crise hídrica do semiárido brasileiro precisa de mais do que paliativos. O acesso à água não pode depender de remendos orçamentários ou da boa vontade política de gestores públicos.
A suspensão da Operação Carro-Pipa é mais um capítulo de uma história de abandono. A esperança está nas mãos das lideranças locais e federais, que têm o dever de transformar palavras em ações. Resta saber se, desta vez, as comunidades rurais da Paraíba terão suas vozes ouvidas antes que seja tarde demais.